God of High School é HYPE! – Review

The God of High School é um anime de 13 episódios lançado na temporada de verão de 2020. Adaptado da webcomic de mesmo nome, escrita e ilustrada por Yong-Je Park (Ssen Nom) que se encontra em lançamento desde 2011. A direção ficou por conta de Seong-Hu Park (GARO -VANISHING LINE-) e o series composition foi de Kiyoko Yoshimura (Dogs: Bullets & Carnage, Last Exile: Fam, the Silver Wing). A produção é do estúdio Mappa (Listeners, Dorohedoro). A série faz parte dos Crunchyroll Originals e portanto está disponível com exclusividade na plataforma.

Sinopse: Jin Mori diz a todos que é o colegial mais forte que existe. Sua vida muda quando é convidado a participar do “God of High School”, um torneio que decidirá quem é o colegial mais forte de todos, e que garantirá ao vencedor a realização de qualquer desejo que ele tiver. Todos os participantes são poderosos guerreiros que lutarão com afinco para alcançar seus sonhos. Uma batalha caótica entre lutadores colegiais inacreditavelmente fortes está prestes a começar! (fonte: Crunchyroll)

Acho que, assim como na já clássica review de Tower of God, é importante colocar onde eu estou com relação a God of High School. Da mesma forma que na série do Ban, eu não li nada do material original desse anime. E mais, eu realmente não me importo com como as coisas foram feitas por lá. Se você está buscando uma comparação entre as duas mídias, não é nessa review que vai encontrar.

De qualquer forma, olhando depois das duas séries finalizadas, é curioso como escolhas diferentes foram feitas em ambas as séries para suas respectivas adaptações. Uma delas tinha uma ideia clara do cerne do roteiro e onde queria chegar, a outra era Tower of God. Isso não significa que God of High School seja um primor em ritmo e narrativa, mas vamos por partes.

Acho que não tem maneira melhor de começar uma review de God of High School sem comentar sua qualidade de produção. Essa série é um desbunde visual do começo ao fim com raros momentos de marola.

Quando a série começou já entregando um episódio inicial acima da média, criou uma série de desconfianças em todo mundo. Alguma hora a peteca devia cair. Devia, mas não caiu, e God of High School entregou extensos momentos de sakuga semana-pós-semana.

E não apenas belo, as lutas de God of High School carregam muito da experimentação do diretor. Ângulos inusitados, mudança no estilo de arte, POV, rotoscopia, tudo vale se der mais peso para o soco catártico. A direção se vale muito da trilha, que é variada e cheia de personalidade para amplificar ao máximo cada um desses momentos.

O resultado dessa mescla é te deixar vibrando por personagens que você mal conhecia, Seong-Hu Park tem o espectador exatamente onde quer quase todo tempo.

Eu disse quase, por que o ritmo frenético cobra o seu preço.

God of High School tem um centro coeso, mas adaptar quase 100 capítulos em 13 episódios faz com que boa parte do resto acabe sendo penalizado. E não digo aqui dos inúmeros personagens terciários que não tem um passado e motivações detalhados, com esses eu não me importo.

Acontece que, por vezes, essa economia acaba atingindo partes mais centrais da história. Sem entrar muito em spoilers, três momentos me vem a mente que exemplificam isso bem.

O primeiro é quando a história faz uma virada brusca no roteiro para termos um episódio focado num casamento. Essa parte, além de dissonante com todo o resto, ainda tenta passar um laço de amizade em formação como se fosse estabelecido. Explico: Jin, Han e Yu, nessa altura da história, estão ainda começando a se entrosar, mas o roteiro finge que eles estão amplamente conectados, o que é inclusive desmentido pela própria série mais a frente.

Os outros dois momentos são quando, no meio do segundo torneio, a história foca nos guarda-costas do Park Mujin e um certo personagem que morre nesse mesmo torneio. O primeiro rende momentos magníficos, com direito a luta de stands com foice e show-off de poder daora. Acontece que mostrar isso naquela altura tira todo o peso do campeonato em si. O segundo é um pouco mais grave, ao pedir que eu me importe com um personagem que deve ter talvez três falas durante a temporada, não foi o suficiente para isso, nem próximo de suficiente.

