Shuumatsu no Walkure, porque nem só de filosofia vive o homem.

Shuumatsu no Walkure ou Record of Ragnarok é um mangá em publicação desde 2017. Com roteiros de Takumi Fukui (Boku to Akumu to Onee-san, Cerberus) e Shinya Umemura (Chiruran: Shinsengumi Chinkonka, Tenshou no Ryoma) e arte de Chika Aji (Shoukoku no Altair Gaiden: Toukoku no Subaru). O mangá foi publicado na Comi Zenon (Souten no Ken: Regenesis, Arte) e está atualmente com mais de 30 capítulos lançados. O mangá permanece inédito no Brasil.

Sinopse: o dia do julgamento chegou mais uma vez e os deuses precisam decidir se a humanidade pode seguir viva por mais mil anos ou merece ser exterminada. Por decisão unanime, decidem por seu extermínio, mas são convencidos por uma valquíria, Brunhilde, a entrarem numa disputa pela sobrevivência da humanidade. Treze deuses e treze humanos entraram em embates 1×1 para garantir o desaparecimento ou a morte da raça humana.

Porrada no Walkure

Shuumatsu no Walkure é um caso curioso, tomei conhecimento dele através de um vídeo do saudoso Matheus All Blue e decidi dar uma lida para ver se era tudo isso mesmo. Cá estou eu 32 capítulos depois para dizer que é. Mas claro que eu não poderia criar um texto com três paragrafos falando “Shuumatsu no Walkure é muito daora, boas porradas, vão ler”, não é por isso que vocês acessam esse site, tenho certeza.

De qualquer forma ainda passando pela parte das lutas, acho um tanto interessante como Walkure faz uma crescente narrativa, com lutas progressivamente mais complexas. Começamos numa luta básica de porradão e lentamente vamos escalando até termos elementos do cenário interferindo nos resultados. Não é nada absolutamente novo ou exclusivo, mas muito bem aplicado.

Ainda nesse sentido, talvez Walkure seja o primeiro mangá do estilo que consegue chegar próximo do impacto que Kengan Ashura coloca em seus combates. Mesmo que por vezes a história perca o equilíbrio entre a galhofa e o sério, caindo para um lado muitas vezes apenas bobo, Walkure sabe jogar com o leitor.

Digo jogar com o leitor no sentido da emoção do mesmo, o quadrinho é muito safo em onde colocar cada invertida, deixando sempre um sentimento genuíno de dúvida em quem vai vencer o embate. Além disso ele trabalha muito bem o vai e vem da torcida (na maior parte dos casos). Uma hora você está ao lado dos deuses, na outra dos humanos, e esse balanço é sempre muito orgânico e bem executado.

Mitos e lendas

Agora eu vou adentrar um pouco mais na parte do roteiro de Walkure, ou seja, se para você isso é irrelevante nesse tipo de mangá, pode ir lá, boa leitura, como eu já disse, recomendo Walkure.

Enfim, Shuumatsu no Walkure se utiliza de personagens lendários e ou fictícios, de ambos os lados. A menos que alguém acredite na existência de um Adão, por exemplo. A questão é que o mangá não se fixa necessariamente aos mitos mais correntes de cada um de seus personagens.

Walkure se apropria do elenco e desenvolve uma versão própria dos mitos, não digo isso como crítica, mas como característica. Caso você seja um purista das mitologias, pode chegar a incomodar, como alguém que não conhece muito do assunto, não senti muitos problemas.

De qualquer forma, ao se apropriar dos personagens, Walkure cria os mais diversos resultados. Existem aqueles que se tornam mais interessantes, como o próprio Adão, e aqueles que acabam mais rasos, como o Hércules. O saldo geral acaba num elas por elas, para cada personagem que melhorou, temos um espelho que piorou na mesma quantidade.

Ainda nesse aspecto, um grande problema que eu tenho com essa disputa entre deuses e humanos é que me falta uma linha mais forte entre os grupos. Digo, o que faz os deuses serem deuses? Eles são tão humanos e emocionais quanto os próprios humanos. E isso não parece necessariamente parte do cerne da história, parece mais uma ocorrência acidental decorrente da escolha dos participantes.

Estamos atualmente na quinta luta de Walkure, até aqui, três dos deuses foram deuses gregos, incluindo o Hércules. No longo prazo o personagem do Hércules seria muito interessante, o humano que se tornou deus e fica no meio do caminho, servindo como uma ponte entre os dois lados. O problema é que inexiste uma diferenciação entre o Hércules e qualquer outro deus, ele parece apenas mais um. Isso enfraquece o momento do próprio personagem lutando, por não ter tanto contraste quanto poderia.

Construção a longo prazo

Um outro pequeno grande problema de Walkure está justamente no cerne da história. Cada lutador, vencendo ou perdendo, pode lutar apenas uma vez. Isso faz com que cada luta precise ser o começo, meio e fim do arco daqueles personagens. Descontando alguns poucos, como a própria Brunhilde, a maioria dos personagens está concentrado no próprio cercadinho.

Isso faz com que não possamos ter uma arco longo dos personagens, eles acabam muito mais circunstanciais. Usando o próprio Kengan Ashura como contraste, os melhores momentos do mangá só são atingidos porque o elenco tem tempo para respirar e crescer no coração do leitor, para o bem ou para o mal.

Isso pode ser revertido, claro, afinal o mangá ainda está em publicação. Principalmente porque eu tenho severas dúvidas que esse torneio permanecerá nos conformes até o final, mas mesmo assim do jeito que as coisas vão, alguns personagens ali mereciam um espaço maior do que tiveram.

Dito isso, o trabalho em cima da Brunhilde está bastante interessante. Novamente não é a coisa mais inovadora do mundo, mas ainda assim é bastante sólido. A grande estrategista que precisa enviar as próprias irmãs para uma morte quase certa enquanto se mantém impassível, tudo isso em prol de uma suposta humanidade. Existem mais do que indícios a essa altura que o desejo dela é mais a destruição dos deuses que a sobrevivência dos humanos, mas aguardemos para onde esse barco rumará.

Record of Ragnarok

Shuumatsu no Walkure é um mangá muito gostoso de ler e que sabe exatamente o que quer ser. Mesmo que essa coisa que ele almeja tenha sua parte de problemas aqui e ali, ainda acho ótimo que o mangá não fique queimando tempo tentando abraçar o mundo.

Além disso, as lutas em si entregam o que precisa para prender o leitor no momento à momento. É só que esse tema tem tanto potencial que realmente queria que o mangá desse o passo além. Ainda é possível, mas por enquanto um tanto improvável.

E você, leu Shuumatsu no Walkure? Gostou? Odiou? Diz aí o que achou e, claro, qual o próximo mangá que deve aparecer por aqui.

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