Jujutsu Kaisen, o battleshonen millenial

Jujutsu Kaisen é um mangá em publicação desde 2018. O mangá é escrito e ilustrado pelo Gege Akutami, em andamento na Weekly Shonen Jump (Promised Neverland, Kimetsu no Yaiba). Atualmente Jujutsu se encontra próximo a marca de cem capítulos. O mangá deve sair no Brasil ainda no segundo semestre desse ano, pela editora Panini. Uma adaptação está em produção pelo estúdio MAPPA.

Sinopse: Yuji Itadori é um adolescente quase normal, não fosse sua força sobre humana. Um acidente em seu colégio o tornam o receptáculo do Sukuna, a maldição mais forte do mundo. É então que o jovem Itadori entra em contato com o mundo do Jujutsu, uma força especializada no combate de maldições. Mas nem todos são favoráveis a presença do garoto, e assim começa a história do mangá…

De maneira semelhante ao texto recente de Solo Leveling, Jujutsu também é um mangá em publicação. Ou seja, isso que você está lendo não se trata de uma review, ao mesmo tempo em que já temos material o suficiente para formação de uma opinião mais embasada sobre a obra.

Jujutsu foi uma experiência curiosa. Vi seu nascimento a distância, com eventuais imagens postadas no Twitter de tempos em tempos. Também flutuava por lá uma certa ideia que se tratava de um Bleach 2.0. O traço de fato lembra bastante, mas o texto não poderia ser mais distante.

Mas antes de traçar as diferenças, acho que é bastante claro de onde vem as semelhanças. Um mangá de porrada mais estilosinho, com uma história seguindo um garoto enfrentando maldições. De fato não está tão distante do primeiro arco do Tite Kubo, quando o Ichigo ainda enfrentava Hollows.

O que as pessoas falham em notar, é que as influências do Akutami são semelhantes as do Kubo. E essas influências vêm diretamente de um outro battleshonen da Jump, Yu Yu Hakusho. O autor de Jujutsu é tão influenciado pelo primeiro trabalho relevante do Yoshihiro Togashi que faz citações diretas a ele em dado momento do mangá.

Uma coisa que sempre me interessa de buscar em autores, sejam eles mangakás ou não, que eu gosto são suas influências. Uma espécie de “quem inspira os que me inspiram”. É no mínimo curioso que Jujutsu não precise fazer essa busca, está lá, estampado para todos verem.

De Neon Genesis Evangelion à Shin Megami Tensei, Jujutsu Kaisen é um caldo cultural de alguém crescido nos anos 90. Isso não faz o mangá ficar sem identidade, muito pelo contrário, mesmo que você consiga nomear as referências, o autor é habilidoso o suficiente para tomá-las para si e formar um todo coeso e próprio.

Um grande medo que eu tinha antes de começar a ler era de ser apenas mais um mangá edgylord que se finge de adulto. E veja, Jujutsu é uma história mais pesada que a média da revista, tanto no nível temático quanto gráfico, mas não é isso que a faz brilhar.

O brilhante de Jujutsu é a habilidade com que o Akatami controla o elenco. Eles se complementam e servem de suporte uns aos outros. Os vilões não são tão vilões, os mocinhos não tão mocinhos. Só que isso não é feito com o sorriso sádico de um adolescente revoltado.

Em Jujutsu os personagens de fato se conectam uns aos outros, formam laços, quebram os mesmos. Quando tudo é cínico e com terceiras intenções, como esperar que o leitor tenha qualquer empatia pela coletânea de arrombados que forma o elenco? Por isso mesmo Jujutsu escolhe o caminho da sinceridade, tomando as lições certas de Hunter x Hunter, entendendo que o mangá não seria nada se a amizade entre o Gon e o Killua não fosse absolutamente genuína.

Isso não quer dizer que ele toma todas as lições certas de Hunter. O sistema de poderes de Jujutsu, por exemplo, demonstra a ainda imaturidade do autor. Nunca fica muito claro como cada poder funciona, quais suas limitações e regras. É mais ou menos o que seria se o próprio Togashi tivesse criado o nen sem um verdadeiro laboratório no arco do Sensui. 

Dito isso, Jujutsu tem um dos melhores usos do personagem ridiculamente overpower que eu já vi na mídia. Isso se dá por ele fazer a escolha de deslocar esse personagem na narrativa. Ao invés de uma power fantasy onde o protagonista é um semideus, comum a vários isekais, Jujutsu opta por dar esse poder ilimitado justamente ao mestre do protagonista.

Satoru Gonjou é o ser mais poderoso daquele universo. E o universo sabe e reage ao fato dele ser absolutamente todo poderoso. É intrigante de ver como o Akutami consegue manipular o tabuleiro para que seja crível que existam riscos, afinal o Gonjou pode e vai resolver qualquer conflito que tiver acesso. O mangá não foge disso, muito pelo contrário, assume o risco e, tal qual em seu sistema de batalha, usa como catalisador.

Ainda na questão porrada, o trabalho de traço e quadrinização é muito acima da média. Principalmente da média da revista. Os únicos mangás com melhor controle narrativo em cenas de ação na Jump atual sejam Chainsaw Man e Haikyuu.

E pra além disso, diferentemente de Kimetsu no Yaiba, Jujutsu Kaisen é um produto de seu tempo. Jujutsu só poderia existir nos dias de hoje, suas discussões, seus dilemas, seus personagens são frutos da nossa era pós-moderna. Enquanto Kimetsu poderia tranquilamente ter saído dez ou vinte anos atrás sem mudar sequer uma vírgula. O mangá do Akutami é um brilho sobre o que os battleshonens podem ser daqui pra frente, e eu mal posso esperar por mais deles.

Esse texto só foi possível graças ao Caio Coelho, que ficou me enchendo o saco pra ler Jujutsu. Valeu Coelho!

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