Rising of the Shield Hero 2ª Temporada é um Filler Glamourizado

Shield hero e Raphtalia posando para a foto

Rising of the Shield Hero retorna para sua segunda temporada, lançada na temporada de primavera de 2022. A série é uma produção do Kinema Citrus, contando com series composition do Keigo Koyanagi e direção do Masato Jinbou. A dupla faz seu retorno da primeira temporada que já teve uma review aqui. Shield Hero é uma adaptação da série de light novels de mesmo nome, escritas por Aneko Yusagi. No Brasil, Shield Hero está disponível oficialmente através da Crunchyroll.

A segunda temporada continua os eventos da jornada do Naofumi Iwatani, o Herói do Escudo, depois de finalmente conseguir retomar sua reputação. Naofumi agora é dono de uma vila onde vive em harmonia com os demi-humanos. Enquanto ele e sua equipe treinam para a chegada da próxima Onda, um enxame de morcegos familiares atacam a vila. Esses familiares levam a crer que o selo da Tartaruga Espiritual pode ter se quebrado, e uma calamidade ainda pior que as Ondas pode estar prestes a explodir.

Não é segredo para ninguém a minha relação com Shield Hero. Um dos conteúdos mais acessados do site é justamente a review da primeira temporada, na qual eu falo muito mal de praticamente tudo dela. Fiquei até reticente em fazer uma review para a segunda, com medo de ser só um repeteco dos problemas. Nada poderia me preparar para o nível de incompetência que esses 13 episódios me reservavam, mas já chego nisso. O importante é que essa review só existe por ter sido patrocinada pelo Vinicius (@foccius). Se você quer patrocinar e ajudar esse humilde reviewer a ter uma graninha extra, fale comigo pelo Twitter. Agora vamos falar sobre esse anime, começando pela carta de entrada dele, o visual.

Shield Hero, Raphtalia e Rishia em uma carroça ao por do sol.
O “triângulo amoroso”

A crise estética de Shield Hero

O mercado de animes atual é bastante paradoxal. Ao mesmo tempo em que estamos apinhados de isekaistenseis com mundos medievais, sinto que temos muito poucos trabalhos de fantasia de fato. Isso se dá especialmente por uma questão estética. A maioria dos isekais, Shield Hero inclusive, usam muito mais de uma estética de MMORPG do começo dos anos 2000, que algo no sentido mais clássico do gênero. A esses sobram poucas produções, como Wandering Witch e Mahoutsukai no Yome.

Eu particularmente nunca fui fã da estética de MMO per se, mas com o passar do tempo, começou a ser um demérito da série utilizar da tal estética. Isso se dá porque, especialmente em isekais, a autofagia do gênero é enorme. Talvez por serem feitos em linha de montagem, ou talvez por seus autores serem quase sempre amadores, fato é que a maioria dos isekais que ganham as telas parecem remixes de outros isekais que já ganharam as telas. Com Tate no Yuusha é a mesma coisa. Temos as mesmas raças mágicas, a mesma cidadezinha murada cortada por um rio, os mesmos cenários, os mesmos círculos de magia. Parecem produções desenhadas para ter o mínimo de personalidade possível.

E não ajuda o fato dessa temporada estar muito mal acabada. São incontáveis os momentos em que os personagens estão com expressões tortas, mesmo em cenas estáticas. O monstro gigante que é uma tartaruga em CGI é assombroso de feio. Do nível que, mesmo encoberto pela névoa, ainda dá para ver como ele é um modelo de baixa qualidade. As lutas são praticamente todas feitas sem nenhum esmero técnico, aguadas e mal animadas. É bizarro de ver o tropeço da produção de Shield Hero 2, ainda mais considerando que ele é um dos isekais que as pessoas lembram. Eu esperaria esse nível de produção de uns In Another World With My Smartphone ou Death March to the Parallel World Rhapsody que são realmente produções feitas para bater a cota, mas o Kinema Citrus era pra cuidar melhor do seu catálogo.

grupo de personagens se entre olhando
A estética de cada personagem não combina com a dos demais.

