Voices of a Distant Star é uma sólida adaptação – Review

The Voices of a Distant Star é um mangá de volume único que foi lançado em 2004. Adaptação do filme homônimo de Makoto Shinkai (Your Name, Jardim das Palavras) pelas mãos da Sahara Mizu (Bus Hashiru, Itsuya-san) e publicado na Afternoon (Genshiken, The Gods Lie). O mangá foi publicado no Brasil pela Panini em 2010.

Sinopse: The Voices of a Distant Star conta a história de Mikako Nagamine e Nobou Terao, um casal que nunca teve a real chance de se concretizar. Isso acontece porque Mikako acaba sendo obrigada a ir para o espaço enfrentar uma raça alienígena. O mangá conta sobre o relacionamento a distância e é a adaptação do filme de estreia do Shinkai.

Pacing e quadrinização

Eu não sou o maior dos fãs do Makoto Shinkai. De maneira geral, mais não gosto dos filmes dele do que o contrário. E o Voices of a Distant Star não cai fora dessa linha. De maneira geral, apesar do feito técnico de produzir um filme no quintal de casa, não sobra muito o que apreciar na estreia do diretor.

É corrido, mal animado, sem graça e pouco trabalhado. Novamente, é incrível que ele tenha produzido um filme basicamente sozinho, ao mesmo tempo em que não há muito além a ser tirado de lá.

E qual não foi a minha surpresa ao ler a adaptação pra mangá. The Voices of a Distant Star mangá pega o rascunho de uma narrativa com potencial e cria algo realmente interessante. E isso se dá pela narrativa se permitir ter espaço para crescer com o leitor.

O trabalho de quadrinização da Sahara Mizu é todo focado em passar para o leitor uma sensação de angústia, de marasmo. O tempo se prolonga, se carrega, se recusa a avançar. Mas a artista não faz isso por meio de páginas carregadas de texto, muito pelo contrário, entrega várias sequências de página dupla sem texto algum.

É um tanto curioso que para um mangá com robôs gigantes enfrentando alienigenas, basicamente inexistem batalhas. Durante as mais de duzentas páginas, a maior parte do tempo é preenchida com os personagens em seus cotidianos, seja o fantástico da Mikako, seja o mundano do Nobou. Uma monotonia angustiante de um relacionamento impossível.

Alienígenas e humanidade

Falando em curioso, um outro aspecto digno de nota é o quão pouco sabemos sobre os tais alienígenas. Isso é obviamente intencional, para uma história que fala sobre comunicação. O ponto mais distante de comunicação possível para a humanidade é representado por criaturas literalmente de outro planeta.

O roteiro também deixa bastante claro que nós, enquanto espécie, nunca tivemos sequer desejo de contato. O primeiro impulso foi o conflito, um conflito que não deixa sinais de que irá acabar. Um conflito sobre os personagens não possuem qualquer agência real. Eles podem dizer a si mesmos que são importantes ou ordinários, mas no final são só mais uma engrenagem da grande máquina.

De forma semelhante a uma engrenagem, a personagem da Mikako não possue realmente um controle sobre o seu destino. Ele já foi traçado, desde muito antes, é muito maior do que ela. Aqui, pulando fora do clássico herói destinado, temos uma pseudo-heroína frágil, que só desejava o papel de um figurante qualquer.

Mas nem tudo são flores no que tange os alienígenas. Exatamente por não ser o cerne da história, é um tanto bizarro o quão carregado em exposição o começo da história é. Em sua maior parte com informações que não realmente agregam pro roteiro, além de truncar a leitura.

Passagem do tempo

Uma coisa que eu, simultaneamente aprecio e desgosto no mangá é toda a ideia de usar uma passagem realista de tempo. Numa espécie de Gunbuster moderno, o mangá tem seu real foco na diferença das passagens de tempo. Enquanto o Nobou permaneceu na Terra, envelhecendo normalmente, a Mikako viajou para os confins do sistema solar, e se manteve jovem.

Enquanto eu gosto de uma perspectiva de conceito, utilizando uma visão mais próxima da realidade com direito a todas as mazelas de um relacionamento a distância podem causar, desgosto na perspectiva da conclusão.

Explico, toda a questão do mangá é que não importa a distância, o amor sempre vai vencer. Além de clichê e bobo, é uma escolha um tanto bizarra ao se pensar que no final das contas o Nobou vai ter quase 30 anos enquanto a Mikako se mantém menor de idade. É uma visão muito romanceada da ideia de amor, que por si só não realmente casa com a forma realista com que a história aborda o seu lado sci-fi.

Pra além disso, fica uma grande sensação que o personagem do Nobou viveu sua vida em razão de um passado. Um primeiro amor de colégio que não existe mais. Uma idealização do tipo que todos temos de vez em quando, mas que deveria permanecer lá, no passado.

Ao invés disso o roteiro opta por entregar ao personagem a realização desse sonho. Mesmo que não diretamente, acaba por deixar basicamente claro que eles irão se encontram mais cedo ou mais tarde. O que vai de encontro com a experiência de virtualmente todos os outros personagens da trama.

Voices of a Distant Star

Mesmo com esses probleminhas do final, Voices of a Distant Star ainda é um mangá para se ser lido. A história passa muito bem a sensação de desolamento, da saudade de alguém que não está mais lá.

Dito isso, o mangá tem uns probleminhas de design, com os personagens ficando um tanto quanto confusos de tempos em tempos. Como a autora gosta de por vezes não colorir os cabelos, fica parecendo que é um outro personagem em uma ou outra cena. E especialmente uma transição pelo meio do mangá, em que trocamos de núcleo repentinamente e simplesmente não dá pra entender que a mudança ocorreu.

Fora isso, é uma boa leitura, mesmo que um final mais amargo talvez fosse mais condizente com o tom geral da obra. Algo que, se não me falhe a memória, foi o que o Makoto Shinkai optou pro filme.

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