Bone Collection já foi tarde – Review

Bone Collection é um mangá de volumes lançado em 2020. Escrito e ilustrado por Jun Kirazaka (estreante), o mangá foi publicado na Weekly Shonen Jump (Zipman, Samurai 8). O mangá permanece inédito no Brasil.

Sinopse: em um mundo lotado de yokais, um exorcista medíocre, Kazami, se encontra com uma linda garota chamada Paira. Mas quem é ela? Poderá o inútil Kazami fazer algo? Se prepare para o mais novo battle shonen de comédia (fonte: Mangaplus, tradução livre)

Bone Collection é uma série curiosa, desde o momento em que ela pôs os pés na revista, já era mais que claro que se tratava de uma bomba relógio. Não existia qualquer condição desse mangá ter uma serialização longa, mesmo em tempos instáveis como os atuais.

Ele é do mesmo estilo do já finado Guardian of the Witch, um mangá pra preencher buraco. E é especialmente curioso pensar que eles saíram quase que um em sequência do outro, ambos sendo corretamente finalizados antes de atingirem 20 capítulos.

Mas é justamente por isso que esses mangás me levantam uma grande dúvida: não tem editor pra novato na Jump mais? Porque ao que parece o autor que publica lá só recebe o aval para sequer ter um editor depois de, sei lá, algum retorno.

Dessa forma a gente fica nesse ciclo infinito de novatos que poderiam até render algo, mas são simplesmente jogados na máquina de moer gente que é o ToC (Table of Content) da Jump. Não seria um tanto mais interessante sentar com o autor, cozinhar melhor as ideias até de fato ter uma história a ser contada e só então lançar a série?

Sim, eu sei que é uma discussão velha e batida, mas a revista dá bastante sinais que mudou como gerencia suas séries, bem como qual tipo de história quer que apareça na revista. A única coisa que não muda é essa posição um tanto quanto antiquada de “os fortes que sobrevivam”.

Que fique claro, eu não tenho nada especialmente contra a alta rotatividade da revista. Desde que o que rotacione nela sejam de fato trabalhos profissionais, que levaram mais do que trinta segundos de discussão com um profissional.

E isso claramente não aconteceu com Bone Collection. O autor tinha no máximo uma ideia muito vaga do que ele queria fazer. A história desde o terceiro ou quarto capítulo já tinha aberto mão de qualquer construção a longo prazo, simplesmente tentando sobreviver das migalhas do semana a semana.

É curioso observar como ela já começa desesperada, não existe ritmo nos capítulos de qualquer forma, com o autor vez após vez completamente se atropelando para “chegar na parte boa”. E veja bem, isso é normal em novatos, mas é justamente pra isso que deveria ter um editor… Editando esse negócio.

Pra usar um exemplo de outro mangá da mesma revista. O primeiro capítulo de Bone Collection é como se, Bleach fizesse, em um único capítulo, simultaneamente o primeiro capítulo e todo o mini arco do Grand Fisher. Caso alguém não lembre, o Grand Fisher é um mini arco no começo do mangá, onde o Ichigo é confrontado com o trauma da perda da mãe. É meio que um ponto de virada grande naquele começo, justamente por isso não pode estar junto da apresentação do personagem.

Mas não em Bone Collection, aqui a série apresenta o drama do Kazami, que fez uma técnica proibida que causou a morte de um amigo, ao mesmo tempo em que já o mostra superando essa questão. E, claro, já é um poder muito fortão que mata um yokai de Ranking A. Tudo isso impede e muito qualquer sentimento de progressão e/ou senso de merecimento que a história possa entregar. Justamente por isso que Bone Collection já nasceu morto, o primeiro capítulo já minou qualquer chance de uma série longeva.

Não é como se depois disso a série tenha criado qualquer outro conflito pro personagem do Kazami. Ele quer muito uma menina de peitos grande, afinal humor, e a yokai super poderosa é, coincidentemente, também muito peituda. O conflito dele usar a magia proibida é resolvido cinco capítulos pra frente, e tudo que sobra é um mangá sem propósito e extremamente vazio. O mais próximo que tem de um conflito nessa história é a Paira querer se tornar humana, que pode ser resolvido, também coincidentemente, com o uso repetitivo da tal técnica.

E mesmo as cenas de ação em si não são boas. O mangaká é muito inconstante no traço e péssimo em qualquer tentativa de controlar geografia de lugares. O maior exemplo desse problema de geografia está no arco da mansão, logo no capítulo 6. Onde o traço dele funciona melhor são nas cenas de comédia, mas aí o que peca é o roteiro.

A grande questão de Bone Collection é que nem como um daqueles mangás que se vendem pelo conceito ele serve. Talvez por causa de Kimetsu no Yaiba, talvez por coincidência, mas a Jump andou dando uma lotada de histórias de youkai. Então nem pela ambientação esse mangá conseguia se destacar, não tinha como ser salvo…

Mas então o mangá percebe que está para ser cancelado e tenta ensaiar o clássico “arco muito sério agora é pra valer”. Claro que você não tem qualquer envolvimento com os personagens, mesmo assim ele tenta forçar um sequestro preocupante. Mais ou menos nessa altura tem um momento bizarro em que a história quer fingir que está desenvolvendo o relacionamento Kazami/Paira.

Rola um conflitinho de casal pra indicar que a outra garota do “triângulo amoroso” é coisa do passado e a garotinha que tinha acabado de ser apresentada é sequestrada pelo vilão final. Só que o machado veio rápido demais, e sequer teve tempo de fechar esse arco, que termina numa cena bizarra de casamento.

O protagonista, que tava com um caminho todo torto, decide que o que ele quer da vida é ser um intermédio entre os dois mundos. Eles se casam, time-skip, viveram felizes para sempre.

Bone Collection morreu como viveu, completamente perdido e sem rumo, só tentando sobreviver ao dia de amanhã. É um dos mangás mais sem alma e sem o que contar que eu vi saindo na Jump e honestamente me surpreende ter conseguido sobreviver sequer 15 capítulos antes do machado. Fico curioso para o talvez retorno do autor num futuro próximo, mas, principalmente, para até quando a Jump vai manter esse moedor de artistas ligado.

Eai, leu Bone Collection? Gostou? Odiou? Diz aí o que achou e, claro, qual o próximo mangá que deve aparecer por aqui (sem contar Time Paradox Ghostwriter, que esse tá garantido).

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