Ainda mais bizarro que isso é que parece que o time do áudio e o time do visual estavam travando uma batalha campal dentro do anime. Em especial o Jun Fukuyama, dublador do L’arc Berg está sempre 1, as vezes 2 tons acima da animação do personagem. Outros membros do elenco passam pelo mesmo problema, mas o dele é o mais gritante. E a trilha sonora Kevin Pekin, retornando ao cargo, é outra coisa completamente bizarra. A trilha em si, pelo que dá para ouvir durante a série, é bastante interessante, embora longe de ser um trabalho tão marcante quanto o de Made in Abyss. Mas o Masato Jinbou não tem ideia de como utilizar a trilha. Tem horas que é dissonante de forma cômica, a maior parte do tempo é só aquela meio soquete que escapa do seu calcanhar e fica só até a metade do pé.

Mas nem tudo está perdido, em especial nos figurinos quando eles vão para o outro outro mundo, são bastante bonitos. Esse mundo é baseado no Japão feudal, e todos os redesigns são para melhor. Quero dizer, quase todos, a armadura final do Naofumi com aquelas penas é horrorosa de maneira especial. A ambientação ser mais de neve também traz algum frescor para as cansadíssimas planícies verdes, mas não é como se a série fizesse bom uso disso também.

Tartaruga gigante em meio a névoa
O CGI de baixa qualidade que não é escondido nem pela névoa.

Estratégias e coreografias

Ainda falando de coisas para se ver na tela, outro aspecto absolutamente pobre de Shield Hero é o desenrolar dos embates. Já não ajuda que a direção não tem pulso para somar a trilha e amplificar o efeito. Mas mesmo se tivesse, todas as lutas de Shield Hero 2 são absolutamente simplórias. Os personagens vão ficar, um de cada lado, gritando nome de golpe e fazendo no máximo um movimento limitado e fim. Não existe a menor criatividade em como os personagens vão performar. E se a trilha, a animação e a coreografia de lutas são capengas, o que temos é um resultado pífio em ambos os arcos, sendo mais interessante olhar tinta secar do que as tentativas vergonhosas de o Naofumi usar um raiozão do escudo enquanto a horrível abertura toca ao fundo.

Falando em raiozão do Naofumi, o roteiro não sabe onde enfiar o protagonista. Ainda, na santa altura do episódio 30, a gente tem o Naofumi falando “ah, pelo menos você pode usar uma arma” para uma companheira de equipe. Meu senhor, seu escudo faz virtualmente qualquer coisa que você queira! Ele deixou de ser uma arma exclusivamente defensiva faz 15 episódios! Ele invoca um dragão de CGI feio. Dá um tiro de bazuca. Você é ridiculamente mais forte que qualquer coisa nesse universo. Tão forte que seu roteirista precisou botar você de volta no nível 1 para gerar alguma tensão. Supera cara, pelo amor.

Mulheres cruzando espadas
Um duelo fraquíssimo da Raphtalia.

E falando em nível 1, é inacreditável que o roteiro decide nerfar o Naofumi e a party dele. Todo mundo volta pro nível 1, o que significa que a Raphtalia volta a ser criança. Mas isso não importa, no final do arco eles já farmaram tanto em off que estão novamente overpower. Estão inclusive ainda mais poderosos, já que a Raphtalia vira a Heroína da Katana em um subplot todo torto que acontece no meio dessa série.

Mas o prego no caixão do entretenimento de Tate no Yuusha é, sem sombra de dúvidas, o plano para deter a Tartaruga Espiritual. Quero dizer, o não plano. Basicamente nós temos longas cenas monótonas com eles sentados num salão de guerra para decidir como proceder. E cada um dos figurantes líderes tem uma ideia. Um deles quer usar os magos, o outro os cavaleiros de dragão, e quem vai liderar e isso e aquilo. Chega na luta é um negócio mega básico, eles cutucam a tartaruga gigante, atolam a tartaruga, o Naofumi vem e corta a cabeça dela. E a Tartaruga Espiritual, um bicho do tamanho de uma montanha, é derrotado na metade do Arco da Tartaruga Espiritual.

