Balance: Unlimited é o Batman policial – Review

The Millionaire Detective – Balance: Unlimited é uma série de 11 episódios lançada na temporada de inverno de 2020. Ela é uma adaptação da novel Fugou Keiji de Yasukata Tsuitsui (Paprika, A Garota que Conquistou o Tempo), um dos mais famosos autores de ficção científica japoneses. A direção da série ficou por conta do Tomohiko Itou (Sword Art Online: Ordinal Scale, Erased) e o series composition por Taku Kishimoto (Fruits Basket (2019), Haikyu). A série é uma produção da Cloverworks (Promised Neverland, Darling in the Franxx).

Sinopse: Daisuke Kambe é o herdeiro de uma das maiores fortunas do Japão. Tão rico que a conta bancária dele é virtualmente infinita. A história começa quando o Kambe entra para a divisão de crimes modernos e se torna parceiro de Haru Kato, um detetive que perdeu a chama que o movia.

Balance: Unlimited talvez tenha sido uma das séries mais divertidas que eu assisto em tempos. Isso se dá principalmente pelo equilíbrio quase perfeito que a série consegue traçar entre suas duas metades. Por um lado, é uma série policial que vai atrás de terroristas, contrabandistas e assassinos. Por outro, é uma série de comédia, recheada de situações absurdas e um elenco carismático. Mas vamos por partes.

Pra começar queria falar um pouco dos visuais da série. Gosto demais como tudo em Unlimited é sempre muito estiloso. As roupas, as poses, até os enquadramentos de câmera estão ali pra enfatizar um aspecto classudo da série. E isso serve para um propósito, na verdade vários, mas principalmente para referenciar claramente as fontes de inspiração. Inclusive parabéns pro autor de Nanatsu no Taizai, Sasaki Keigo, pelo character design, ficaram muito bons.

Unlimited tem duas grandes fontes de inspiração: 007 e Batman. Por consequência, acaba puxando de coisas que influenciam o próprio Batman, como Sherlock Holmes e etc. Mas as fontes básicas de inspiração são justamente essas duas franquias.

Acontece que Unlimited entende o quão absurda e galhofa ambas as séries são e se aproveita disso. Dessa interação entre o sério e o cômico é justamente de onde vem toda a identidade do anime. Também é desse ponto que vai definir se você gosta ou não de Unlimited. De minha parte, acho que a série faz um ótimo trabalho de balancear os dois lados em quase todos os momentos, mas a gente já chega lá.

 

Ainda nos designs, queria apontar rapidamente a diferença que um bom character design faz em uma série. Para isso, peguemos as duas equipes da polícia e o que elas representam. De um lado, a primeira divisão, eles são os detetives que obedecem as ordens do sistema sem questionar. Justamente por isso todos eles se vestem igual, abrindo mão da ideia de individualidade. Do outro lado temos a segunda divisão, um esquadrão quase depósito para os oficiais problemáticos. Seja por não seguir as ordens, ou seja por cutucar demais onde não deveria. Essa divisão é muito mais colorida, com cada um se expressando através de suas vestes e mesas de trabalho. Isso é bom character design.

Por Balance: Unlimited ser uma série de mistério cheia de reviravoltas, qualquer informação mais significativa pode ser um spoiler. Então fica o aviso prévio que daqui pra frente eu precisarei falar de fatos que acontecem na história.

Então, pra começar, queria falar um pouco sobre os três detetives que verdadeiramente carregam a série: o Kato, o Kambe e o Chosuke. Eles são três arquétipos clássicos de detetive. Respectivamente o certinho, o que faz todo o necessário para resolver o caso, e o velho destruído pelo sistema.

Mas a série consegue trabalhar bem com os personagens para eles não se resumirem só a isso. Boa parte da primeira metade da série é dedicada justamente a colocar esses personagens na mesa. Dizer qual o motivo pelo qual eles são como são, e quais limitações isso traz.

O Kato, pra começar. Todo o drama do personagem vem de ter matado alguém em serviço. Ele era um jovem que queria ser um herói, e acabou tirando a vida de alguém no processo. Gosto como a série trabalha o conflito dele, como ela desenvolve a ideia do superior que assume a culpa. E mesmo assim isso não tira o peso de se matar alguém. E gosto principalmente da conclusão do personagem, na qual ele percebe que ser um herói não é sobre atirar em alguém. Não é sobre a posição que se ocupa, ou o prestigio da corporação. Mas sobre ajudar quem precisa de ajuda.

