Hamefura: Todo Mundo Ama a Bakarina – Review

Hamefura ou My Next Life as a Villainess: All Routes Lead to Doom! é um anime que foi lançado na temporada de primavera de 2020. O anime é uma adaptação da novel de mesmo nome, em publicação desde 2015, escrita por Satoru Yamaguchi. Dirigido por Inoue Keisuke (Ao-chan Can`t Study) e com series composition de Shimizu Megumi (Butlers x Battlers). O anime foi animado pela Silver Link (Kenja no Mago, Bofuri: I Don’t Want to Get Hurt, So I’ll Max Out My Defense). Hamefura está disponível no Brasil através da Crunchyroll.

Sinopse: Katarina Claes, uma herdeira abastada, bate a cabeça numa pedra e consegue relembrar sua vida passada. Ela descobre que está vivendo no mundo do jogo Fortune Lover, pelo qual ela era obcecada em sua antiga encarnação… Mas ela encarnou justamente na vilã do jogo, que tenta estragar os romances da protagonista! No melhor final do jogo, Katarina é exilada! No pior final do jogo, ela morre! A vilã terá que evitar ativar as flags da perdição para criar um futuro feliz para si mesma nesta comédia romântica cheia de desencontros e mal-entendidos! (fonte: Crunchyroll)

Hamefura é um harém com temática isekai. Como tal, acho importante dizer que eu tenho pouquíssimo costume de acompanhar histórias do gênero, por pura falta de interesse mesmo. Inclusive, talvez o aspecto harém seja justamente o maior problema de Hamefura, mas estou me adiantando.

A razão para que eu quebrasse esse padrão e decidisse por ver a série até o final foi a sua protagonista. Katarina Claes carrega essa história nas costas e quanto mais próximo da personagem, melhor as coisas funcionam. Não estamos exatamente no melhor dos tempos, então ver uma personagem cujo único objetivo é ser uma versão melhor de si mesma (mesmo que com segundas intenções) foi completamente revigorante.

Falando da série em si, Hamefura tem 3 grandes momentos, o começo, o meio e o fim. Isso pode parecer um tanto óbvio, mas explico: no começo temos toda a parte da infância, no meio temos as sessões mais slice of life e no final a série decide amarrar um mistério maior. Dois destes três momentos funcionam bem, o começo e o fim.

Hamefura faz um ótimo trabalho de apresentar seu elenco, mostrar os passados e traumas de cada um e desenvolver como aquele ou aquela personagem acabou se afeiçoando pela Katarina. Acontece que depois desse momento inicial, os personagens simplesmente congelam e permancem inertes.

Imaginei que essa questão seria proposital, seria um reflexo desses personagens estarem em um otome game genérico, mas isso nunca vira uma questão. Acontece que o elenco de apoio acaba genérico por falta de manejo por parte do roteiro.

Esse efeito nos personagens varia entre cada um deles, o príncipe Alan, arquétipo do rival, e o príncipe Geordo, prometido da protagonista, mantém uma personalidade mais próxima de suas contrapartes infantis. Em contrapartida a que mais sofre é a Mary Hunt, melhor amiga da Katarina e que a série precisou me relembrar qual era pra ser o quirky em seu episódio 11.

De maneira geral, o que sobra do elenco durante a parte do meio da série é como todos eles tem interesse romântico pela Katarina, que como boa protagonista de harém permanece completamente alheia aos avanços do elenco. Acontece que a série, por sua parte cômica, tem como piada recorrente que para onde a Katarina vai, todos os outros 7 interesses românticos vão junto. Isso rende momentos engraçados, mas com um elenco tão grande presente o tempo todo acaba faltando espaço para trabalhar os micro-conflitos.

Assim, todos com exceção da Katarina tem como único objetivo depois de suas respectivas introduções conseguir namorar a garota. Meu problema com isso é que eles acabam ficando redundantes, se dois personagens fossem amalgamados em um só, pouca diferença faria. Outra questão é que eles acabam extremamente unidimensionais, não são personagens que querem algo e se interessam pela Katarina, são shippings em potencial para o expectador.

E é no mínimo irônico que, enquanto eles eram crianças, a coisa que eu mais queria era que o tempo passasse logo para os conflitos do colégio acontecerem. Só que Hamefura não é exatamente uma série de grandes conflitos. Sim, é claro, nós temos o grande conflito que encerra a temporada, mas fora dele tudo acontece de forma muito pacífica.

É inclusive meio bizarro como a maior parte dos personagens de apoio tem total consciência do harém que se formou no entorno da protagonista, mas mesmo assim eles mantém a compostura e a cordialidade. São as tentativas de passada de perna mais classudas que podem ter.

Agora voltando a Katarina, a coisa que eu mais gosto na personagem é como ela não posa como a salvadora de nenhum daqueles personagens. A única coisa que a protagonista ativamente faz é estender um ombro amigo para que os próprios personagens consigam se entender consigo próprios. Principalmente porque a maior parte dos conflitos é externo a eles e vem de como eles são enxergados naquela sociedade.

