The Ones Within morde mais do que consegue mastigar

The Ones Within é um anime que foi lançado na temporada de verão de 2019. A obra é baseada no mangá homônimo de Osorai. A adaptação ficou por conta da Silverlink (Chaos;Child, Chivalry of a Failed Knight), com direção de Shin Oonuma (C³, Fate/kaleid liner Prisma Illya) e series composition de Kento Shimoyama (Armed Girl’s Machiavellism, We Rent Tsukumogami).

O meu lixo pessoal

Bom, começando do começo, The Ones Within é um survival game. Mais que isso, é um survival game feito exclusivamente com streamers. Se isso não te deu pelo menos a curiosidade mórbida de dar uma chance, sinto muito, mas está consumindo anime errado enquanto arte.

Isso posto, The Ones Within é bastante tedioso. Parte da questão que eu mais aprecio em survivals de maneira geral é o quanto o autor vai apelar pro edgylord interior. Com intrigas, traições, personagens pau no cu. Nada disso está realmente presente em The Ones Within.

Digo, está e não está. A questão é que o elenco do anime é num todo muito ameno, mesmo os “personagens estereótipo brigão” não realmente criam atrito. E sim, tem mais de um personagem estereótipo brigão.

Ao mesmo tempo em que os personagens com certa frequência posam de cool, com mudanças visuais da direção, isso nunca é de fato passado para quem está assistindo. Fica uma grande dissonância em o que o roteiro queria estar passando e o que de fato ele passa. Ao ponto em que demoraram vários episódios, vários mesmo, pra eu entender se a história queria ou não se levar a sério. E mesmo depois de terminar, não consigo de fato bater o martelo nessa questão.

A falta de conflito e personalidade do elenco, deixa a experiência de assistir The Ones Within um tanto quanto enfadonha. A menos que o espectador esteja muito intrigado pelo mistério, não sobra muito.

Um survival game sobre jogos

Uma das questões que me chamaram a atenção logo de começo, foi a seleção do elenco. Todos eles terem em comum o fato de serem streamer. O próprio survival game ser streamado no mundo da história e a vitória se dar quando atingisse 1 Mi de views.

Realmente parecia que The Ones Within teria algo a dizer sobre a atual caça do clique. Com streamers e youtubers fazendo os maiores absurdos para conseguirem aquela relevância bacana. Principalmente lembrando do grande incidente do Logan Paul, que aconteceu no Japão no ano passado.

Mas o fato dos personagens serem streamers perde relevância muito rápido. Na altura do episódio quatro isso nem sequer é mais mencionado. 

No seu lugar, começa a se formar uma nova correlação. Todos os personagens tem algum esqueleto no seu armário, no que se refere a família. Essa nova correlação não é tão interessante quanto a primeira, tão pouco bem trabalhada, mas tá lá, e parece ser o que a história realmente quer discorrer sobre.

E para um survival com gamers, as provas de The Ones Within são bem qualquer coisa. Com exceção da segunda, a prova do dating sim, todas as outras são absolutamente sem criatividade.

Também não ajuda muito a história mostrar a que veio cedo demais. Na metade da série já fica claro que nenhum daqueles personagens vai de fato ser morto, uma escolha péssima quando se trata de um survival.

Mistério que nem o roteirista sabe a resposta

Uma coisa que ficou muito claro durante o desenrolar da temporada, foi o fato de que The Ones Within não tem ideia de pra onde está indo. Ele está indo pra algum lugar, e quando chegar ele te conta.

Basicamente a técnica JJ Abrams em Lost. Técnica que deu muito certo na série, como todos sabem. E a questão é que é muito confuso o que vale e o que não vale nessa história. Tem panda gigante, demônios, plantas carnívoras, moradores da vila, e a lista segue longa.

Todos esses aspectos, em maior ou menor grau, deixam confuso com o que eu deveria me surpreender. Como a história tem uma dificuldade imensa de estabelecer aquele mundo, não dá pra saber o que eu devo assumir como normal.

Por exemplo: a vila do episódio 4-5. Aquilo são pessoas normais? São contratados? Então é uma ilha habitada? Tem um governo? É o Alpaca que manda neles? 

Nenhum dos personagens se incomoda com essas questões. É absolutamente bizarro o quanto eles só seguem em frente, sem o roteiro se preocupar com nada. Com uma base dessas, como o espectador pode confiar que a história vai trabalhar bem e resolver de forma satisfatória seus mistérios?

Falando em elenco seguindo em frente, outra questão que faz pouquíssimo sentido é o quão despreocupados eles estão. Eles foram sequestrados, jogados numa ilha com o maior número de bizarrice, mas tão todos absolutamente felizes e dando risada o tempo todo. Parece que estão de férias.

Isso é até que bem trabalhado pro nosso generi-kun protagonista, mas o resto parece muito pouco disposto a de fato escapar. Ao menos desconsiderando o Onigasaki.

Relações e sentimento de manada

Já citei o elenco diversas vezes, então vamos entrar nos problemas mais específicos. Não vou entrar de personagem em personagem por serem oito e não merecerem tanta atenção.

Dito isso, o problema de ausência de tensão se dá principalmente pelo Alpaca. Ele não traz uma presença ameaçadora pro roteiro, tão pouco uma presença bizarra. A história tenta vender que ele está controlando os passos dos jogadores, mas é só o protagonista-kun bater o pé que ele volta atrás.

Falando em voltar atrás, spoilers. Eu acharia cômico se não fosse trágico toda questão envolvendo a punição do Onigasaki. No caso, a punição seria retirá-lo do jogo, mas alguém no roteiro deve ter percebido que não era possível mover a trama sem ele, e foi obrigado a trazê-lo de volta. Essa escolha, além de covarde, enfraquece ainda mais o temor de que algo possa acontecer aos personagens.

E falando do resto do elenco de maneira geral, eles até funcionam enquanto grupo. Quando os oito estão interagindo entre si, normalmente nos momentos mais mundanos, é funcional. Mas nenhum deles isolado é minimamente interessante.

Não ajuda em nada o fato dos arquétipos se repetirem. E quando a história já não conseguia lidar com eles, ainda decidiu que era uma boa ideia introduzir um segundo grupo, com os direito a momento tocante e tudo. Não que alguém vá realmente se importar.

Tanta firula pra nada

Uma questão que me incomodou demais durante todos os doze episódios foi a direção de The Ones Within. Principalmente por não conseguir se controlar e fazer um close-up estiloso a cada quatro segundos.

Eu me senti como se alguém tivesse assistido vários animes da Shaft, e decidido emular, sem entender o motivo das brincadeiras visuais. 

Isso deixa um gosto bem grande de prepotência na série. Se a questão fosse construir uma história visualmente dinâmica seria um caso, mas do jeito que foi, parecia que a produção se levava a sério demais. Era tudo cool demais. Descolado demais. E o roteiro não acompanha.

Também não ajuda o char design ser over demais, com 235 badulaques e 147 pinduricalhos em cada personagem, e a Silver Link ter clara dificuldade de manter proporção entre as tomadas. O tamanho dos bichos e ambientes varia drasticamente entre uma cena e outra.

Enfim, The Ones Within tinha bastante potencial para dizer coisas. Ou mesmo que não dissesse, mas para se destacar na multidão de lixo que são os survivals, mas tropeça em seu elenco fraco e roteiro mal escrito. O pior de tudo é que nem tropeça o suficiente para ser interessante de se ver.

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