Em contraste com o Kato nós temos o Kambe. Kambe é o Bruce Wayne, desde ser bilionário e cheio de brinquedinhos tecnológicos, até ter um passado triste envolvendo os pais. O motivo dele entrar na divisão é completamente mesquinho e pessoal. Ele está atrás da verdade sobre seus pais e não se importa com quem ele vai ter que atropelar por isso. Tem várias coisas muito interessantes acontecendo com o personagem do Kambe e que vão ficando mais claras conforme a série avança. A principal delas é o quão fechado numa bolha de superproteção ele sempre esteve. Um dos episódios em que ele mais cresce é justamente quando esquece o celular em casa, por exemplo.

Fechando o trio temos o Chosuke. Ele é o personagem menos desenvolvido dos três, até porque boa parte do drama dele é estar estagnado a décadas. De maneira geral ele é uma pessoa completamente quebrada, que perdeu toda confiança nas pessoas ao seu redor e viveu uma vida miserável por isso. Por um instante eu achei que a série ia cair no clichê de dizer que “as vezes você tem que sujar as mãos para ter o trabalho feito” ou coisa do tipo, mas foi refrescante ver o Kato dar um choque de realidade no velho.

Agora sim, vamos para os spoilers mais pesados, esteja avisado!

Falando um pouco do plot em si, ele flutua bastante. Enquanto mistério ele é engajante do começo ao final. Mas a série decai bastante quando o vilão de verdade entra em cena. Enquanto conceito, o Shigemaru é muito bom, só que toda vez que ele está em cena falta presença e agência.

Mas falando do conceito em si, uma pergunta que a série faz questão de martelar no espectador é o motivo para o Kambe estar na equipe de polícia. Seja em posição social, ou pelas ações do personagem, fica claro desde o começo que não é um coração bondoso que o fez lutar pela justiça.

E é aí que entra o Shigemaru, para o Kambe, aquilo sempre foi uma questão pessoal, familiar. Descobrir quem tinha matado sua mãe. E é com isso em mente que ele entra para a polícia, só para acabar cada vez mais afundado na podridão da própria família.

É uma via de duas mãos, quanto mais o Kambe se torna detetive de verdade, mais distante ele fica de casa, e mais ele percebe que está em uma gaiola. Justamente por isso que é tão interessante que, no final, a gaiola era maior do que ele pensava. O anime também usa isso para começar a minar os poderes de ser rico dele. Por vezes com ele esquecendo, em outras tendo seu acesso negado. Inclusive em dado momento a inteligencia artificial manda um “Balance: Limited” que achei maravilhoso de tão idiota.

Eu não acho que a série soube entregar de maneira satisfatória a revelação final. Tinha sua dose de pistas, como a reação do Katsuhiro, mas na hora da revelação faltou força. Mesmo assim colocar que tudo era um plano desde o começo encaixa com a premissa de Unlimited.

Toda a ideia da Kikuko é deixar o Kambe sair de casa e “conhecer o mundo” só para ele se decepcionar e voltar a se acastelar. Uma espécie de crescimento tutelado, o suficiente para ele herdar as posses da família, mas não o bastante para que ele abrisse de fato as asas.

Só que a Kikuko não contou com o elemento incerto da equação, o Kato. O Kato literalmente é o personagem que faz, acidentalmente, a escolha que o Kambe seria incapaz de fazer. Mas também é ele que mostra pro bilionário o valor de ajudar os outros, de seguir o caminho certo, de ser melhor.

Pra finalizar, eu realmente gosto demais da série fechar compartilhando tecnologia com o mundo. A gente vive numa era de muito medo da tecnologia, principalmente pelo estrago recente que as redes sociais vem causando. Mas eu legitimamente concordo que um período de caos adaptativo vale mais que alguém simplesmente decidindo o que a humanidade está ou não pronta para conhecer. Ainda mais se for um bilionário contrabandista.

The Millionaire Detective – Balance: Unlimited foi uma série que soube manter a bola rolando nos seus onze episódios. Divertidíssima de acompanhar, com uma escrita acima da média e um elenco forte, certamente vale seu tempo, mesmo que o final tenha derrapado em seu como, ainda que não no seu o que.

Eai, assistiu Balance: Unlimited? Gostou? Odiou? Diz aí o que achou e, claro, qual a próxima série que deve aparecer aqui.

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