Burn the Witch: Uma Pílula de Kubo-sensei

É claro que eu escreveria sobre Burn the Witch. O Tite Kubo (Bleach, Zombie Powder) é uma personalidade muito distinta no mundo dos mangás para eu simplesmente deixar a oportunidade passar. Inclusive, clique aqui para mais textos sobre mangás deste maravilhoso autor.

Mas do que se trata Burn the Witch? Burn the Witch é o recém lançado One Shot do autor, publicado na Weekly Shounen Jump. E conta a história de Noel Niihashi, uma bruxa, em seu dia a dia lidando com dragões. Aliás, saudades de quando os títulos dos mangás do Kubo só não significavam nada, chamar um mangá em que sua protagonista é uma bruxa de…Queime a Bruxa, é no mínimo de mau gosto.

Ser ou não ser um one shot

 

É muito difícil de se encontrar um bom One Shot, assim como é difícil achar um bom conto. A maioria dos autores simplesmente acha que um one shot nada mais é que um capítulo 0, por assim dizer, e os tratam como uma plataforma para vender uma série longa. E esse não é um problema exclusivo os orientais, pode pegar qualquer “Henshin Mangá” e verá o mesmo problema sendo repetido por quase todos os ganhadores.

E esse é o maior defeito de Burn the Witch, ele parece o capítulo 1 de um mangá cancelado da Jump. Todos os traços de um mangá cancelados aparecem aqui:

  • Roteiro extremamente previsível (depois da metade eu sabia exatamente pra onde a história ia caminhar);
  • Info dump para construir o mundo, no desespero de parecer relevante;
  • Sociedade excessivamente complicada logo de começo.

Tudo isso pode até talvez funcionar em uma história longa de começo fraco, mas Burn The Witch é um one shot, então isso é tudo que teremos dela.

 

Os personagens de Burn the Witch

 

Burn the Witch é uma história com 4 personagens, mas talvez devesse ter menos. Digo isso, por que mesmo com 4 personagens, ainda fica um gosto de que eu não conheço nada sobre nenhum deles.

Podemos começar pela protagonista. O mangá abre com uma narração em off da Noel, onde ela nos diz “eu gosto de uniformes, eles fazem com que eu não tenha que provar pra ninguém quem eu sou”, o que PODERIA ser interessante, talvez, em uma série.

Essa frase, que define a personagem, é então seguida de pessoas objetificando a garota por ser sexy, e foi então que eu saquei o verdadeiro motivo da frase de definição da personagem. Essa frase foi um grande “não se sinta mal, caro leitor, por objetificar essa colegial, ela não se importa”, afinal, o centro emocional do capítulo, está no Balgo, o personagem definido por “quero ver a calcinha da protagonista”.

Mas consigo dizer que tem um tema de identidade vs aparência acontecendo nesse one shot. Além da protagonista, sua parceira Spangle Ninii é uma modelo, e está constantemente preocupada com o que é bonitinho ou bem aceito (destaque para ela reclamando que a amiga é muito weeabo em vários momentos), e o dragão do mal ser uma espécie de mímico (assume uma aparência não real).

Mas o problema, é que mesmo que ele tenha uma coesão aparente na temática, a conclusão da luta passa a idéia de que o que importa é a sua aparência mesmo, e é uma “discussão” que não tem qualquer efeito sobre a protagonista.

Não existe uma conexão real entre a protagonista e a narrativa, mesmo olhando num primeiro nível. Ela conhece de vista o cara cujo amigo era um dragão. Muitos passos para se dar, e pessoas para se importar, em menos de 70 páginas.

 

Simplicidade é importante

 

Acho importante olharmos o mundo de Burn the Witch e, principalmente, a forma como ele nos foi apresentado. Burn the Witch, em MENOS DE 70 páginas, nos apresentou que esse universo possui dragões, que por sua vez possuem diversas espécies, que por sua vez podem ser bonzinhos ou malvados dependendo da interação com humanos. Nos apresentou que existem duas cidades de Londres, uma mundana e uma mágica, e que é necessário ser um bruxo para acessar essa Londres mágica. Nos apresentou uma organização, que possui diversos níveis hierárquicos, em que os membro se dividem entre caçadores, e cuidadores.

Isso é uma tonelada de informação, mas não é só isso, já que descobrimos no final que essa é, nada mais, nada menos que a Soul Society Ocidental.

Dessas informações, quase nada é relevante para o roteiro, e quase nada é apresentado de forma orgânica durante a narrativa. É um desespero pra tentar criar relevância para a história que está sendo contada que eu esperaria de um novato, não de um cara que tem 20 anos de experiência no mercado.

Só de enxugar essa “construção de mundo”, o Kubo teria espaço mais que suficiente para, sei lá, mostrar uma conexão real entre a Noel e o Balgo, para que eu, quem sabe, me importe com o que está acontecendo. Tipo o que autores fazem em histórias boas.

Ao invés disso, temos uma tonelada de informações pra podermos atualizar a wikia de Bleach.

Aliás, essa conexão com Bleach nem faz sentido. Não existe nada que faça a ponte entre dragões e almas, as bruxas não são um equivalente cultural aos deuses da morte, e a Londres mágica não tem nenhuma menção de ser habitada por mortos. Mas temos o twist no final para o fã ficar empolgado, por que o Kubo não se importa em fazer um roteiro, o Kubo se importa com o seu dinheiro.

Deixe uma resposta

2 pensamentos em “Burn the Witch: Uma Pílula de Kubo-sensei”