Por algum motivo o roteiro faz um arco sobre um kaiju para o kaiju ser derrotado de maneira anticlimática e o resto do arco ser eles subindo a montanha e entrando na tartaruga. Só para daí ter um chefe secreto que é o coração da tartaruga, que é derrotado num golpe só. Para na verdade ter o Kyo, o Herói do Livro, dentro de dentro da Tartaruga, este sim sendo o vilão final do arco. A luta contra ele é ruim também, mas é a única luta com alguma cena bem animada na temporada inteira… Me ajuda a te ajudar Herói do Escudo!

Rishia atacando o vilão que desviou
A única luta bem animada da temporada.

Caracterização é importante

Não tem animação, não tem cenas de ação, mas poxa vida, o que dizer da construção de mundo de Shield Hero? Ela segue o exemplo dos tópicos anteriores e é igualmente incompetente.

Essa segunda temporada vai nos apresentar com dois novos ambientes, o Reino da Tartaruga e o Outro Outro Mundo. Cada um deles vai ter suas particularidades, mas de maneira geral sofrem do mesmo mal, um roteiro corrido e preguiçoso. Não que a primeira temporada tivesse qualquer mérito em construção de universo, mas aqui é assustador. Nós passamos 6 episódios no Reino da Tartaruga, meia temporada. Tudo que nós conhecemos de lá é uma pedreira e uma sala de guerra. Nada daquela sociedade é minimamente apresentado, nem mesmo a Tartaruga em si.

Em dado momento chegamos a um templo que tem uma tapeçaria que fala sobre a Tartaruga. A Rishia lê um pouco, mas logo é cortada pelo plot. Tudo que sabemos é que a Tartaruga é uma contramedida para as Ondas. Ela precisa de almas para usar uma magia que paralisa as ondas, isso é feito quando os 4 Heróis Cardinais não derem mais conta das mesmas. Mas isso não é a história da tartaruga, isso é a função mecânica da mesma, mas para Shield Hero, são a mesma coisa.

grupo de líderes de nação olhando para o Shield Hero
Tantas nações de papelão…

Na já citada reunião de guerra para enfrentar a tartaruga, temos múltiplas nações. Cada uma igualmente vazia. Não houve qualquer trabalho para que os líderes falassem minimamente diferente. Todos eles querem poder e glória e só. Em dado momento um dos líderes morre num sacrifício heroico, e eu sequer me lembro se ele tinha um nome. No final, são figurantes que estão lá para empurrar o plot para frente e nada mais. O cenário é apenas isso, cenário, não um mundo vivo onde pessoas habitam.

E a coisa fica ainda mais grave no segundo arco. Nosso grupo de heróis vai até o mundo da Glass e companhia, e ele é baseado no Japão Medieval. A ideia de Tate no Yuusha de apresentar aquele mundo é mostrar cada raça diferente, com um monólogo descritivo da função delas, e dizer o nome das moedas daquele mundo. Eu sei que uma moeda de prata vale cem moedas de bronze, mas não sei qual a relação daquela sociedade com o que a Glass faz. Eles aprovam a invasão de outros mundos? Ou eles reprovam, mas acham que é um mal necessário? Nem o básico de algo que é o cerne do grupo da Glass fazer o que faz é trabalhado, quem dirá detalhes menores.

Considerando que esse é um isekai, é completamente inexplicável para mim o total desdém com o qual o roteiro trabalha seu universo. Uma das graças do gênero não deveria ser o escapismo de você estar em um mundo instigante? Como você sequer faz isso se tudo parece um cenário de baixo orçamento de uma peça colegial? Por que a gente tem tanto diálogo expositivo para um mundo tão genérico e sem alma? As duvidas se amontoam, e a gente ainda nem falou do elenco desse negócio…

4 personagens conversando enquanto almoçam
A ideia de construção de mundo de Shield Hero é exposição vazia.