Claro que a outra parte boa da Katarina são os momentos cômicos, em especial os grandes tribunais dentro da cabeça da protagonista com as personalidades se chocando para chegar numa conclusão. Só acho uma pena que depois de uma altura da série, apenas a faceta gulosa da Katarina é utilizada, e ela acaba uma versão simplificada de si própria. Katarina fazendeira melhor Katarina.

Falando do humor, eu normalmente não comento adaptações aqui, mas a de Hamefura está de parabéns. Realmente recomendo que quem for assistir o faça pela versão brasileira disponível na Crunchyroll, as legendas estão completamente maravilhosas e intensificam a qualidade das piadas.

Agora eu queria tirar um tempinho para falar do qualidade de produção do anime. É bem ruinzinho de maneira geral, a começar pelos char designs, que parecem personagens de figuração de algum outro anime. E isso não é culpa do material original em si (ao menos até onde averiguei) as versões do anime parecem ainda mais aguadas que suas contrapartes em novel ou no mangá.

O trabalho de direção tenta segurar o pouco que tem e acaba entregando cenas decentes, mas a série tá lotada de cenas estáticas, em sua maioria de qualidade duvidosa. Inclusive, o grande drama da personagem da Sophia é “ela ser feia e diferente demais”, mas isso fica só no roteiro mesmo, o visual não consegue transpassar de forma alguma o sentimento.

Dito isso, eu gosto bastante de uma cena em específico do episódio 11 em que temos um por do sol e o chão começa a quebrar dentro de um prédio. Ou da cena do machado logo no primeiro episódio. Inclusive a série usa pouco CG, mas quando usa é completamente terrível, não existe sequer um cuidado de posicionar direito os elementos para que eles façam parte daquele mundo.

Falando em mundo, o anime tenta pincelar aqui e ali umas doses de lore mágico para esse universo de isekai, mas é tudo absolutamente genérico e esquecível. Felizmente não é uma história focada nas magiazinhas que aparecem esporadicamente, porque elas são muito sem graça.

Hamefura acaba por sofrer de uma espécie de maldição da Netflix, aquela maldição de ter uma gigantesca barriga no meio para justificar a exibição de 12 episódios, de qualquer forma a série consegue retomar o fôlego em sua perna final, mas para falar disso precisarei entrar em spoilers…

Certo, eu agora que estamos aqui, preciso dizer que eu tenho alguns problemas com a premissa e a mescla que ela faz com o harém. Viu, eu disse que voltaria para abordar o motivo do harém ser o pior aspecto de Hamefura.

A grande questão é que a própria Katarina acredita até o fim da temporada que está correndo completo risco de seguir uma das Rotas de Destruição. Acontece que já está completamente claro do momento em que o time-skip ocorre que isso é passado. Ela já formou uma amizade sólida com todos aqueles personagens, ou algo a mais que isso.

Eu não tenho muito problema com a própria Katarina acreditar que ainda pode ocorrer, mas a própria série parece acreditar em seus mistérios, mesmo depois dela fazer biscoitos na casa da Maria. O aspecto harém também impede que os personagens avancem para além do próprio dating sim, inclusive nesse aspecto fico esperançoso para os rumos que a segunda temporada irá traçar. Mas basicamente esse harém chove não molha precisa ser mantido até o roteiro do jogo acabar, afinal é assim no jogo original.

Outra questão, que eu sei que não é a ideia, é isso ser originalmente um jogo. Existe uma mensagem meio (ou bastante) ruim em Hamefura quando a garota volta para a escola e a melhor amiga dela manda um “volte para seu mundinho do jogo e viva dentro dele”. Eu sei que não é a ideia do anime, mas certas coisas acabam embutidas de fábrica quando se escolhe um gênero.

De qualquer forma eu gosto do momento brega de todo mundo que ela ajudou torcendo pela recuperação, é bonitinho e quebra o marasmo que a série havia se enfiado. Quanto ao flashback do Sirius, é um tanto quanto pesado demais para o tratamento que a série dá e acaba meio abrupto, mas nada que estrague a experiência geral.

Hamefura definitivamente não é o melhor anime que você vai ver esse ano. Mas é uma experiência gostosa e relaxante que te manterá preso durante os doze episódios. A mensagem pode ser boba, mas acaba sendo bom de ver alguém só mudar o ambiente ao seu redor sendo gente boa demais, principalmente no cinismo que estamos mergulhados e tudo mais. De qualquer forma fico curioso para os rumos que a série tomará em sua vindora segunda temporada.

Eai, viu Hamefura? Amou? Odiou? Diz aí o que achou e, claro, qual o próximo anime que deve aparecer por aqui.

Deixe uma resposta

2 pensamentos em “Hamefura: Todo Mundo Ama a Bakarina – Review”