Tower of God: Empurrou Foi Pouco – Review

Tower of God ou Kami no Tou é um anime de 13 episódios da temporada de primavera 2020. A série é uma adaptação da webcomic de mesmo nome, escrita e ilustrada por SIU, que permanece em publicação desde 2010. A adaptação, por sua vez, conta com a direção de Sano Takashi (Sengoku Basara: Judge End) e series composition de Yoshida Erika (Namuamidabutsu! Utena, Trickster). O estúdio responsável pela animação foi a Telecom Animation Film (We Rent Tsukumogami, Orange). O anime faz parte dos Crunchyroll Originals e está disponível no Brasil através do próprio Crunchyroll.

Sinopse: A Torre de Deus. Um mundo repleto de um misterioso poder chamado Shinsu, e povoado pelos “regulares”, os indivíduos dotados desse poder. Dizem as lendas que quem alcançar o topo da Torre terá seus desejos realizados. Os guardiões da Torre selecionam “regulares” para participar das provações da torre e tentar alcançar seu ápice. Mas Bam, o protagonista, é um “irregular” – ele entrou sem ser convidado, abrindo sozinho os portões da Torre, tudo para reencontrar Rachel, sua única amiga no mundo! (fonte: Crunchyroll)

Tower of God é um anime de fantasia e de mistério. Então, antes mesmo de entrarmos nos temas e no elenco, me permitam dar uma palhinha sobre esses dois gêneros e como eles são usados na obra.

Uma das minhas grandes questões com Tower of God é que ele é um mundo muito etéreo e próprio. Mesmo que carregue claras e gigantescas inspirações em Hunter x Hunter, não consigo pensar em nada muito similar em como aquele universo funciona. Só que, ao invés de isso ser o forte da série, acaba por ser um dos seus pontos mais deficientes.

Explico, o grande imbróglio é que a série tem uma dificuldade enorme de explicar como as coisas funcionam. Durante toda essa primeira temporada eu me senti como se as informações fossem dadas pela metade, e não de uma forma instigante.

Tower of God Hollow Knight

Um grande exemplo disso é a prova do Pique-Esconde, na qual o elenco foi dividido em dois times. Cada time tinha um broche para proteger e deveria pegar o broche do examinador. O teste acabaria quando o time passasse de uma determinada marca ou se o examinador tomasse posse do broche da equipe.

Esse talvez seja o teste mais confuso da temporada, e por diversos motivos. A começar por uma falta de habilidade da direção, que em momento algum consegue definir a geografia daquele ambiente, para que o espectador tenha noção de espaço e/ou distancia. Pra além disso, nunca fica claro pra quem está assistindo qual o qualificador que fará alguém passar ou reprovar no dito teste. E não é como se isso nos colocasse em posição de igualdade com o elenco, eles sabem o que é preciso para avançarem, apenas nós que não sabemos.

Isso é uma estratégia de séries de mistério ruim, deixar quem assiste no escuro para poder sacar o que for mais conveniente no momento e parecer um twist incrível. De fato algo é muito imprevisível se não tem qualquer construção prévia. Talvez o personagem que mais padeça desse mal seja o Killua dessa série, Khun Aguero.

Mas voltando para o mistério, nos é implicado em diversos momentos que existe um jogo de poder sendo jogado nas sombras desse teste. Que as coisas que estão acontecendo com Bam e sua turma não são exatamente o rito normal para serem autorizados a adentrar a torre. Acontece que nós vemos tão pouco do tabuleiro que eu sequer sei qual tipo de jogo está sendo jogado, e ao invés de criar um sentimento de dúvida no espectador, acaba só o alienando da experiência.

Tower of God Lero Lero

Aparentemente tudo nessa torre acontece de acordo com os desejos e vontades do Rei de Jahad, uma entidade quase mística que mora no topo da Torre de Deus. Diversos personagens são apresentados, ou então posteriormente revelados, como sendo subordinados, parentes ou espiões do dito Rei. Mas nunca fica muito claro afinal de contas qual a autoridade desse tal rei. O que ele governa, como ele governa, ou algo do tipo. Nessa altura, o Rei parece pouco mais que uma desculpa para determinados personagens agirem de forma escusa.

Entrando um pouco mais na direção do Sano Takashi, ela é fraca e sem personalidade. Durante toda série é muito difícil que um momento que precisa de impacto de fato tenha o impacto desejado (episódio 12, estou falando de você). Momentos que deveriam ser mais espaçados ficando rápidos demais, momentos que deveriam ser mais rápidos se arrastando por longos minutos. Informações sendo repetidas, enquanto outras nunca são passadas.

Mas o maior pecado mesmo é o que ele faz com a trilha sonora. A trilha em si é boa demais, feita pelo Kevin Penkin (Made in Abyss, Tate no Yuusha), dão uma aura de místico e espiritual que é bem vinda nesse tipo de história. Só que a direção não sabe encaixar ela, por muitos momentos temos cenas que deveriam ser empolgantes com uma trilha de mistério, ou o contrário. Talvez os maiores exemplos desses momentos são o pequeno momentinho de superação do Shibisu enfrentando o touro no episódio 11 e basicamente toda a prova da coroa.

Tower of God Colinho Hétero

Inclusive, outras coisas que me incomodam nessa questão são especialmente os momentos de alívio cômico. Durante os treze episódios desse anime, não teve sequer uma vez em que o momento de gracinha chibi encaixou de verdade. Sempre pareceu absolutamente deslocado e forçado. O problema tá no tom da série, no timming das piadas, na trilha empregada, ou seja, tudo errado nessa questão.