O harém do Shield Hero

Velhas conhecidas

Nosso grupo de herói segue crescendo a cada arco, sempre com uma nova personagem feminina a cair nas graças do Naofumi. Mas o tempo de tela que essas personagens recebe acaba variando bastante de personagem para personagem. As duas mais desprezadas pelo roteiro nessa segunda temporada são a Melty e a Filo. A Melty é a princesa boa do reino de Melromark. Ela não faz absolutamente nada durante toda a temporada, ficando para trás na vila do Naofumi cuidando das coisas. Já a Filo não tem a mesma sorte, e acaba sendo completamente esquecida enquanto em tela. Por mais que ela esteja presente (e se torne uma donzela em perigo) durante toda a temporada, a personagem não tem nenhuma contribuição para os conflitos. A coitada menina galinha serve de Whatsapp glorificado para o Naofumi conversar com a Rainha Filolial e preenche a tela em algumas das cenas de ação.

Já a Raphtalia, amada por todo o fandom, aparece bem mais. Boa parte do segundo arco gira em torno da gimmick dela ter voltado a ser criança. O roteiro ensaia uma conversa sobre como ela acha que não é mais útil para o Naofumi agora que voltou para o nível 1. Um conflito tão artificial quanto o dela sentir ciúmes do Naofumi com a Rishia. De qualquer forma, a Raphtalia regrediu ainda mais com relação a temporada passada, sendo ainda mais submissa e dependente do Naofumi. Em dado momento, depois da separação do grupo, ela escapa da prisão com o L’arc e companhia. Disfarçados numa cidade, eles descobrem que o dono da excalibur, digo, o Herói da Katana será escolhido. O grupo decide assistir a nomeação, e de forma completamente aleatória e anticlimática, a espada se teleporta para a mão da Raphtalia.

Esqueça qualquer tipo de agência da personagem tipo querer pegar a espada para ser mais forte. Aqui é Tate no Yuusha, onde a conveniência reina, então quando o vilão tenta sacar a espada, a arma decide que vai ser portada pela Raphtalia que está na plateia. Ela se torna então uma Heroína, no mesmo nível do Naofumi em teoria. É como se o roteiro implorasse que essa mulher tenha alguma agência. Mas ela corre e fica triste pelo selo de escravo ter sido desfeito. É simplesmente patético.

Menina guaxinim corta tigres brancos ao meio
Raphtalia em seu único momento de ação voluntária.

Nova Adição

A penúltima membra da equipe, e talvez mais importante da temporada, é a Rishia. Rishia é uma garota que vem de uma família nobre decadente. Para pagar as dívidas do suserano, o nobre do mal leva ela e transforma ela em prisioneira. Inclusive o side-plot da Filo donzela indefesa também é sobre alguém aprisionando ela contra a vontade. Irônico que nosso protagonista é um dono de escravos, mas fica pra depois esse assunto. Enfim, ela é salva pelo Herói do Arco, e decide seguí-lo para compensar a dívida. Acontece que a Rishia não é uma maga muito boa, e acaba expulsa da equipe do herói.

Muito bem, então ela se alia ao nosso querido Naofumi, para poder ficar mais forte. Claro que a primeira coisa que ele faz é botar um selo de escravidão nela, mas só depois dela pedir. O motivo? “Dá mais experiência ser escravo.” Ignoremos o quão dissonante isso é com o passado da personagem. Inclusive, passado esse que nos é contado sem qualquer preparação, o episódio 4 simplesmente começa com o passado, que é contado sem qualquer dramaticidade também. Ela sendo posta na prisão é narrada com a empolgação de quem lê uma bula para artrite.

Enfim, entra no grupo e começa a treinar espada e manipulação de ki. Por que uma maga treina espada? Não faço ideia, bem como não sei o que é o ki, a série nunca se dá ao trabalho de explicar. O que não impede de ser a resolução do primeiro arco inclusive. Enfim, ela treina com duas mestras e usa uma fantasia ridícula que também nunca nos é apresentada. Primeiro de pinguim natalino, depois de filolial.

