O Meio Apagado Fireworks

A minha experiência com Fireworks foi uma montanha russa de emoções. Comecei entediado, depois intrigado, depois confuso, e no final puto, me fez pensar em muitas coisas, e por isso, nada mais justo que um texto sobre o mesmo.

Fireworks é um filme que foi lançado no Japão em 2017 e recentemente disponibilizado para nós brazukas pela Netflix. O filme conta com direção de Nobuyuki Takeuchi (estreante no cargo) e roteiro de Hitoshi Ohne (Bakuman Live Action), baseado no filme live action homônimo de escrito e dirigido por Shunji Iwai. A adaptação foi feita pelo estúdio Shaft (3-gatsu no Lion, Monogatari Series).

Uma confusão de direção

A primeira coisa a se destacar nesse texto é a direção de Fireworks. Isso acontece porque ela não tem um tom definido. No primeiro ato, a direção é absolutamente plana, num nível que chegava a ser esquisito. Afinal, estamos falando da Shaft, estúdio conhecido por sua psicodelia visual atribuída por muitos a influência de Akiyuki Shinbo (Madoka Magika, Bakemonogatari), com seus ângulos inventivos e narrativa subjetiva, criando um mundo muito mais representativo do que real.

Essa monotonia segue, com alguns picos de criatividade, como a cena lindíssima na piscina, em que foi tomada a ótima decisão de fazer os personagens submersos não terem bordas, causando uma mescla entre o personagem e ambiente que ficou muito belo. Mas então acontece uma mudança de roteiro do primeiro para o segundo ato, com a introdução de um ato mágico, e a decisão decide por assumir um visual muito mais característico do estúdio….por uns 10 minutos.

Digo, eu achei legal que a apresentação do elemento paranormal fez com que a própria direção do filme se alterasse, quebrando a monotonia das férias de verão na qual aqueles personagens estavam inseridos. O problema é que o próprio filme não parece se decidir se quer seguir ou não essa estética mais subjetiva.

E ele vai saltando entre o padrão e o experimental, tentando abraçar ambos, mas abraçando nenhum, ficando só confuso e pouco inspirado, com vários takes que por vezes ultrapassavam a referência e se tornavam quase que um plágio de sua contra parte monogataristica.

Além dessa confusão do que ser ou não, recursos utilizados no começo da narrativa, como tornar os personagens sem borda quando observados dentro d’água não se repetem no decorrer do filme, ficando relegados ao primeiro e segundo atos, mesmo que a cena final pedisse algo nos mesmos moldes.

Ainda no quesito visual, todos os personagens são ou absolutamente sem graça, ou versões aguadas de monogatari, e quando o filme decide repetir enquadramentos, com personagens muito parecidos, só faz saltar aos olhos a diferença abismal de qualidade, tanto da direção, quanto do próprio roteiro de Fireworks para com seu irmão mais velho de estúdio.

conheço uma cena similar

Romance pra quem acredita

Por falar em personagens, Fireworks tem três personagens realmente relevantes. O casal principal, Nazuma e Norimichi, e o melhor amigo do protagonista, Azumi, e eu gostaria de um tempo pra falar de cada um deles.

A começar pelo Azumi, ele é um personagem bastante problemático. Toda a parada inicial dele, ao que tudo indicava, era que ele gostava da Nazuma, mas como sabia que seu melhor amigo, Norimichi também gostava dela, ele coloca sua felicidade de lado em prol do amigo, ajeitando para que os dois se encontrassem. O típico melhor arquétipo do melhor amigo.

Só que quando o elemento sobrenatural se revela, que é viagem no tempo, e o Norimichi é convidado pra sair pela Nazuma ao invés dele, o personagem vira o antagonista ciumento. E eu não consigo entender como o mesmo personagem é as duas coisas. Parece que o roteirista mudou de ideia do que queria fazer com ele, mas esqueceu de alterar o começo.