Mesmo assim tenho um destaque positivo a fazer no visual. Óbvio que não seria os poderes, que até aqui foram genericassos, mas sim os flashbacks. Por mais destoantes que eles sejam da linguagem visual do resto da série, todos os flashbacks com estilo de traço diferente foram bem feitos, dos storyboard a trilha. Uma pena que seja o ponto fora da curva da série, não o seu padrão.

Já fizemos todo o caminho do entorno do anime, isso quer dizer que nos falta entrar no elenco e temas de Tower of God.

Começando pelo tema, a grande questão dessa primeira temporada é discutir o quanto vale suas ambições e o que você está disposto a jogar fora para seguir em frente. Isso se reflete na maioria dos personagens com agência da série, mas para discutir isso, preciso entrar em spoilers…

Tower of God Endorsi

A maior dinâmica dessa temporada está no trio Bam, Khun Aguero e Rachel. O Bam sendo o personagem mais passivo, enquanto o Khun Aguero e a Rachel são os mais ativos. Tenho até dificuldades de chamar o Bam de personagem, mas entramos nisso depois.

Uma questão que nos é martelada desde o começo em Tower of God é o quanto aquela sociedade dentro da torre é completamente regrada e travada. Todos os personagens em posição de poder estão focados em manter aquele poder. Nessa sociedade estática surgem os dois elementos de mudança, o Bam e a Rachel.

O Bam é especial, basicamente por motivos de o roteiro precisar disso. Ele é um irregular, portanto não precisa seguir nenhuma regra da torre. Ao mesmo tempo em que ele pode tudo, o personagem não deseja nada, a não ser se arrastar pra cima e pra baixo atrás da Rachel.

A Rachel, por sua vez, é o mais ordinário dos personagens. Desde a roupa de camponesa até a falta de força, a Rachel é o tempo toda jogada pra baixo. Do momento em que foi colocada na torre, até o final da temporada, tudo que a garota ouve é que ela não presta, não é o suficiente, que ela não tem o direito de sonhar com a escalada da torre. A Rachel é, ao mesmo tempo, a mais presa pelas regras da torre, e o maior underdog dessa história.

Fechando o trio temos o Khun Aguero, a questão do personagem é que, mesmo estando preso pelas regras, ele tem poder o suficiente para decidir não seguí-las. Não por coincidência ele vem de uma família de nobres e, mesmo que ele acabe traído, ainda possuí o suficiente para se reerguer.

De toda forma, a dinâmica desse trio poderia ser interessante, mas por algum motivo bizarro a série opta por, ao invés de explorar esses conflitos, utilizar de um twist bobo no final do penúltimo episódio. Só então que descobrimos qual a real função da Rachel nesse roteiro. Ela é a personagem que foi manipulada, movida como um joguete, para dar um start no arco do Bam.

Não isentando a personagem da culpa da traição, mas todos os outros personagens ficaram o tempo todo pilhando a garota para fazer merda. Ao mesmo tempo em que ela tentava empurrar o Bam pra longe e ele voltava, tal qual um cachorro sem dono. Como se ela tivesse obrigação de corresponder os sentimentos de um garoto que ela já havia deixado para trás.

Tower of God Seinen Psicológico

Que fique claro que estou tendo que puxar as pontas para tentar tirar uma boa dinâmica disso daqui, porque a verdade é que Tower of God é absolutamente chato. Preferia olhar tinta secar a ficar mais um momento com o Bam como protagonista.

Isso é um grande problema, principalmente quando a série não perde uma oportunidade de dizer o quanto esse amaldiçoado é perfeito, maravilhoso, olha como ele é legal. E você olha e ele tá com aquela cara de nada dele enquanto fala manso e não quer nada… Foi uma longa luta terminar essa temporada.

É inclusive curioso como, quanto mais distante do Bam, mais interessantes as coisas ficam. O drama da Endorsi em abraçar a sobrinha e ficar contra o rei é, relativamente, bem construído e resulta numa boa relação entre ela e a Anaaki.

Mesmo que no final a série queira muito que você acredite na amizade daquele grupo quando a mesma série não fez sequer metade do trabalho necessário para isso acontecer, ainda é interessante que os dois melhores personagens, Khun Aguero e Rachel, terminaram na mesma equipe.

E melhor ainda só ela ter empurrado o bosta do Bam para ver se ele finalmente se torna um personagem. Tenho poucas esperanças de que ocorra, mas vai que, né?

Agora, quanto ao empurrão em si, sim ela o traiu, mas nem de longe justifica as reações das pessoas. Como isso é diferente dos atos do Khun Aguero e da Endorsi na prova do pique-esconde? Ah, sim, é porque foi feito contra o protagonista. No mínimo curioso que aquele que não queria abrir mão de nada, acabou perdendo tudo.

Tower of God KKKK Gado D++

Tower of God, pra terminar, é uma série que poderia ser boa. Poderia ser mediana, mas gasta tanto tempo fazendo qualquer outra coisa que não o que importa e acaba sendo bastante ruizinha. Tanto é que, se você viu a série e chegou até aqui, percebeu que eu pulei quase metade dos acontecimentos. Sabe o motivo? Porque tudo isso não importa e só detraí, tanto do elenco, quanto dos temas que a série alude um dia querer trabalhar, talvez, quem sabe.

E antes que alguém venha comentar, não, eu não li a webcomic. Eu também não tenho o menor interesse se acontece X ou Y diferente, ou se “no capítulo 241 explica que na verdade”, essa é uma review do anime, e ele precisa funcionar como uma obra isolada.

E ai, assistiu Tower of God? Gostou? Odiou? Diz aí o que achou e, claro, qual o próximo anime que deve aparecer por aqui.

Tower of God Tower of God

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