Em dado momento no meio do Arco da Tartaruga, existe a primeira conversa entre personagens na série. Foi no quarto episódio, a Ost Horai e a Rishia sentam em frente a fogueira e conversam sobre as suas motivações. A Ost então diz para Rishia que ela era incrível por estar lutando e ajudando o grupo do Naofumi a fazer o certo. Acontece que, na batalha campal contra a Tartaruga Espiritual, a Rishia não faz literalmente nada. Ela não enfrenta os minions, não ajuda no planejamento e também não causa dano na dita Tartaruga. Mas o roteiro parece acreditar que ela fez alguma coisa muito importante até ali, acho que ele só esqueceu de mostrar mesmo.

Garota de cabelo verde sorrindo enquanto é abraçada por criança
O flashback não dramatizado da Rishia

O finito Labirinto Infinito

Passados os personagens secundários, vamos aos 4 personagens principais dessa segunda temporada. A primeira delas é a Kizuna. Kizuna é a Heroína da Pesca do Outro Outro Mundo. Ela acabou sendo aprisionada por anos no Labirinto Infinito, por uma nação inimiga. O Labirinto Infinito é uma fanfic pobre de O Náufrago (sério, tem até o Wilson falsificado). Quando o Naofumi e sua trupe vão para o Outro Outro Mundo, acabam presos neste Labirinto.

A Kizuna é a personagem mais interessante dessa segunda temporada. Não que ela exatamente tenha uma personalidade, mas pelo menos ela é agradável de assistir. Também ajuda o fato de ela querer coisas e ser uma das únicas personagens que consegue conflitar com o Naofumi. Até aqui, todas as personagens femininas eram divididas em: megeras ou submissas ao Herói do Escudo. Tudo bem que no final da história a Kizuna termina apaixonada por ele, e tudo bem também que a discussão deles não vale de nada, já que ela está claramente errada, mas é um começo. Também é interessante que a Kizuna sim tem uma arma incapaz de ferir outros seres humanos e a personagem tem que se virar para lidar com os inimigos.

Mas ser interessante não impede de termos problemas. O primeiro deles é com toda certeza ela ter sido aprisionada no Labirinto Infinito. Não a prisão em si, mas dois acontecimentos específicos: quem aprisionou ela e por quê. Nós passamos 6 episódios no Outro Outro Mundo, e por causa da ambientação toda troncha, não sabemos nada sobre ele. Então nunca fica claro qual motivo levou uma nação a prender um dos 4 Heróis Cardinais daquele mundo. Tão pouco fica claro pra quê eles serviam quando ela foi presa. A Kizuna diz desconhecer as ondas, e que foi invocada por um motivo diferente para aquele mundo. Uma pena que o motivo ficou guardado no coração do roteirista.

E falando do Labirinto em si, é mais um exemplo de um roteiro fraco. Ele é apresentado com toda a pompa de que é impossível de escapar. Mas no exato mesmo episódio em que o grupo do Naofumi cai no Labirinto, eles já conseguem escapar. Acontece que a Kizuna já tinha explorado todo o Labirinto Infinito, e achou uma parede buggada que dava acesso ao mundo exterior. O nosso Shield Hero então usa uma planta qualquer que cresce muito para quebrar a barreira e eles já escapam. Não tem mistério, nem investigação, tão pouco construção de tensão, é seco, vazio e torpe. O que me lembra muito do próximo personagem, a Ost.

Shield Hero e seu grupo enfileirados
Acostume-se com cenas paradas com expressões tortas.

A protagonista, Ost

Horai Ost é o foco dramático da segunda temporada de Rising of the Shield Hero. Ela nos é apresentada como a rainha do País da Tartaruga. Mas ela esconde segredos tão secretos que são óbvios no exato instante em que ela põe o pé na série. A personagem nos é apresentada toda encapuzada, olhando pro grupo do Herói do Escudo e dizendo baixinho “Naofumi, você tem que me matar”. Depois disso ela se revela a Rainha, três diálogos depois ela diz que na verdade é uma familiar humana da Tartaruga Espiritual. O elenco é pego de surpresa, mas fica difícil você se surpreender com um personagem que você sequer conhecia há três segundos.