Ainda nesse aspecto de ritmo, talvez alguém enxergue como um problema dos dois torneios não terem o foco que normalmente se espera de um arco desses, mas não me incomodou. Ficou muito claro desde o início que os torneios seriam só o esquenta para a história real. Algo bem aos moldes do que Hunter x Hunter faz com a Torre Celestial, por exemplo. Tanto é que a primeira cena da série é já apresentando os negócios escusos do Park Mujin.

Mas nem só de animação excelente vive o homem, e felizmente nem God of High School. O coração da série é justamente a relação entre o Jin, o Han e a Yu, e como eles são mais fortes unidos. Se já não ficou claro até aqui, God of High School é um battleshonen clássico, com direito a transformação, poderzinho e amizade que supera todos os limites.

Dito isso, a série desenvolve a relação do trio de forma interessante. No final do primeiro torneio eles já são um time. Quando o segundo termina, são companheiros pro resto da vida.

Nenhum dos personagens é muito complexo, mas a série faz um excelente trabalho de apresentar e desenvolver cada um deles e a dinâmica que os une. Durante a temporada o grupo se afasta, se une, briga, se junta, e tudo está sempre muito bem explicado e delimitado. O pior que poderia acontecer numa série dessas é deixar a audiência alienada sobre o motivo para se importar.

Quando a Yu está se sentindo um peso para o grupo, a gente entende o motivo. Se o Han está na beira do motivo, a gente chega nesse abismo junto dele. E se o Jin está desesperado para rever o avô, a gente viu tudo de que ele abriu mão para ficar mais forte.

Infelizmente por restrições de tempo, o mesmo não se aplica ao grande antagonista da temporada. Que é bastante sem graça e mesmo depois de seu flashback triste nada realmente muda em como enxergamos o personagem. A luta contra ele só tem peso pelo risco que a série construiu a sangue suor e membros arrancados, mas o personagem em si é não mais que um desafio físico. Nesse sentido o conflito entre o Jin e o Han no final do primeiro torneio tem muito mais significado. E por consequência acaba sendo muito mais significativo.

Falando um pouco sobre algumas temáticas de God of High School, acho interessante como ele aborda essa questão de caos e ordem. A grande organização do mal nada mais é que um culto intolerante, que não consegue aceitar outras pessoas tendo outras crenças.

Para a organização, existe apenas um único deus real e correto de adorar. Enquanto os nosso heróis estranhem seus poderes de diversas divindades e heróis, numa espécie de magia do caos battleshonen. Mesmo a frase “faça o que tu quiseres” do avô do Jin é parte do lema de Aleister Crowley, “faça o que tu quiseres, pois há de ser tudo da lei”. Ou algo por essas linhas, não entendo muito do assunto, sou só curioso.

Justamente por isso acho tão interessante que, em dado momento na segunda metade da série, uma performance ritualística é feita para enfrentar a espada e ira de um deus opressor. De maneira geral é bastante claro que a organização maléfica traz bastante de um culto europeu, com direito a anjos e tudo mais.

Então, por mais estranho que isso possa parecer, God of High School está trabalhando intolerância religiosa, e o quanto cultos extremistas são um problema para a sociedade. Não sei a que passo estão as coisas lá na Coréia, mas é um assunto bastante relevante no Brasil de 2020.

Em resumo, God of High School tem seus tropeços, mas sabe muito bem o caminho que quer trilhar. Entrega uma temporada sólida, com um elenco carismático e produção fora de esquadro para a média das temporadas. Fico no aguardo de uma eventual segunda temporada, dessa vez com mais tempo para contar sua história. Quem sabe até com mais espaço para explorar esse lado religioso.

E aí, assistiu God of High School? Gostou? Odiou? Diz aí o que achou e, claro, qual a próxima série que deve aparecer por aqui.

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