Granbelm não me deixou gostar dele

Granbelm é um anime que foi lançado na temporada de verão de 2019. O anime é original e contou com 13 episódios, produzido pelo estúdio Nexus (Comic Girls, Wakaba Girl). O roteiro e series composition ficou por conta do Juuki Harada (A Place Further Than the Universe, Princess Jellyfish), e direção de Masaharu Watanabe (ReZero, Wakaba Girl).

Quanto aos gêneros, é complicado. Granbelm é um battle royale mahou shoujo com toques de mecha. E isso joga mais contra que a favor da história, mas isso fica pra depois. Por hora, contentem-se com a sinopse: a muito tempo atrás, a magia desapareceu do mundo. Já no tempo contemporâneo, uma colegial ordinária, Mangetsu, acaba entrando por acidente num mundo escondido, num conflito milenar, e a partir de então a história se desenrola.

Prolífico e Expositivo

Granbelm é uma experiência. Isso não posso tirar dele. De fato é algo que vai deixar um gosto na sua boca, não necessariamente um gosto bom. E muito vem do seu estilo de escrita. 

Granbelm é verborrágico, principalmente em seu começo. Diálogos quilométricos sobre aquele mundo, famílias, magia, os Armanoxs, o ritual do Granbelm. Muito pouco de personagem está de fato contido nesse começo, é uma vagarosa e torturante aula lecionada por uma menina com olhar vago.

E não faz muito sentido essa sequência de escolhas, os Armanoxs por exemplo, retirando questão de estilo, não fazem muita falta se completamente cortados fora. Aliás, pra quem não assistiu, Armanox é como chama o mecha da série.

Isso não seria lá um grande problema se os mechas fossem o único conceito. Porém, quando somados ao mahou shoujo, ao battle royale, ao segredo do mundo, as coisas vão se amontoando. 

A série não faz qualquer tentativa de tornar a experiência mais palatável. A personagem da Shigetsu, embora narrativamente justificada, é péssima para ser o meio pelo qual a exposição flue. Digo isso por ela ser uma personagem um tanto fechada, com falas (ao menos nesse começo) entregues numa voz monótona.

A nossa protagonista e ponto de vista também não ajuda nenhum pouco. Mangetsu é uma Madoka 2.0, não quer realmente nada, não tem senso de agência, apenas responde ao que os outros jogam para ela. Também é justificado narrativamente, não por isso torna a experiência melhor.

Eu meio que só desliguei o cérebro

“Como assim você desligou o cérebro e tá escrevendo uma crítica?” Explico: Toda questão de construção de mundo eu apenas assumi que fazia sentido e segui em frente. Foi a única maneira de conseguir seguir em frente.

Narrativas de forma geral precisam que o espectador se relacione com algo para se fixar a aquele mundo, e eu tinha Mangetsu, que parecia pouco se importar com a intrincada backstory de um mundo qualquer. Então porque eu deveria? E não ajudava muito eles usarem um bilhão de termos que parecem vindos de um sci-fi ruim. 

Minha experiência com Granbelm até o episódio 6 pode ser resumida aqui. Mas ainda tinha algo, eu queria que Granbelm fosse bom, principalmente por sua alta qualidade de produção nos combates. 

Granbelm é um dos animes mais bonitos desse ano, e isso quer dizer muito para esse ano em específico. O enquadramento e a composição dos combates é realmente muito bem feita, principalmente no que se refere a lua, o que é tematicamente relevante.

O segundo motivo, é única e exclusivamente por ser mecha. Mecha é um dos gêneros que eu mais gosto. Também é um gênero que foi berço para alguma das melhores produções da mídia anime. E, principalmente, por atualmente estar em decadência.

Então, nada mais justo do que eu ter um contrato social comigo mesmo de ver até o final todo mecha que sai. Afinal, pode ser esse o que acarretará na ressurreição do gênero. Infelizmente, Granbelm não é o candidato.

Elenco inchado e sub-aproveitado

Uma coisa que me chamou muita atenção em Granbelm foi a ausência de uma sensação de passagem de tempo. Digo, cada rodada das lutas se dava durante a lua cheia. Isso quer dizer que entre cada luta passou cerca de um mês.

