O filme de Bleach é bom…QUE?

Como um lixeiro de carteirinha, não tenho vergonha em dizer que Bleach é um dos meus Battle Shonens favoritos. Obviamente, não é pelas qualidades, mas pelas toneladas de defeitos que me divertiam semanalmente durante a sua publicação. Então nada mais justo do que conferir o Live Action na sua estréia, e me surpreender com uma história razoavelmente bem contada. Mas como nem tudo é preto no branco, vamos por partes.

Foco é importante

 

Existe uma coisa que sempre me incomoda em adaptações, principalmente as japonesas, que é a adaptação literal. Já comentei sobre isso no meu texto de Persona 3, por exemplo. As adaptações deste tipo raramente são boas, por não levarem em conta a diferença da mídia que estão inseridas.

Então qual não foi a minha surpresa ao ver que os produtores mudaram bastante a estrutura do primeiro arco de Bleach para essa adaptação, e foi a melhor escolha que eles poderiam ter feito.

A começar pela mudança sequencial. Por ser uma obra periódica, o mangá de Bleach não é lá muito coeso. Coisas são criadas e esquecidas, para serem retconizadas ou negadas posteriormente. O elenco é inchado, capítulos inúteis são feitos para dar respiro ao autor. Claro, nem toda obra periódica é feita com pouco planejamento, mas em Bleach isto é inegável.

Então, o filme se aproveita disto, e pega um mini-arco que acontece no meio do caos que é o início de Bleach para ser o centro emocional do filme, e funciona. Isto ocorre por que o arco em questão é (talvez) o momento mais pessoal para o Ichigo durante todo mangá: A morte da mãe.

Ao se valer desse momento como centro emocional, ele desenvolve o Ichigo de forma muito mais interessante. Ao invés de ser mais um momento do shinigami batendo em algum hollow qualquer, se torna o momento definidor da motivação do protagonista. Ele enfrenta aqueles que querem fazer mal ao seus entes queridos por se culpar pela morte da mãe.

Essa mudança também torna o estilo delinquente dele mais interessante, fazendo deste uma carapaça pra evitar criar laços, até que a Rukia rompe (de maneira literal até) a casca de proteção dele. E sim, tudo isso meio que existe no mangá, mas se você joga tudo pro alto e não trabalha nada, então tanto faz se está lá ou não.

 

Removendo o inchaço

 

A outra escolha acertadíssima que o filme faz, é remover os personagens desnecessários (ainda sobrou gente demais inclusive). Seja na escola, seja o Kon, seja na lojinha do Urahara, a foice imperou na adaptação. Junto a isso, os sub-arcos da Orihime e do Chad também foram pro limbo, deixando-os como o elenco de apoio que colore o fundo. Outra mudança foi tirar os ‘poderes paranormais’ das irmãs do Ichigo.

Com essas mudanças de função para os personagens, o que era um saco no mangá passou a ser os momentos leves de humor, que faziam inclusive do Ichigo um personagem mais gostável. Dá pra comprar muito mais fácil que o Ichigo QUER PROTEGER aquelas pessoas quando você não fica irritado a cada aparição.

Infelizmente, nem todo o inchaço foi retirado. O segundo ato conta com uma barrigaça de roteiro pra incluir o mini-arco do Ichida, que mesmo que no final sirva pra apresentar o Renji e o Byakuya de maneira mais clara, ainda é pra lá de desnecessário. Por falar em Ichida, ele tá aqui por ser um eco do mangá, o filme tá tão focado em construir uma relação Ichigo-Rukia que esquece de criar uma com o Ichida. E isso é um problema quando dependemos dessa relação para o clímax.

 

Problemas? Claro, isso ainda é Bleach

 

Além do já citado Ishida, o filme ainda tem alguns problemas. Dentre eles, o que mais me irrita é o quanto ele me chama de idiota.

Uma cena que me tirou bastante do sério foi quando o Ichigo ia salvar um garotinho fantasma, então a Rukia diz pra ele, que se ele salvar o menino estará aceitando o trabalho de shinigami. Ele manda um foda-se e decide salvar a criança, até aí tudo bem, mas o filme achou que eu não tinha sacado, então coloca o personagem pra dizer: “Eu não sou um herói para salvar qualquer um, mas também não sou covarde para deixar alguém que eu conheço morrer.”

OBRIGADO FILME, EU NUNCA ENTENDERIA SOZINHO.

Isso acontece o tempo todo, durante todo o filme, a falta de confiança no expectador em ligar os pontos chega a ser ofensiva por vezes.

Além disto, outro problema é o constante foco na Orihime, nessa adaptação ela devia ser um personagem satélite de apoio, afinal toda a conexão “mais forte” entre ela foi cortada. Mas mesmo assim o filme insiste em ficar focando nela, ao mesmo tempo em que não faz nada com isso, ela é a menina que gosta do Ichigo…só.

O filme de Bleach não é genial, nem tão pouco memorável, mas faz tudo que pode com o material base que tem. Não consegue se desvencilhar de todos os problemas da contraparte em mangá, ao mesmo tempo que adiciona um ou outro problema novo, mas no fim do dia, entrega um protagonista carismático, e uma conexão emocional realmente palpável com a deuteragonista. Fico curioso para ver uma continuação, uma vez que as mudanças, mesmo que boas, vão cobrar seu preço posteriormente.

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