Spirit Photographer Saburo Kono é o sucessor de Neverland? – Review

Spirit Photographer Saburo Kono é um one-shot que foi lançado em 2020. O mangá foi escrito por Kaiu Shirai (Ashley Goeth no Yukue, Poppy’s Wish) e desenhado por Pozuka Demizu (Kirugumi, Poppy’s Wish), também conhecidos como a dupla de Promised Neverland. O one-shot foi publicado na Weekly Shonen Jump e está disponível de forma gratuita (em inglês) no Mangaplus. link

Sinopse: Sota Koganei é um garoto comum, desses que você encontra em qualquer lugar, mas existe algo de peculiar em sua vida, ele é vizinho de um apartamento bizarro. Tão bizarro que é dito que as pessoas não conseguem permanecer três dias morando sem abandonarem o imóvel, mas tudo está prestes a mudar, com a chegada de um novo inquilino…

Uma das coisas mais interessante para mim na publicação desse one-shot é o contexto no qual ele está inserido. Para aqueles que não acompanham a Jump tão de perto, pode parecer apenas uma sucessão lógica do próximo trabalho da dupla de Neverland, mas não é apenas isso.

Spirit Photographer Saburo Kono é mais um dos prenúncios de um tempo de mudança na direção editorial da revista. A composição da Jump atual se encontra com uma enorme instabilidade, se descontar One Piece (por ser eterno) e Hunter x Hunter (por ser errático), o mangá mais velho da revista é Boku no Hero Academia. E mesmo olhando para o resto elenco fixo, temos Dr. Stone, Black Clover e We Never Learn (que já está de saída) como as únicas séries que podem ser consideradas veteranas da publicação.

A finalização de tantos medalhões em sequência (Neverland, Kimetsu e Haikyu) deixou um vácuo gigantesco para novos atores crescerem dentro da revista, isso sem contar a desgraça que caiu sobre Act-Age, um dos prometidos a grandiosidade.

Nesse sentido, acho um tanto interessante como a revista está apostando em séries mais alternativas, seja o investimento pesado em séries de comédia (das quais Mashle parece a mais promissora comercialmente), seja em ideias mais autorais e controversas, como Chainsawman.

E é nessa efervescência que se encontra Spirit Photographer. Me permitindo um olhar mais mercadológico por um instante, a Jump precisa de alguma série para suprir o lugar deixado por Neverland. É ainda mais interessante pensar como a dupla que criou o mangá original pode estar atrasada demais para pegar a própria onda que ela mesma criou.

Se pegarmos os dois “one-shots especiais” que foram propagandeados pelo Mangaplus, temos o já analisado Yugen All-Ghouls Homeroom e agora o Spirit Photographer Saburo Kono. Ambos são séries que estão apostando numa pegada mais de terror com duplas consagradas dentro da revista. Isso sem contar que o Hono Mieru Shounen está correndo por fora e já tem data de estreia marcada. Tempos interessantes para acompanhar o futuro da revista.

Mas nada disso diz respeito ao one-shot em si, então vamos entrar nele, obviamente spoilers daqui pra frente.

Spirit Photographer funciona muito bem como um conto, é um ponto positivo ele não ser um primeiro capítulo disfarçado de one-shot, mesmo que ele venha a se tornar série. E caso isso ocorra, seria interessante ver o mangá seguindo numa linha Mushishi de casos da semana dentro da Jump.

De qualquer forma o roteiro desse mangá é bastante simples. O garoto é nosso ponto de vista e o orelha, enquanto o personagem excêntrico apresenta os conceitos sobrenaturais e escancara a percepção de mundo do garoto. Gosto como a série trabalha bem essa ideia de o garoto que não quer ver, e o quanto isso reflete dele não querer encarar os próprios problemas.

O trabalho visual da Pozuka também está ótimo, dá pra ver bastante do crescimento dela enquanto quadrinista, se compararmos com os one-shots pré-Neverland. Ainda assim é uma pena que a página colorida do capítulo seja uma comemoração pra Neverland e não a abertura do Spirit Photographer.

De toda forma o capítulo todo é feito com ângulos muito fechados, sempre bastante colado no rosto dos personagens, o que causa uma grande sensação claustrofóbica. Algo que faz bastante sentido em uma história de quarto fechado.

A tensão é crescente durante todo o roteiro, até chegarmos na grande catarse da revelação do que aconteceu e do que o garoto esconde. Todo o problema do Sota era um problema de não ouvir o que estava ao seu redor, não ouvir as pessoas que se preocupavam com ele.

Por sofrer bullying no colégio, o garoto decidiu que o melhor a fazer era apenas se fechar na própria casca e esquecer o mundo ao redor. Tudo só piorou ainda mais quando a vizinha que lhe estendeu a mão acaba caindo da sacada tentando impedir o suicídio do garoto.

Quando a série revela esse twist, eu tinha a mais absoluta certeza que o final seria péssimo. Algo nas linhas de uma auto-ajuda barata de “não ouça quem te maltrata, seja forte pelo bem de quem gosta de você”. Felizmente fui surpreendido positivamente quando a conclusão do personagem é trocar de colégio. Foi a escolha certa na ocasião.

Isso não quer dizer que o personagem não poderia escolher enfrentar o bullying, mas sim que com o que nos foi apresentado, não temos contexto de nada do ambiente da escola do Sota, por isso mesmo seria um tanto vazio o crescimento dele se dar com ele enfrentando um problema exterior a história.

Mas, como disse, Spirit Photographer não faz isso, ele mantém tudo interno ao personagem, tal como tudo acontece no interior daquele apartamento. Se o problema do garoto é comunicação e olhar para o lado, a conclusão vai ser ele se abrir para a mãe.

Mas talvez a coisa que eu mais goste é o que ele pega emprestado de Mushishi, que é essa ideia do protagonista ser só um condutor para a mudança de quem está interagindo com ele. E é exatamente esse tipo de personagem que é o Saburo Kono, afinal, apenas o Sota poderia ajudar ele mesmo.

E o Saburo em si é um personagem interessante, com toda a filosofia de fotógrafo dele, daria pra tirar bastante dele numa série, cavando o personagem aos poucos.

Falando só um pouquinho sobre os breves momentos de um terror mais forte, a Pozuka entrega demais nesse aspecto. O momento em que a Yoko está monstruosa, refletindo a culpa do Sota, foram maravilhosamente desenhados em páginas amplas para enfatizar cada aspecto. Não que isso seja novidade para quem acompanhou Neverland. E o momento ainda é potencializado pela figura do Saburo, que ainda permanecia um tanto dúbia nesse momento da história.

Spirit Phographer Saburo Kono é um one-shot muito bem construidinho, que aponta caminhos interessantes pra carreira da dupla de Promised Neverland. Mesmo que a série tenha tido sua quantidade de tropeços, ainda é bom enfatizar que os dois conseguem entregar algo bem acima da média da revista. Agora só nos resta aguardar pelo futuro, tanto da Jump, quanto dos dois.

E você, leu Spirit Phographer Saburo Kono? Gostou? Odiou? Diz aí o que achou e, claro, qual o próximo one-shot que deve aparecer por aqui.

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