Kabaneri: Batalha de Unato é um passo na direção correta

Kabaneri of the Iron Fortress foi um anime de doze episódios que saiu em 2016. Começou promissor, acabou num absoluto e terrível pesadelo. Eis então que 3 anos depois, uma sequência em forma de filme foi lançada, a Batalha de Unato.

Kabaneri of the Iron Fortress: Batalha de Unato é um filme de 2019 produzido pelo Wit Studio (Shingeki no Kyojin, Vinland Saga), com direção e roteiro de Tetsuro Araki (Shingeki no Kyojin, Highschool of the Dead), se tratando de um original. Essa franquia também é conhecida como a franquia que tirou o Tetsuro da direção de Shingeki, da segunda temporada pra frente.

Começando de onde parou

É bom dizer que, apesar de continuação, Kabaneri tenta contextualizar pra novatos. O filme abre explicando o contexto do mundo e dizendo onde eles estavam antes de chegar em Unato. Não é a melhor das escolhas, por não te apresentar o suficiente se não conhece e ser redundante se conhece.

A partir daí o roteiro se desenrola nessa nova região que dá um sabor todo diferente, principalmente por ser nevada. É uma mudança de ares que vem realmente muito bem a calhar. Inclusive o filme está lindo, tanto na composição de ambientes e tomadas, quanto nas coreografias de combate. Destaque pra cena inicial da Munmei enfrentando vários zumbis, que lembra bastante o começo da série de TV.

Existe algo muito mágico em ver o medievo japonês enfrentando zumbis com armas de pressão. Esse inclusive sempre foi o motor sob o qual Kabaneri realmente se sustentou, muito mais que personagens ou plot, a força motriz de Kabaneri era e é sua direção de ponta e seu conceito muito forte.

E quase como uma personificação disso temos a personagem da Munmei, que segue sendo a mais interessante de se ver em tela, mesmo passando por um momento de donzela em perigo durante o segundo ato. Ela é cativante, enérgica e carismática, deixando mais triste de o protagonista ser o Ikumo.

O Ikumo nunca foi um bom protagonista, mas especialmente neste filme ele parece avulso, sobrando mesmo. A história não tem qualquer conexão com ele. Ele não cresce em nenhum aspecto durante o filme. E por vezes até atrapalha, comendo parte do tempo de tela que poderia ser dedicado a personagens mais interessantes, como o vilão, mas volto nisso depois.

Civil vs Militar

Uma das coisas que eu mais aprecio na diferenciação entre Kabaneri e Attack on Titan é o deslocamento do núcleo de protagonistas. Enquanto o mangá do Isayama foca num grupo militarizado, Kabaneri foca no civil. É uma diferença sutil aos mais desatentos, mas causa efeitos completamente opostos.

Isso se dá, pois ao se ancorar num elenco civil, a história se permitir uma posição crítica para com as camadas militares. Não é uma questão de certo ou errado, é uma questão de diferente (apesar da abordagem do Isayama causar uma série de outros problemas).
Enfim, principalmente nesse filme, é muito claro a diferença das facções. Temos dois grupos militarizados, uniformes, e o grupo de protagonistas, que é heterogêneo ao ponto de ser comandado por uma mulher e possuir no seu departamento de desenvolvimento um estrangeiro. Inclusive eu amo o cuidado de ter chamado alguém com sotaque americanizado. 

Isso posto, Kabaneri destaca a todo momento como as organizações estão ali, mas pouco se importam com a população local. É apenas uma questão de cumprir a missão. Utilizando o pessoal do Kotetsujo como contraste.

Não espere no entanto um filme profundo nem nada do tipo. Como eu disse, Kabaneri se alimenta do seu conceito e direção. Com uma saborização vinda quase que diretamente do George A. Romero. Quem são os verdadeiros zumbis? O homem é o lobo do homem. Dentre outros questionamentos já mais do que revisitados pela ficção.

Se é Kabaneri, monstro gigante

O vilão desse filme é claramente também seu calcanhar de Aquiles. Não me entenda errado, é absolutamente melhor do que o Biba, mas isso não é o suficiente para considerá-lo um bom vilão.

Digo, ele é até competente como aquela ameaça silenciosa, envolto em uma aura de mistério. Inclusive o filme lidou bem com a criação (também nenhum pouco inovadora) do questionamento se os zumbis estavam criando consciência. A resposta é sem graça, mas a condução é ótima. O castelo casulo no topo da montanha também cria uma atmosfera opressiva muito bem executada.

O problema mesmo fica por conta de quando conhecemos o vilão, e cinco minutos depois ele já está derrotado. Não ajuda também ele ser apresentado por um personagem qualquer, que nem design marcante tinha. O passado dele também não é muito interessante por si só, apesar de funcionar de complemento temático pro filme.
A questão fica mesmo numa tentativa (falha) de criar um paralelo do vilão para com a Munmei e a antiga relação dela com o Biba. São muitos passos de conexão, e o passado da Munmei é bem ruim. Então é como se a história construísse um castelo de areia, fadado a desmoronar durante o processo.

Numa última tentativa de conexão, ainda insere um novo flashback, dando a entender que a Munmei conhecia a filha do vilão, mas a essa altura já é tarde demais para criar qualquer empatia por parte do espectador. Ao menos a cena de ação do trem é muito maneira. Tanto por ter a minha personagem inútil favorita, quanto pela execução da mesma.

De volta nos trilhos

Depois da segunda metade da primeira temporada, sinceramente achava que a série estava condenada. Mas esse filme me provou que não e limpou bem o terreno para um sequência. O elenco de apoio segue apagado, o Ikumo segue sem sal, mas a fundação está ali.

Dito isso, todo o subplot do romance é só terrível e deslocado. Eles mal tem química e funcionavam muito melhor na antiga relação de irmandade. Mas é um preço pagável para uma boa segunda temporada, talvez. Principalmente considerando que esse filme deixa um sentimento muito grande de side story.

Deixe uma resposta

3 pensamentos em “Kabaneri: Batalha de Unato é um passo na direção correta”