Quem é Sakamoto? O Espírito do Colegial – Review

Quem é Sakamoto? ou Sakamoto Desu Ga? é um mangá de 4 volumes lançado em 2011. O mangá tem roteiro e arte por Nami Sano (Migi to Dali, The Looming Figure) e foi publicado na Fellows! (Tamariver, Ran and the Gray World). O mangá foi adaptado para anime em 2016, pelo Studio DEEN, em 12 episódios. O mangá foi lançado no Brasil pela Panini em 2017.

Sinopse: Sakamoto é um estudante colegial fora do comum que inicia um novo ano letivo em uma nova escola. Mas ninguém facilita para ele, que logo se torna alvo de bullying! Não se deixando abater, o garoto tem o seu próprio jeito de lidar com todos os problemas, às vezes de maneiras absurdas e sem nunca perder a pose! (fonte: Guia dos Quadrinhos)

Quem é Sakamoto? Essa é a pergunta que abre o quadrinho. Mais do que isso, essa pergunta é tão importante para a experiência do mangá, que ela mesma se faz presente como título do mesmo. De forma simplória, Sakamoto é o exemplo máximo do que pode ser um colegial japonês, um alvo distante, um ídolo a ser almejado. De forma mais extensa, é uma pergunta que o mangá leva da primeira a última página de sua publicação.

Toda a jornada de Quem é Sakamoto pode ser estabelecida como tanto nós, como o resto da Classe 2, tentando interagir e compreender essa figura misteriosa e cheia de charme. O Sakamoto não tem falhas, não comete deslizes, é em, todas as pontas, perfeito. Quem é Sakamoto é daquelas histórias ao estilo GTO ou Assassination Classroom onde uma pessoa ou criatura surge, para tornar a vida de uma sala inteira melhor.

Pela premissa absurda, dá pra notar que Sakamoto se trata de um mangá de comédia. De forma geral, todos os capítulos são alguém da sala tendo um problema diverso e encontrando a solução enquanto interagem com essa distinta figura. A maior parte dos problemas acaba por ser resolvida sem uma ação direta do Sakamoto, e o mangá trabalha muito bem a linha tênue entre o acidental e o planejado, sem nunca perder o balanço.

É importante destacar que, mesmo com uma estrutura relativamente fixa, o Nami Sano consegue diversificar bastante as situações em si, com uma dose bastante grande de maluquice e nonsense. Como algumas das melhores situações posso citar o capítulo do aluguel de DVDs pornô e todos que envolvem o 8823 (Haybusa) senpai.

De forma similar, a narrativa do Sano é no ponto (até recomendaria tentar ler no físico, mas todos sabemos como funciona a Panini). O autor toma bastante cuidado com o posicionamento das punchlines, além do texto em si ser sempre muito mágico e absurdo. Inclusive ponto pra tradução brasileira que inseriu regionalismos sem deixar carregado demais o texto.

O traço do mangá não é nada demais de maneira geral, no que se refere ao design de personagens. Com exceção do Sakamoto, nenhum outro personagem realmente salta aos olhos, o que até trabalha a favor do roteiro. Mas o que se destaca, além da fluidez de leitura, é o esforço do mangá em enfatizar as expressões faciais.

A história precisava criar um contraste forte entre a postura blasé do Sakamoto frente ao absurdo, quando comparado com o resto da classe. Dessa forma o desenho não tem medo de exagerar caras e bocas, enquanto mantém o Sakamoto com cara de garoto bonito impassível.

Falando em classe, é bastante impressionante o quão bem ele trabalha o elenco pra uma série tão curta. Claro que não é nada muito profundo, mas a série sabe escolher muito bem certos personagens para dar mais destaque, como o já citado Hayabusa, o Kubota, o Atsushi e o grande vilão, Fukase.

Gosto especialmente do arco do Kubota ganhando confiança, saindo de alguém que sobre bullying pra alguém com um cabelo fabuloso. E do Atsushi, que tem uma grande jornada de aceitação sobre si próprio. Ele claramente só faz uma pose de malvado, mas queria mesmo é ser aceito pela galera. Quando o Sakamoto estende a mão para ele, rola uma conexão, que vai aos poucos escalando para uma inveja e um sentimento de não se estar a altura, até dar no que dá no final.

De maneira geral os personagens que o Sakamoto mais ajuda são justamente os delinquentes do colégio. Isso me faz ler o nosso querido protagonista como quase uma entidade que representa a instituição “estudante colegial” que apareceu naquele colégio para ajudar na maturação da galera.

Justamente por isso que o “vilão final” é o Fukase, o líder dos delinquentes, o cara que desistiu de crescer. Todo o objetivo dele é tentar jogar os outros no mesmo abismo que ele se encontra, porque ele acredita piamente que só a escuridão aguarda aqueles que se formam. Na outra ponta do espectro está o Sakamoto, que aceita de braços abertos toda e qualquer diversidade e dificuldade, sem titubear.

Mesmo assim se eu tenho uma reclamação desse mangá é que o elenco feminino é bastante sub-utilizado, normalmente se reduzindo a achar o Sakamoto gostoso demais e é isso. Isso sem falar da mãe do Kubota, cuja realização é algo na linha de “antes de ser mulher, sou mãe, e tenho que me reduzir a esse papel” que é… De mal gosto, para dizer o mínimo.

Uma coisa curiosa é o quão melancólico todo o último volume é, dá um sentimento bastante forte de nostalgia na despedida do ano escolar.

Isso é um feito e tanto, porque realmente fica parecendo que conhecemos aqueles personagens a muito tempo. Considerando que é uma série de quatro volumes, ele conseguir trazer isso no leitor é um feito e tanto.

De todo modo temos vários momentos de despedida no volume final, até alcançarmos o ápice da série, com a formatura dos terceiranistas. E pra seguir daqui, preciso falar de spoilers, não que seja uma série de twist, mas enfim, fica o aviso!

Nesse volume final, Quem é Sakamoto entrega dois momentos de catarse seguidos, o primeiro mais geral é o discurso do Sakamoto e a formatura forçada do Fukase, já comentada acima. Esse é o momento com um foco mais nas temáticas do mangá.

O segundo é um tanto quanto mais pessoal, é a despedida da Classe 2 para o Sakamoto, que “está indo para a NASA”. É um momento muito bonito deles com as tortas enquanto reafirmam o quanto a vida deles mudou graças ao Sakamoto. Um tanto piegas, mas eficiente mesmo assim.

Com isso, seguimos para uma despedida do 8823 (Hayabusa) senpai, que nos revela o que já estava escancarado, não tem nenhuma viagem pra NASA. Na minha leitura, fica claro que, como um espírito do colegial, o Sakamoto agora vai desaparecer, já que já tornou aquele colégio um lugar melhor. Mas mesmo num microcosmo mais realista, para adolescentes, o universo da escola é basicamente boa parte do círculo de convívio da pessoa, e um colega se mudar de colégio é meio que uma morte simbólica.

Quem é Sakamoto é um xodózinho meu, no que se refere aos mangás de comédia. Entende o que quer fazer e executa de forma excelente, sem ficar mais tempo do que devia. Além de ser bastante engraçado, ainda entrega uma mensagem bonita (mesmo que um tanto otimista demais). Ainda que tenha erros meio grandes em como trata o elenco feminino, é um mangá que merece um espaço na sua coleção. Agora você sabe quem é Sakamoto.

E você, leu Quem é Sakamoto? Gostou? Odiou? Diz aí o que achou e, claro, qual o próximo mangá que deve aparecer por aqui.

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