Sweet Poolside: Unidos pelos pelos – Review

Sweet Poolside é um mangá de 1 volume lançado no Japão em 2004. Escrito e ilustrado por Shuzo Oshimi (Happiness, Inside Mari) e publicado Bessatsu Shonen Magazine (Attack on Titan, xxxHolic). O mangá ainda teve uma adaptação para cinema em 2014 com direção de Daigo Matsui. O mangá permanece inédito no Brasil.

Sinopse: dois membros do clube de natação do colégio se entrelaçam por aquilo que eles tem ou que lhe faltam, pelos. Ota é um garoto pelado, enquanto Goto é uma garota peluda. A união dessa dupla se desenvolve na descoberta do primeiro amor, das depilações e do que se espera de cada gênero.

As bases do Oshimi

Sweet Poolside é a segunda publicação serializada do Oshimi e isso é bastante notável. Notável em seu traço, ainda muito menos rebuscado que as produções mais recentes, como Blood on the Tracks ou os já citados Happiness e Inside Mari.

As pinceladas estão muito mais inseguras, com um desenho muito mais tremido. A composição das páginas é mais ortodoxa e até mesmo as referências escapam muito mais a vista. Em especial, algumas caras e bocas que são extraídas quase que diretamente do mestre do horror, Junji Ito.

O roteiro segue pela mesma linha. Por se tratar de uma obra de volume único, não há um grande espaço para o desenvolvimento de problemas complexos. Mesmo que o tema de parafilias e puberdade já se faça presente desde aqui (possivelmente até mesmo desde antes), tudo que é feito é muito mais simples e direto ao ponto.

Sweet Poolside tem um total de dois personagens e um punhado de figurantes. Vamos entrar mais a frente neles, mas talvez a questão mais interessante do quadrinho seja o capítulo extra. Nele, um Oshimi mais maduro revisita os personagens. O ano é 2014 e o capítulo é uma comemoração ao lançamento do filme.

Através desse capítulo é possível ver o verdadeiro abismo que o autor atravessou em meros dez anos. Simplesmente tudo está melhor, de narrativa à simbolismo. Vale muito ler o mangá só pra ver essa mudança de uma década.

Inseguranças adolescentes

Adentrando realmente no quadrinho, a questão mais interessante trabalhada por ele é sobre a insegurança. Em maior ou menor grau, qualquer um tem sua própria, e isso é especialmente latente durante a puberdade.

Corpos ficando com proporções diferentes, hormônios a flor da pele, crescimento (ou não) de pelos, voz esganiçada. As mudanças são inúmeras e rápidas demais. Para alguns, mais cedo que para outros. É especialmente interessante de ver como são as ideias das crianças, se for garota, não pode ter pelos. Se garoto, precisa ser peludo.

Para aquela pequena sociedade quase tribal do colégio, pelos são sinal de masculinidade, até mesmo virilidade, sinal de poder. Exatamente por isso as garotas não podem ter nenhum, e se nosso protagonista, Ota, não tiver, é motivo de chacota.

E a chacota não vem apenas dos garotos, mas também da parte feminina, que se aproximam como se o mesmo fosse um objeto, um animal exótico. A garota do clube de tênis não interage com o Ota por ele ser interessante, nem sequer temos acesso a quem é o Ota fora do seu complexo. A tenista apenas está interessada na sensação táctil que o garoto oferece, lisinho, lisinho.

De maneira geral, o Oshimi brinca com certos clichês, como a ideia que garotas pioram nos esportes durante a puberdade. Com a personagem da Goto ele inverte essa ideia. Não é uma questão hormonal que a impede de ser boa o suficiente, mas sim porque a garota precisa esconder que não se encaixa no padrão da tribo. Ela precisa nadar enquanto esconde seus pelos, uma verdadeira luta contra o próprio corpo.

Conexão através da depilação

É com esses dois personagens que não se aceitam que a história se desenrola. Ambos formam uma relação exclusivamente de dependência, um quer o que o outro possui. É claro que um romance não pode florescer num solo desses, tanto o Ota quanto a Goto enxergam no próprio apenas aquilo que lhes falta, não uma pessoa por completo.

E é nesse vai e volta que o Oshimi brilha, sempre escalando o absurdo enquanto trata a dupla como o que são, adolescentes inexperientes em tudo. O Ota vai desenvolvendo a relação com a Goto conforme mais próximo ele chega de depilar os pelos pubianos da garota. Primeiro os braços, depois as pernas, depois a axila. Não tem como deixar mais claro que isso.

Correndo pela tangente temos um ou outro lapso da vida na casa do Ota. É notável que o complexo pela ausência de pelos não é exclusiva do ambiente escolar, com um pai que quer a todo custo um “filho macho”, mesmo que esse pai apareça em não mais que uma dezena de páginas.

Capítulos vem, capítulos vão, e nosso Ota começa a se sentir mais confortável consigo mesmo. Goto se tornou seu porto seguro. A garota é o único ser humano da história que de fato o aceita, com ou sem pelos. E é nesse momento final que temos a cena da piscina.

Nela, ambos precisam muito que a relação continue, mesmo que a garota não tenha nenhum interesse nele, e ele a essa altura a ame. Os dois caem na piscina e finalmente o Ota vê a garota como ela é. Nessa catarse de calcinha branca molhada, o garoto finalmente entende que alguns tem pelo, outros não, e principalmente que o que eles cultivaram até agora não passa de uma relação de dependência.

Pelos são bonitos

Ao ver a Goto finalmente como é, pela primeira vez o Ota para de estar apaixonado pela ideia da Goto e passa a gostar da garota por inteiro. A relação de ambos é literalmente limpa pelo cloro da piscina e o garoto passa a ensinar como se depilar para ela, um grande recomeço para um local onde ambos se conectam por vontade, não necessidade.

Uma questão positiva no entanto é o fato do Ota não forçar sua mudança na Goto. Ele deixa que a própria menina decida se quer ou não manter os próprios pelos. Seria uma escorregada fácil de se dar e felizmente o Oshimi não caiu nela.

Sweet Poolside é um mangá curioso, inusitado ao mesmo tempo em que é comum. Uma história simples contada por um autor inexperiente, mas que mesmo assim já demonstra sua personalidade pelas pouco mais de 170 páginas. Tem um elenco carismático, embora estritamente funcional. O Ota e a Goto estão ali unica e exclusivamente em prol do conceito, ambos são personagens bastante simples, e não consigo deixar de sentir falta de um desenvolvimento mais longo da dupla, talvez num segundo volume pós essa mudança de postura do Ota.

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