No final da temporada descobrimos que na verdade ela é a versão humana da Tartaruga Espiritual. É sério, no segundo episódio ela já deixa essa revelação óbvia, mas a série insiste em segurar a informação até o quinto e fechar com esse plotwist, o roteirista deve ter se sentido muito orgulhoso.

Fora a virada boba que vem tarde demais, a Ost é uma ferramenta com pernas. O arco inteiro ela vai andar e falar exatamente o que os personagens precisam saber para seguir com o plot. É completamente insatisfatório você ter 6 episódios de constantes momentos em que os protagonistas enroscam em algo, só para a Ost dizer “deve ser a proximidade com a Tartaruga, mas me lembrei que devemos fazer x” trocentas vezes.

A caracterização da personagem não é muito melhor. Ost é reduzida a um dilema: “eu gosto dos humanos, mas como familiar eu tenho que matá-los”. Essa discussão fica rodando em círculos durante os seis episódios. A Ost olha um figurante machucado, fica triste, pensa no dilema, lembra de um plotpoint, vê outro figurante machucado… E no final das contas, o roteiro ainda empurra ela para ser o sacrifício motivador do segundo arco. Quero dizer, o roteiro pega, faz uma não personagem, mata essa não personagem, e espera que eu me importe.

A autossabotagem é tão grande que nos é estabelecido no começo: “se a Tartaruga Espiritual morrer, a Ost também morre.” Pois bem, a Tartaruga espiritual “morre” 3 vezes antes de morrer. Ela morre quando a decapitam; depois ela morre quando destroem o coração; daí ela morre quando destroem o coração verdadeiro; e só então ela dá a bazuca para o Naofumi e faz ele atirar nela. Por qual motivo ela não fez ele atirar no vilão que estava controlando a Tartaruga Espiritual? Eu não faço a menor ideia. Fato é que ela morre e nosso grupo jura vingança contra uns dos vilões mais toscos que eu já vi, o Herói do Livro Kyo.

Mulher chinesa e mulher vestida de passarinho rezando
Dupla mais esquecível que essa? Impossível!

O antagonista, Kyo

O Kyo é a ideia de um roteirista limitado de como um gênio pensa. O personagem é a contradição ambulante. Ele tem tudo e nada sob controle o tempo todo. Mas vamos por partes, vamos para a linha do tempo dos planos do Kyo:

Nosso estrategista vai para o mundo do Naofumi. Lá, ele quebra o selo da Tartaruga Espiritual. Com a quebra do selo, Kyo controla a tartaruga para que ela enlouqueça e mate. O Herói do Livro então armazena todas as almas em um cristal gigante, menos uma fração que ele guarda num vidrinho, para o caso de ser derrotado. Quando é derrotado ele foge com o remanscente, e tem tempo de preparar o portal para que ele envie personagens diferentes para locais diferentes. Envia o grupo do Naofumi para o Labirinto Infinito, menos a Filo que ele dá para um escravagista.

Mas ele é um homem com muitos planos, então ele já esperava que o grupo do Naofumi escapasse da prisão inescapável junto da Kizuna. Como ele sabia que a Kizuna estava lá? Não sei. Fato é que o grupo do Naofumi só conseguiria usar o teleporte da Ampulheta do Dragão se estivesse junto de um Herói Cardinal. E o plano do Kyo foi plantar uma armadilha na Ampulheta do Dragão para que especificamente a Raphtalia não conseguisse saltar.

Homem olhando para o escudo, enquanto menina bebe água e outra sorri, ao por do sol
O Labirinto Infinito é uma grande praia, um conceito legal.

É uma sequência tão ridícula de saltos lógicos e maquinações, que o personagem que é para parecer um gênio estrategista, só parece muito muito burro. Se uma virgula saísse do exato caminho que ele planejou, o plano desmorona. Se o Naofumi não escapa da prisão, ele não vai passar pelo desespero de ficar longe da Raphtalia e de ver que a Filo virou escrava. Se ele escapa, mas a Kizuna não estiver lá, não tem teleporte. Se a Kizuna tivesse morrido, por estar anos na prisão, a mesma coisa.

