Ponko das Estrelas e Reiko da loja de Tofu – Review

Ponko of the Stars and Reiko of the Tofu Shop é um mangá de volume único lançado em 2013. Com arte de Tony Takezaki (Geno Cyber, AD Police) e roteiro de Shinji Ohara (Panorama Delusion, Kurofune) o mangá foi publicado na Afternoon (Blame, Voices of a Distant Star). O mangá permanece inédito no Brasil.

Sinopse: Nada do que eu escrever aqui fará jus a experiência, leia sem saber nada!

Prólogo

Ponko foi uma experiência transformadora. Daquelas das quais só se tem uma vez na vida. Existe uma versão de mim pré Ponko e uma versão pós. Imagino que não seja sequer possível ler Ponko. É necessário viver Ponko, a cada página, cada virada de roteiro sem pé nem cabeça, cada maluquice que só pode ter vindo da cabeça de um lunático.

Mas eu nem sempre fui assim, no tempo pP, ou pré-Ponko, eu achava que conhecia a ruindade, o aleatório, o bizarro. Então decidi explorar, arriscar nesse ambiente de depravados que é a internet. Pesquisar o que um completo estranho indicaria, só queria um mangá curto, algo para esse exato texto.

Entre uma tonelada de recomendações, algumas já conhecidas, outras pouco apetitosas, uma capa me chamou atenção. Era uma dupla de irmãos, e o que parecia um tipo de mascote fofinho.

A arte carismática, e o nome curioso me fizeram dar uma chance ao mangá. O leitor deve estar se perguntando se vale a pena ler Ponko. Hora, caro leitor, obviamente que sim! Não importa o quão sínico você seja no consumo de mídias, Ponko vai te pegar no contrapé.

Claro que isso não é um sinal de qualidade, mas o grau de randomicidade nesses três capítulos é tão gigantes que você não estará preparado, pois nem se é possível estar. Por isso eu te peço, não estrague sua própria experiência, vá lá e testemunhe Ponko, ao terminar a peregrinação, eu estarei aqui, para nossa congregação semanal.Hoshi no Ponko to Toufuya Reiko Vol.1 Chapter 1 : Good Afternoon, Ponko-Chan page 4 - Mangakakalot.com

Capítulo 1: Boa tarde, Ponko-chan!

Uma família pacata de vendedores de tofu está passando por dificuldades financeiras. Eis que os filhos dessa família encontram um animal esquisito no mato, e decidem levá-lo para casa. Esse animal é nada menos que uma alienígena vendedora de bugigangas. A bugiganga em questão é um duplicador de coisas, a filha mais velha, empolgada em resolver as dívidas dos pais, acaba por aceitar, e descobre tarde demais que estava assinando um contrato com o demônio.

O mangá de três volumes tenta com muita força ser uma espécie de subversão ao trope clássico de Doraemon. Uma fanfic digna de um adolescente edgy, no qual ao invés de aventuras malucas, o bichinho fofinho se torna uma sucubus e mata o caçula da família.

Mas a história não está satisfeita apenas com isso, então a sucubus foge e acaba encontrando um yakuza drogado, que injeta heroína e acaba deixando a mesma também viciada. Cinco anos se passam e a garota quer vingança, agora uma adolescente hikkikomori.

O grande problema é que Ponko não trabalha nenhum desses conceitos no primeiro capítulo ou nos subsequentes. É um desespero tão gigantesco em ser chocante que esquece de contar uma narrativa por trás. Tem toda uma questão de tradição vs mudança que não dá em nada. Tem toda uma questão da garota querer manter a loja a todo custo, que não dá em nada. Pensou tanto no que podia fazer, que esqueceu de se perguntar se devia fazer.

Capítulo 2: Virgindade e arma

E com isso alcançamos o nosso segundo capítulo. Nossa querida sucubus drogada, Ponko, agora vive como esposa de um líder da yakuza. Em troca de doses cavalares de crack e comida, ela entrega uma dúzia de máquinas replicadoras.

Do outro lado temos a garota, que usa do dinheiro para contratar uma série de mercenários caseiros para invadir a casa do chefão do crime. Uma carnificina desenfreada acontece, sem nunca ficar claro se o mangá quer que você se choque ou ache graça, falhando em ambas as pontas.

A Ponko, do mesmo jeito que se tornou viciada, deixa de estar e mata a maior parte dos yakuzas. Uma coisa curiosa é que a história deixa meio claro que o esquadrão da menina protagonista são um bando de lunáticos de estrema direita japoneses. Outra questão que nunca vai para lugar nenhum, obviamente.

O “par romântico” da garota é uma vergonha a parte. Uma tentativa bizarra de herói self insert que acaba morto (só para ser revivido no capítulo seguinte). A morte dele sequer tem tempo de respirar, porque o roteiro precisa adicionar um novo personagem, o policial alien. Um personagem em grande medida cômico que ressuscita o irmão da protagonista.

Capítulo 3: Estrada para casa

Só que temos um problema, o irmão retorna do mesmo jeito de como foi morto. Isso é, enquanto para a família passaram-se 5 anos, para ele, foram minutos.

Uma coisa curiosa é como o roteiro lida com essa questão, obviamente que muito mal. Ao invés de trabalhar uma ideia de seguir em frente, os personagens criam uma ilusão para o garoto de que o tempo não passou. Voltando a se vestir como no passado, e a protagonista até se duplica, deixando uma versão mais nova com o irmão.

A história então assume que o final feliz seria que a família vivesse numa redoma de ilusão. Uma mentira confortável com um cópia de alguém que já se foi. E isso não é desenvolvido como algo trágico ou mesmo triste. Como uma família que não superou a perda de um dos filhos e ficou devastada. Muito pelo contrário, é colocado como um retorno a normalidade, como se aqueles cinco anos tivessem sido um momento de pausa na vida daquelas pessoas.

Esse negacionismo acaba por se conectar com a loja de tofu, falida e empurrada pra frente com a barriga. Eles seguem vivendo algo que está fadado ao fracasso por ser mais fácil, mas a própria narrativa do quadrinho não consegue perceber o que está construindo.

De maneira geral, todos os acontecimentos não geram nenhuma consequência real. A menina vingativa se dividiu, mas vai viver com um clone do seu amado. A família perdeu o filho, mas recebeu um substituto semelhante, assim como um simulacro de filha. Mesmo a sucubus, que causou todo o caos, no final das contas segue em altas aventuras com a protagonista pelo espaço afora.

Conclusão

Eu queria dizer que gostei da experiência, queria mesmo. Mas a verdade é que Ponko é um mangá absolutamente vazio, ele finge que vai trabalhar temas, finge que vai trabalhar personagens, tudo isso para no final entregar uma história sem pé nem cabeça.

Talvez Ponko seja o melhor exemplo de uma história escrita por um adolescente. Não que o autor seja um, mas se comporta como tal. Desde sua base, Ponko nada mais é do que uma tentativa pobre de explorar uma “versão dark” de Doraemon, sem nunca ter sequer parado dois segundos para pensar o motivo de criar essa versão.

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