Calculando por cima, o anime cobre cerca de meio ano da vida daquelas personagens. Mesmo assim, muito bem poderia ter passado duas semanas. Você não sente que elas estão de fato se conhecendo, se conectando, se tornando amigas.

O grande problema, é que pra perna final, você precisa acreditar de forma absoluta nesse vínculo. Mas o anime decide gastar seu tempo com outras coisas, como seu elenco inchado. É sério, são sete participantes, a maioria delas tem pelo menos um personagem de apoio.

Isso não seria um problema, numa história de duas temporadas, mas quando se tem apenas 13 episódios, o tempo precisa ser mais dosado. Por exemplo a personagem da Kuon com sua irmã doente, ela é um gigantesco sideplot que conecta de maneira fraquíssima com a Mangetsu e a Shingetsu.

Isso pra não dizer da Anna. Foram seis longos episódios mostrando ela como a personagem maluca e invejosa. Logo, pensa-se que ela é a vilã final, mas não, no sétimo ela é sumariamente descartada.

E não é como se fosse transferido todo o build-up dela pra outra personagem, não, ela simplesmente é derrotada mesmo, e o anime precisa construir a nova vilã. De novo, se fosse um anime com o dobro de episódios, seria ok. O problema é que não trabalhamos com o campo das hipóteses.

O problema do sub-aproveitamento se vê presente em todas as personagens. Mesmo a melhor trabalhada, Shingetsu, ainda carece do aprofundamento necessário. E que dizer da Suishou, tão interessante enquanto figura do caos, tão sem sal enquanto vilã maluca genérica.

Granbelm não merece o final que tem

A jornada foi longa, arrastada e morosa, até eu enfim alcançar o último ato de Granbelm. Esse último ato é de fato muito bom quando olhado em isolado, mas se esfacela quando olhado no todo. E pra isso, vou precisar entrar em spoilers.

Ignorando o fato de que o roteiro vai esquecendo coisas pelo caminho, eu gosto bastante da jornada da Mangetsu. Se vê confrontada com a verdade que é nada além de uma boneca criada pela solidão da Shingetsu. 

O problema é que falta construção da personagem para que o impacto seja de fato sentido. E quando elas enfim vão acampar juntas, sinto dizer que é muito pouco e muito tarde. 

Digo, o que faria a personagem e a quebra mais interessante seria se de fato nós passassemos tempo com ela. Ou se de fato a revelação fosse gradual, e não um drama arrastado para postergar que o público saiba.

Poderíamos ter pego o tempo gasto com flashback e introdução e interação da Kuon e gasto com a Mangetsu, mas novamente, não trabalhamos com hipóteses. Dito isso, os momentos de interação franca entre ela e a Shingetsu, apesar de esparsos, são muito bem realizados, e dão saudade do que poderia ter sido.

Toda questão do poder corromper, e mais do que isso, da disputa pelo poder só trazer sofrimento é de fato construído através da série toda. E a conclusão da Shingetsu é corajosa e deixa um final agridoce interessante. O problema é não ser possível se conectar com todo o sofrimento se não ficou bem estabelecido o laço entre ela e o resto do elenco. A partir desse ponto, fica bastante difícil de comprar que realmente existe um conflito entre ela escolher a Mangetsu ou “todo mundo”.

Fica evidente a mão do roteirista, empurrando a decisão para onde a história precisava ir. Não que eu não ache a mensagem boa, só sinto que ela não foi de fato conquistada.

Gosto Amargo

Granbelm terminou me deixando um gosto amargo, não por ser ruim, mas por não ser bom. A última leva de quatro episódios é realmente boa, mas não passa de um castelo de pedra construído em cima de areia fina.

Mesmo assim, considero que os erros de Granbelm sejam “erros honestos”. Sejam erros feitos tentando criar algo diferente, algo próprio, algo com uma voz. O que já é mais que o suficiente para valer pelo menos tentar consumir.

Mesmo que não seja idêntico, deixo a dica para assistir Starlight no lugar, que conta uma história similar de forma absolutamente melhor realizada.

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