Goblin Slayer: Goblin’s Crown é um Condensado de Desgraça – Review

Goblin Slayer: Goblin’s Crown é um filme lançado nos cinemas japoneses em 2020. O filme é uma sequência direta da primeira temporada de Goblin Slayer, que já teve review de sua primeira temporada aqui. O filme foi dirigido por Takaharu Ozaki (Goblin Slayer, Girls’ Last Tour) e roteiro por Hideyuki Kurata (Drifters, Made in Abyss). A animação ficou por conta da White Fox (Arifureta, Re:Zero). Goblin’s Crown está disponível no Brasil através da Crunchyroll.

Sinopse: O Matador de Goblins mais uma vez recebe uma missão diretamente da Donzela da Espada. Nesta missão, eles precisarão encontrar uma filha de nobres que resolveu se tornar aventureira e partiu para matar uns goblins. (fonte: Crunchyroll)

Antes de começar, Goblin Slayer possui representações bastante explicitas de violência sexual, então se você for sensível a esse tipo de conteúdo, fica o aviso prévio.

Se você me acompanha por aqui (ou se você clicou no link ali em cima), então você sabe muito bem que eu não gosto da primeira temporada de Goblin Slayer. A chegada do filme era uma chance para essas coisas mudarem, mas o longa não se ajuda.

Começando do começo, o filme decide passar 25 minutos de recapitulação da primeira temporada. E são vinte e cinco minutos muito específicos, são uma recapitulação focada na relação entre a Sacerdotisa e o Goblin Slayer. Como ele salvou ela várias vezes e então, no final da temporada, ela finalmente conseguiu retorna o favor e salvar ele.

Se você olhar para esse resumo e acreditar com toda sua força que esse foi o arco da primeira temporada, ele quase que funciona. Pois bem, com uma recaptulação tão enviesada, imaginei que esse seria um filme focado na relação entre o Goblin Slayer e a Sacerdotisa… Ledo engano, essa relação é tão central para o plot quanto era na série de verdade, que é muito pouco.

O resumo também serviu para reavivar parte do meu ranço com esse anime, relembrando como ele acha muito legal colocar estupro no roteiro. Não só banalizando o uso, como tirando umas lasquinhas de ecchi aqui e ali, sempre que possível.

De qualquer forma, somos então levados ao roteiro de fato do filme, que abre nos apresentando um novo grupo de aventureiros, que estão enfrentando goblins em regiões nevadas. A cena corta, e retornamos a nossa party (nenhum pouco) favorita, que é contratada para ir em busca do dito grupo, que está sumido.

Mais ou menos nessa altura, a Elfa começa a apontar o que vai ser o personagem dela nesse filme. No caso, ela está muito incomodada com a mortalidade e com o quão humanos morrem cedo em comparação aos elfos. Esse aspecto específico da personagem é levantada quase uma dezena de vezes, seja por outros membros da party, como o Anão, seja por ela mesma, numa conversa casual na fogueira com o Lagarto.

Qualquer roteiro razoável esperaria que algo fosse feito com isso, mas não em Goblin Slayer. Em Goblin Slayer ele é simplesmente abandonado lá pela metade do filme, quando a Elfa passa a não ter mais nenhuma cena de diálogo. Acho que podemos considerar isso um desenvolvimento de personagem? Talvez não.

A outra personagem mais fio condutor desse filme é a terceira mulher do roteiro, a aventureira líder que eles foram resgatar. Se ela tem sequer uma alcunha dentro do filme, falhei em notar, mas de qualquer forma ela é o melhor (?) personagem desse filme, e olha que ela é terrível, mas vamos por partes.

Lá pelas tantas do filme, circunstâncias fazem com que nós saibamos como o grupo dela teve seu fim. A sequência como um todo é mal montada e um tanto confusa, leva um tempo para entender que aquilo se trata de um flashback e não simplesmente de um outro local ao mesmo tempo.

De qualquer forma ela é uma líder inexperiente e afobada, e isso mais ou menos causa a perda de toda a sua party. Acontece que conhecemos basicamente nada das dinâmicas daquele grupo. É uma versão ainda mais pobre e artificial do que a própria série fez em seu primeiro episódio, quando somos apresentados a Sacerdotisa tendo seu grupo desmantelado.

A peça que falta ser colocada nesse tabuleiro é a ideia de que os goblins estão aprendendo. Esse filme bate muito nessa tecla e, se não me falhe a memória, a série tem seus momentos disso. O Goblin Slayer se dá ao trabalho de usar uma técnica com flechas só pra depois termos os goblins tentando fazer a versão deles.

Com tudo isso na mesa, posso entrar no terceiro ato desse filme, a invasão a fortaleza goblin, então, obviamente, spoilers daqui pra frente, esteja avisado.

Não precisa ser um gênio para presumir que a garota/líder acabou sendo estuprada pelos goblins. De qualquer forma, além de ser estuprada, ela foi amarrada a um altar bizarro e marcada com uma runa de um deus.

