Burn the Witch: Estilo > Substância – Review

Burn the Witch é um filme que foi lançado no Japão em 2020. O filme é uma adaptação da primeira temporada do mangá de mesmo nome, escrito e desenhado por Tite Kubo (Zombie Powder, Bleach). Burn the Witch é dirigido por Kawano Tatsurou (estreante) e tem roteiros do próprio autor. A produção ficou por conta do Studio Colorido (Penguin Highway, Typhoon Noruda). No Brasil, o longa está disponível através da Crunchyroll dividido em 3 episódios.

Sinopse: historicamente, 72% de todas as mortes em Londres são causadas por dragões, criaturas fantásticas que são invisíveis para a maioria das pessoas. Apenas os moradores da Londres Reversa, o “outro” lado de Londres, conseguem ver os dragões. Desses, apenas alguns poucos são selecionados para se tornarem bruxos e bruxas e fazer contato direto com os dragões. As protagonistas desta história são uma dupla de bruxas, Noel Niihashi e Ninny Spangcole. Elas são agentes de proteção da Wing Bind (WB), uma organização de controle da população de dragões, e sua missão é observar e proteger Londres. (fonte: Crunchyroll)

Burn the Witch é um caso curioso. Existem uma série de ideias já estabelecidas sobre quem é e como funciona a cabeça de Tite Kubo. De maneira como reparei, diretamente do data foda-se, o grau de aceitação ou rejeição desse novo trabalho é bem próximo do que você já acha do autor.

O que é bem justo, muita decepção envolve praticamente toda a publicação do trabalho anterior dele, Bleach. Mas hoje, outubro de 2020, me encontro mais numa posição de fascínio que qualquer coisa. Por isso mesmo acabei entrando mais aberto pra ver o que caralhos é Burn The Witch.

E Burn The Witch é e não é um filme. Ele funciona muito melhor como um prólogo, uma apresentação de universo e personagens, que uma experiência fechada em si mesma. É uma sensação parecida com a que eu tive assistindo ao primeiro filme de Little Witch Academia, que também não acho grande coisa.

De qualquer maneira, o roteiro faz um bom trabalho de apresentar o grupelho principal. Noel e Ninny são carismáticas, as interações das duas tem química e as mesmas contrastam bem durante todo o roteiro. Mesmo o chefe delas, que tem um passado secreto, funciona bem nesse primeiro filme, com aquele ar misterioso de ex-fodão que caiu em desgraça. Se você está pensando no Urahara de Bleach, sim, tem bastante do mesmo arquétipo aqui.

A Noel é quem faz aquilo pelo dinheiro. É a tímida, que mantem a compostura e por vezes um pouco fria, o elemento lunar da dupla. Já a Ninny é uma idol, faz o que faz pelo status, é esquentada e explosiva, o elemento solar da dupla. Nenhuma das duas é especialmente profunda, mas para um começo de jornada, isso não é um problema.

O elo fraco da party fica por conta do Balgo. Personagem que foi apresentado durante o one-shot, que é basicamente um alvo durante boa parte do filme. O roteiro quer passar a sensação que ele é um inocente de bom coração, mas fica longe do ideal. Isso porque toda vez que ele está em cena é para enfatizar o quanto a Noel é gostosa.

Inclusive, ainda nisso, Kubo, eu entendi, você acha a Noel gostosa, não precisa botar todo santo personagem enfatizando isso. Ainda mais com piadas de calcinha e peitão que ficaram velhas nos anos 90.

Enfim, todos esses personagens são apresentados, mas nenhum deles tem um arco. O arco de verdade é feito em cima da Macy Baljure. Macy Baljure é uma das membros do grupo idol da Ninny e tem sua vida virada de pernas pro ar quando entra em contato com um dragão.

Aqui é um bom momento para parabenizar todo o trabalho de direção e trilha sonora. Toda essa parte é muito melhor conduzida e dramatizada aqui que na contra-parte em quadrinhos. O diretor soube jogar com as limitações do roteiro e mostrar o sofrimento da personagem visualmente.

