Digimon: Our War Game – Review

Digimon: Our War Game é um filme lançado no Japão em março de 2000. A direção do filme foi feita por Mamoru Hosoda (Summer Wars, Mirai) com roteiro de Reiko Yoshida (A Silent Voice, Liz and the Blue Bird). O filme é uma produção da Toei Animation (GeGeGe no Kitaro, Precure). Our War Game foi lançado no Brasil em uma compilação junto com o episódio piloto da série, Digimon Adventure, e o filme do 02, Supreme Evolution!! The Golden Digimentals, em março de 2001.

Sinopse: após os eventos de Digimon Adventure, a vida pacata retorna para os digiescolhidos. De romance a vestibulinhos, o verão toma conta, até que um novo ovo de digimon aparece na internet. Do ovo nasce algo nunca antes visto, que em sua fome por dados cria caos na rede de computadores, cabendo a Taichi e seus amigos lidarem com isso da maneira que podem. 

Uma cápsula do tempo

Our War Game é uma cápsula do tempo em vários sentidos. A começar por ser uma pessoal. Como boa criança dos anos 90 fui atingido em cheio por uma onda de nostalgia, não nostalgia pelas grandes coisas, como falas decoradas ou musiquinha de transformação. Fui atingido pela nostalgia pela grandiosa mãe do Taichi que tratava os garotos pelo que são, crianças. Bom momento para lembrar que a sua infância está morta, caso esteja lendo isso.

Também é uma capsula do tempo no sentido temporal. Our War Game encapsula um medo muito específico do século passado. O grandioso bug do milênio, mesmo sendo um filme já póstumo ao temido acontecimento, o seu roteiro reflete o sentimento geral sobre os computadores. Caso não fossem nascidos na época, era bem difundido (pelo menos aqui no Brasil) que o bug do milênio poderia acabar com o mundo, disparando ogivas nucleares por erros de software.

Por fim, é uma capsula do tempo para o diretor Mamoru Hosoda. Segundo filme da carreira, sendo o primeiro o episódio 0 da série, o inexperiente Hosoda tateia uma série de temáticas que mais pra frente serão suas marcas registrada. Do trato com crianças, tradição, modernidade e até uma brincadeira com realismo e o sobrenatural. Our War Game é um verdadeiro laboratório que rendeu frutos em Summer Wars, anos mais tarde.

Nada disso teria acontecido, se o Taichi não fosse um pauzinho no cu

Ter apenas 40 minutos para se contar uma história requer por escolhas. A de War Game foi cortar o elenco radicalmente. O filme conta basicamente com quatro personagens: Taichi, Izumi, Yamato e Takeru. Mesmo dentre esses quatro, o personagem pivotal é apenas o Taichi, o que difere bastante da série animada.

E da limitação que nasce a oportunidade, no caso, ao se focar apenas no Taichi, o filme se permite trabalhar mais o lado orgulhoso e pavio curto do protagonista. Não é algo inédito, temos na série mais de uma situação que a questão foi abordada, mas em Our War Game ela é o centro.

A começar por nosso querido digimon inimigo. O roteiro deixa meio claro que a criatura começa meio neutra a situação, e a primeira resposta do garoto é o ataque. É por esse sistema que o Taichi opera no seu dia a dia, inclusive com a relação que mantém com a namoradinha, Sora. Claro que isso é um filme infantil de uma franquia para vender bichinho virtual, ainda assim é legal que a história dê tantas camadas para o garoto.

Falando em inimigo, é curioso como o bicho do início ao fim não tem um ar vilanesco (mesmo que se chame Diaboromon), na perspectiva do recém nascido, aquilo não passa de um jogo. Nada de discursos inflamados e mirabolantes, apenas um jogo de esconde-esconde e outras traquinagens.

Mas voltando ao Taichi, é curioso notar que metade dos conflitos não existiriam se ele pensasse três segundos no que está fazendo. Incluindo o grande clímax da história que só chega a tal ponto porque o Izumi não está lá para botar as rédeas no garoto.

Roteiro simples e eficiente

Our War Game é um filme infantil para vender bonequinho. Por isso mesmo precisa que o público alvo, crianças, se interessem em assistir até o final e sejam apresentado ao derradeiro bonequinho, Jesusmon Omegamon. Inclusive por experiência própria posso dizer que funcionou, eu tinha um.

Mas queria falar mesmo nessa sessão sobre como um roteiro simples e bem encaixadinho vale muito mais que um convoluto e confuso e pra isso, voltemos ao relacionamento Taichi/Sora. Um relacionamento que fica em terceiro plano durante todo o longa.

Taichi e Sora estão naquele grande momento do vai num vai de namorinho infantil, a primeira briga “séria”. Exatamente por isso a gente fica num grande vai não vai pelos quarenta minutos. É o relacionamento que abre o filme, com o e-mail não enviado, o telefonema não atendido, a campainha não tocada. É até engraçado como a Sora está completamente pronta para aceitar as desculpas do Taichi, basta que ele deixe o orgulho de lado. Então, ao final do filme, com um Taichi “mais maduro” o e-mail finalmente chega, e tudo fica bem.

E esse exemplo de coisinha em cima de coisinha permeia todo o filme, seja pela insistência em repetir o avião deixando um rastro para depois ligar com o míssil. Seja desde o começo uma corrida contra o tempo sendo colocada na cabeça do expectador, através do bolo ou da prova do Jou. Ou ainda sobre os pequenos momentinhos de personagem refletindo no porque eles não podem responder ao chamado do Taichi.

War Game ainda arranja espaço para brincar com as expectativas da audiência com momentos de transformação e com músicas de hype. Isso sem falar da resolução mais anos 90 possível para travar o Diaboromon.

Nosso jogo de guerra

O que me motivou a retornar pra esse filme e, por consequência, escrever essa review foi a nova série de Digimon. E não quero com isso escrever qualquer tipo de idiotisse do nível de “cadê Brave Heart” ou “sem Buterfly nem assisto”. Minha infância está morta, tal qual a sua, ou qualquer pessoa com mais de 12 anos.

Inegável porém que as escolhas de adaptação da nova série são… curiosas. Começar por War Game é bizarro uma vez que esse é o exato encerramento da série anterior. O Omegamon (além de desculpa pra vender boneco) é a recompensa brega por uma jornada já cumprida. Mesmo o medo do bug do milênio significa muito pouco para as crianças de 2020.

Para além disso, aos apreciadores de sakuga blog, o filme é um absurdo de lindo até hoje, tanto na composição de cores quanto nas animações fluídas e uso de cg. Isso sem falar da estética mais flat que, não posso negar, sou um verme quando aplicada direito.

Mesmo assim, não é um texto para reclamar do novo, e sim para recomendar que retornem ao antigo, garanto que vão encontrar um filme muito melhor do que se espera de uma franquia infantil para vender tamagoshi, e no final das contas, é simplesmente Hosoda.

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