A parte do deus é pra reconectar com a lenda dos goblins na lua, que aparentemente não é só uma lenda. E tem toda a questão de ser um deus da sabedoria e os goblins estarem aprendendo e se desenvolvendo. Goblin Slayer não faz nada com isso além de apontar e dizer “olha, presta atenção nisso daqui”, então é um provável build-up pra eventual segunda temporada.

De qualquer forma, o grupelho do Goblin Slayer decide invadir a fortaleza dos goblins. E o plano do nosso protagonista é disfarçar as três garotas de oferendas sexuais para os goblins. Exatamente, o personagem cuja motivação nasceu de um trauma derivado do estupro da irmã, utiliza as outras três personagens como armadilha sexual. Mesmo uma delas tendo recém passado por um estupro seguido de tortura.

Para além do mal gosto que isso poderia ser se viesse de outro personagem, faz muito pouco sentido pro personagem do Goblin Slayer, e olha que sabemos quase nada do mesmo. Enfim, dá errado, porque a garota tem um breakdown e soca um goblin até a morte.

Como sempre, esse erro não causa consequência nenhuma pro grupo e eles mesmo assim conseguem se infiltrar na fortaleza que está lotada de goblin, mas também tem corredores e salas de armas completamente vazios. Me pergunto qual a necessidade do plano das oferendas no final das contas.

Enfim, eles invadem, mais de um personagem pergunta o motivo de o Goblin Slayer ter levado a garota traumatizada para a fonte de seu trauma. Eu só posso supor que era pra ela conseguir superar o trauma com terapia de choque, uma vez que a série nunca deixa claro. E sim, eu sei que ela utiliza o raiozão no final, mas o Goblin Slayer só toma conhecimento dos poderes dela quando eles estão na escada, dentro da fortaleza.

De qualquer forma, coisas acontecem e o estigma do Guts que foi cravado no pescoço da garota começa a doer. A série novamente nunca deixa claro o motivo do Goblin Paladino ter marcado ela, ou largado ela viva no altar, ou um milhão de outras coisas. O que se segue são uma série de set pieces que culminam na decapitação do Goblin Paladino.

E eu aguardei até esse momento para dizer que a produção desse filme é muito abaixo da média. E nem digo só da animação per se, toda a direção é pouco inspirada, com ângulos sem graça e sequências de ação sem energia. Nem a trilha sonora farofa consegue dar conta de empolgar o espectador.

A set piece que mais chega perto de ser bem feita é a do grupo descendo a montanha enquanto foge do enxame goblin. Digo quase porque ela logo perde força quando o mano a mano entre o Goblin Slayer e o Goblin Paladino acontece.

Ao menos as cenas em preto e branco com cabelo super saturado e carregadas de filtros do Instagram dos flashbacks são um refresco aos olhos de quando em quando. Mesmo que a produção reutilize demais elas ao longo do filme, numa tentativa de passar que a garota/líder está revivendo os eventos traumáticos enquanto tudo aquilo acontece.

Como um pequeno respiro de algo que quase se assemelha a um roteiro feito por um ser humano, o filme decide terminar numa interação entre dois personagens na frente de uma fogueira. A Sacerdotisa e o Goblin Slayer conversam um pouco sobre tudo aquilo, sobre os goblins, sobre a parceira, sobre o futuro, e é a primeira vez que o Goblin Slayer estende a mão de volta para a Sacerdotisa.

Não é sequer próximo do suficiente para um filme inteiro, mas considerando a série Goblin Slayer até aqui, é mais do que a primeira temporada inteira conseguiu fazer. E antes que eu me esqueça, novamente não faz o menor sentido as pessoas desse mundo subestimarem os goblins, eles não são criaturas que estão fazendo as coisas na encolha e matando apenas camponeses.

Seria muito mais interessante se o Goblin Slayer fosse de fato o único que está vendo a crescente ameaça dos goblins, enquanto os mesmos não conseguem posar frente a qualquer grupo de aventureiros. Meio que um velho maluco que sabe a verdade, mas ninguém acredita nele. Isso está longe de ser a abordagem que a série dá para o universo.

Goblin Slayer: Goblin’s Crown poderia ter sido uma virada de página da série. Algo nas linhas do que o filme de Unato foi para Kabaneri. Mas ao invés disso decidiu dobrar a aposta e ser uma versão condensada de todos os problemas que sua contraparte da TV tinha de pior. Realmente duvido que venhamos a ter algo minimamente decente vindo de Goblin Slayer, mas continuarei de olho, porque eu sou um verme.

Eai, assistiu Goblin’s Crown? Gostou? Odiou? Diz aí o que achou e, claro, qual o próximo anime que deve aparecer por aqui.

Deixe uma resposta

9 pensamentos em “Goblin Slayer: Goblin’s Crown é um Condensado de Desgraça – Review”