A Macy é uma personagem altamente dependente dos que estão a sua volta. E esse filme é, mais ou menos, o crescimento dela para se levantar sobre as próprias pernas. Bonito e tal, mas é feito pela metade, porque é aqui que reside o maior problema de Burn the Witch.

O maior problema de Burn the Witch é que ele é um filme. Mais especificamente, que ele é um filme roteirizado por Tite Kubo. A gente pode entrar aqui na discussão de o quão bom ou péssimo quadrinista o Kubo é, não muda o fato que ele é um novato quando o assunto é cinema, e isso transparesse demais.

Burn the Witch, no seu pouco mais de 1 hora de duração é um filme de três atos. Acontece que ele é um filme de dois primeiros atos e um terceiro. Usando o recorte da Crunchyroll, o primeiro episódio de fato é uma espécie de prólogo, que seta os personagens e a ambientação. O segundo é responsável por introduzir o conflito. O terceiro para resolvê-lo.

Ficou faltando nesse meio um episódio para desenvolver toda a questão. Do jeito que foi, toda a parte do discurso da Ninny sobre como contos de fada são ruins, acaba completamente oco. E não que não faça sentido pro personagem dela, mas a gente passa um tempo gigante focado em qualquer outra coisa, pra só no terceiro episódio amarrar de volta com a primeira fase do filme.

Se o filme tivesse um roteirista próprio, que pegasse as ideias do Kubo e traduzisse para um filme, muito provavelmente ele teria saído melhor. Ou mesmo se o filme tivesse as clássicas 1 hora e meia de duração, mas do jeito que ficou, essa história tem dois conflitos que não se conectam nem se comentam. A caçada ao Balgo não diz nada sobre o dragão da Macy, e a tristeza da Macy não diz nada sobre o amor do Balgo. São coisas separadas que se resolvem juntas por que sim.

E mesmo com essa espinha dorsal toda torta eu ainda consegui sair positivo do filme. Isso se deu por uma série de fatores, a maior parte deles mérito da produção. A começar pela trilha sonora, que foi feita pelo Inai Keiji, que até hoje não tinha produzido nada de expressivo. Acontece que a trilha de Burn the Witch cai como uma luva para todos os momentos, seja na comédia, seja no místico.

Isso em parte é sinal do bom trabalho do diretor, que também conseguiu rearranjar pequenos pedaços do mangá, como colocar a Macy passando discretamente na primeira cena, ou mostrar ela vivendo tranquilamente com o dragão no apartamento.

Mesmo a luta final tem um puta trabalho de ambientação excelente. O senso de escala, de ameaça, misturado com uma certa sensação de adoração para aquela criatura majestosa. Isso aliado a solução visual escolhida para representar as magias dão um sabor muito único para Burn the Witch.

Inclusive falando em design, absolutamente não tenho do que reclamar, esse filme é lindo. Cada personagem é distinto e reconhecível (as vezes para o mal), os dragões são curiosos, os esquadrões tem cada um uma estética própria e reconhecível. O trabalho de luze e sombra desse filme então é simplesmente foda. Facilmente o ponto mais forte do filme está no seu visual.

No final das contas, Burn the Witch é aquele filme muito bonito que tem pouco a dizer. O filme confortável e previsível que você assiste num domingo quente depois do almoço. Ele vai te fazer rir um pouquinho, se impressionar um pouquinho, se empolgar um pouquinho. Um perfeito filme da Marvel que deixa a porta escancarada para continuações.

E considerando ele como um começo de universo, faz bem o trabalho de plantar os mistérios, apresentar o elenco fixo e demonstrar conceitos e possibilidades para as próximas temporadas. Só faltou mesmo conseguir desenvolver as ideias, que é um problema velho do Kubo.

Eai, assistiu Burn the Witch? Gostou? Odiou? Diz aí o que achou e, claro, qual o próximo filme que deve aparecer por aqui.

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