Crunchyroll e a lenda das pessoas que não sabem pelo que pagam

Nos últimos dias (talvez semanas, dependendo de quanto leve pra eu soltar esse texto), rolou uma enxurrada de reclamações sobre a Crunchyroll, principalmente devido ao anúncio de High Guardian Spice. E eu não queria ser a pessoa a dizer isso (ou talvez queria sim), mas o que eu percebo é que as pessoas não sabem pelo que pagam o Crunchyroll. Mas, como diria Jack o Estripador, vamos por partes.

Pelo que você está pagando?

 

É muito estranho pensar que as pessoas realmente dão dinheiro pras coisas sem entender o que elas estão pagando, e essa polêmica só deixa a falta de informação muito mais clara.

Quando você assina ao pacote premium, seu acordo para com a empresa é que em troca desses quinze reais mensais, você vai ter acesso a todo catálogo deles disponível para sua região, acesso a qualidade HD, livre de propaganda e acesso ao material com uma hora de atraso com relação ao Japão.

Em outras palavras, você está pagando a Crunchyroll pelo catálogo e pelo player deles. Você não está pagando por uma contribuição na indústria, não tá pagando pra dar pitaco em onde vão investir o dinheiro, não tá pagando pra escolher quem vai traduzir o que, você está pagando pela coletânea de animes já disponíveis, pela promessa de novos animes virem com as temporadas, e pagando pela qualidade do player e das legendas oficiais, só isso.

Crunchyroll enquanto produtora de animes

 

Estabelecido qual a sua função enquanto assinante nessa equação, podemos olhar para o outro ramo de negócios atual da Crunchyroll, fazer parte do comitê de produção de diversos animes, conforme esses desta lista mais ou menos acurada.

Primeiramente acho importante deixar claro, que a Crunchyroll é uma empresa, não uma ONG. É muito bonito pensar que ela investe em animes para ajudar a indústria, mas sejamos sinceros, ela o faz porque rende lucro. Isso não é ruim, não é bom, apenas é.

Por isso, na lista de animes financiados pela mesma, você vai encontrar desde o mais absoluto “cash grab” genérico a até as melhores coisas lançadas recentemente. A Place Further Than The Universe e Space Patrol Luluco são duas pérolas recentes, com a mão da Crunchyroll por trás ao passo que os péssimos Testament of Sister New Devil e Junji Ito Collection também o tem.

Então primeiramente, não, a Crunchyroll não começou a investir no mercado com High Guardian Spice, ao mesmo tempo em que nem tudo que ela co-produz/produz vai ser o suprassumo da qualidade, por que mais importante que a qualidade é a variedade no leque de opções disponíveis, a Crunchyroll não é uma pessoa, é uma empresa.

 

High Guardian Spice

 

Porém, a cereja do bolo é quando chegamos em High Guardian Spice e o real motivo por trás do ódio despertado recentemente.

Vou ser franco aqui, faz meses que eu deixei de assinar a Crunchyroll. Eu sentia falta de uma maior variedade de animes antigos (muitas vezes presentes na Crunchyroll americana), o player deles é péssimo (que eles prometeram que vão arrumar, fiquemos no aguardo) e a impossibilidade de sequer realizar pagamento através do débito automático (e quando fui olhar hoje pra escrever esse texto, notei que nem boleto existe mais) foram os motivos que fizeram com que eu abandonasse o serviço.

Dito isto, é visível que mesmo que alguns tentem mascarar as reclamações como se “não fosse só por causa de High Guardian Spice”, são reclamações sobre High Guardian Spice. Um anime que nem saiu, por causa de um vídeo onde eles falam sobre diversidade e são mulheres falando.

E é realmente muito engraçado ver isto acontecer justamente na comunidade da indústria que faz os trailers que mostram menos que nada. É só olhar pro recente trailer da segunda temporada de One Punch Man com apenas cenas da primeira, ou o PV de Kill la Kill, que é basicamente os nomes da equipe com efeitos sonoros. Nenhum deles diz mais sobre o produto final que o trailer de High Guardian Spice diz.

 

“Tem que acabar o otaku”

 

Conclusão do enterro, você não está pagando a Crunchyroll para ajudar a indústria, você está pagando um serviço de streaming. A Crunchyroll não financia exclusivamente o que é artisticamente relevante, financia o que parece que vai dar dinheiro. Algo ser feito por uma equipe de mulheres não faz disso um “anime pra feminista”, faz dele um anime escrito por uma equipe de mulheres. Algo levantar a bandeira da diversidade não é algo a ser combatido, principalmente quando a comunidade otaku não é lá o exemplo do homem, cis, hétero padrãozinho, pelo menos não da última vez que eu chequei.

E por último, pra quem usa a desculpa de não ser anime por ser americano, deixo aqui um quote do anúncio no próprio site da CrunchyrollNosso conteúdo original contém os esforços de talentosos nomes da indústria em Burbank (Califórnia) e também Tóquio.”

 

Atualização:

Parece que os boletos voltaram através deste link (apesar de não ter aparecido no site normal, então não sei se é uma solução intermediária ou permanente):

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