E tudo isso para, no último encontro, ele dizer que sempre quis ficar cara a cara com o Naofumi e a Rishia para matá-los pessoalmente. Ele teve pelo menos trinta e cinco outras oportunidades de enfrentar, matar ou prender e escolheu não fazer. É muito ridículo.

Isso sem falar na personalidade do Kyo. Ele é maluco, só isso. Ele não tem motivação, não tem um objetivo final que faz sentido, não tem nada. Ele faz tudo que faz por que quer criar uma Onda. Mas pra quê? As Ondas já assolam aquele mundo. E no flashback dele, vemos que ele é um hikikomori que sonha em viver como um herói no outro mundo. Ele comete suicídio no mundo real por não aguentar a realidade. Como que esse personagem, quando conquista o que ele sonha, vira um antagonista unidimensional até para os padrões de Shield Hero?

homem de cabelo branco sorrindo de maneira diabólica
A gente sabe que está de frente com um grande vilão quando ele fica o tempo todo dando risada de vilão.

O bom escravagista, Shield Hero

Um dos meus esforços com essa review foi não repetir reclamações que já foram feitas na primeira temporada. Mas infelizmente a história não consegue largar da escravidão. Rising of the Shield Hero 2ª Temporada é tão apinhado de problemas, que se ele não citasse esse assunto, eu poderia passar por cima. Só que ele cita, e cita muito.

Ele cita no passado dos personagens. Rishia, Raphtalia, até a figurante da Eclair, todas possuem algo nas linhas de serem presas ou se tornarem escravas. Cita no presente dos personagens, como com toda a sidequest da Filo sequestrada. Isso sem falar no drama da Raphtalia quando o símbolo some, ou na Rishia pedindo para que o Naofumi faça o pacto com ela. Também cita no futuro, com o final do episódio 12 sendo o Vendedor de Escravos conseguindo “mercadoria nova” e sorrindo de forma macabra.

Ele cita até na boca de personagens. No confronto final contra o Kyo, o antagonista fala sobre a hipocrisia do Naofumi. Sobre como ele não pode dizer que é companheiro das meninas se ele as controla com a marca do monstro e do escravo. Sobre como ele torturou elas para ficarem mais forte, as usou na frente de batalha. E tudo isso é prontamente rebatida pela Rishia, que diz que “ele fez o que precisava ser feito” e que “ninguém pode julgar ele por isso”. Essa é a noção de Tate no Yuusha de tons de cinza, fazer seu protagonista cometer atrocidades, colocar na boca dos vilões que ele fez merda e depois colocar uma de suas escravas dizendo que “ele tem coração bom”. Isso foi feito na primeira temporada, e foi feito aqui de novo.

Eu realmente não tenho problema com protagonistas filhos da puta. Mas o roteiro não pode tratar um cara que lança mão de coisas absolutamente reprováveis do mesmo jeito que ele trataria o Natsu de Fairy Tail. Por que no final é isso, esse caminhão de atrocidades que o personagem faz por que ele é edgy e dark para o final de ambos os arcos serem o poder da amizade acima de tudo. Rising of the Shield Hero é mais vazio do que Black Clover, mas o roteiro e seu fandom têm toda certeza que estão diante do próximo Berserk.

Shield Hero envolto em ondas de energia
Naofumi sendo consumido pelo estudo da ira, pela sexta vez nessa história.

Falling of the Shield Hero

A segunda temporada de Shield Hero conseguiu piorar o que já era ruim na temporada anterior, enquanto não manteve o pouco que se salvava. Um verdadeiro inimigo da diversão, foi bastante complicado me manter acordado para assistir essa temporada até o final. Incompetente em todos os setores, essa temporada é um morto-vivo de uma franquia que deveria parar o quanto antes. A essa altura, se ele não fosse tão chato, seria uma ótima paródia do gênero. Se eu voltarei para a terceira temporada? Talvez sim, talvez não, só o tempo dirá.

Shield Hero usando pássaro gigante para puxar carroça ao por do sol
Nossa trupo indo em busca de novas aventuras.

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