Mas falando da Nazuma, e do Norimichi, um dos meus maiores problemas com o filme é o relacionamento deles. Eles serem apaixonados um pelo outro nunca é trabalhado, não existe um motivo, nem existe uma construção de um relacionamento, nem menção de um prévio.

Eles se amam. Você precisa aceitar esse fato como verdade. Caso contrário é muito difícil de comprar qualquer coisa dessa narrativa. E não ajuda muito que o espaço de tempo mostrado pelo filme é de algumas horas, mas ela o ama a ponto de querer passar um tempo com ele não importa as consequências.

Quanto ao Norimichi, ele é o personagem mais vazio da tríade, ele é um cara, normal, genérico, sem graça. Não tem ambições, não tem reações fortes, não tem personalidade forte, não tem design marcante. Tudo isso não seria um problema, caso eu não tivesse que assumir esse amor bandido da Nazuma por ele. E caso o personagem do Norimichi tivesse sido trabalhado, mas não é o caso, e pra isso eu preciso falar da temática do filme.

Fogos de artifício são planos ou esféricos?

Certo, minha visão sobre o filme foi mudando conforme ele passava, mas uma frase, essa frase dos fogos serem planos ou esféricos, sempre se repetia, e eu tentava encaixá-la com o resto para formar um todo coeso.

Meu primeiro pensamento, era que Fireworks estava falando sobre pontos de vista, e isso me veio a mente por causa de uma cena específica no primeiro ato, em que um dos fabricantes de fogos de artifício, visivelmente frustrado com a vida, diz para os garotos que os fogos eram planos.

Essa cena, junto a indecisão do protagonista em agir de qualquer forma com medo de causar atrito, me fez ter a leitura de um filme falando sobre como as pessoas se prendem a uma mesma visão, planificando as coisas em um espectro só, seguindo de maneira cega um padrão alto imposto por si próprios ou pela sociedade.

Só que então o elemento de viagem no tempo é introduzido, e as coisas começaram a ficar esquisitas. Toda vez que o protagonista exitava em agir, ele se arrependia e voltava no tempo para mudar sua escolha.

Isso me fez pensar que talvez fosse uma jornada de amadurecimento do Norimichi, que precisava aprender a se impor, agir, decidir por si mesmo. E é uma visão que eu ainda tenho do que a obra queria fazer.

Mas então, depois de algumas voltas no tempo, ele finalmente está com a garota, só que eles estão em um mundo falso, literalmente fechados dentro de uma gaiola de vidro, um mundo dos sonhos adolescentes do Norimichi.

E ele diz que prefere viver num mundo falso com ela, que no real sem ela, foi aí que eu pensei que a narrativa faria o crescimento dele. Mostrando que o mundo perfeito não é mais que uma fantasia, da qual ele deveria acordar.

Só que quem faz o mundo voltar ao normal é o fabricante de fogos de artifício, que acidentalmente atira o aparelho de volta no tempo na gaiola, quebrando ela. Norimichi não tem qualquer agência nessa ação, não existe um arco dele, ele era definido por sua indecisão, e assim foi mantido até o fim. Mas ele beija a garota, então felicidade?

Por falar em garota, ela poderia ter um arco, mas também não tem. O filme deixa bem claro que ela já sabe que está fazendo um sonho impossível de uma só noite, e de fato o é, permanecendo assim a mesma até o final.

E se você, caro leitor, percebeu que eu não comentei mais nada do Azumi, é porque ele é esquecido pelo terceiro ato mesmo, ficando de escanteio com o resto dos figurantes.

Fireworks não brilhou para mim

Em resumo, Fireworks poderia ter abordado uma questão refrescante de temática, mas acabou optando por uma história de viagem no tempo onde não existe uma lição, um desenvolvimento ou uma consequência para aqueles personagens. Não entrega um romance bem construído, e não sabe o que quer ser visualmente, mas por algum milagre acabou sendo indicado na categoria de melhor filme da premiação do Crunchyroll, algo que nunca entenderei.

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