Megalo Box: O Vetor do Amanhã

Muito dificilmente mexer em obras monumentais rende algo além de decepção, então como fazer juz ao maior clássico da mídia dos mangás? Esse era o pepino que You Moriyama tinha em suas mãos ao fazer Megalo Box.

Megalo Box foi um anime lançado na temporada de primavera de 2018, produzido pela TMS Entertainment (ReLIFE, Lupin III). Foi feito como um projeto de homenagem pelos 50 anos do lançamento de Ashita no Joe (do mangá, não do anime), mangá de boxe escrito por Ikki Kajiwara e desenhado por Tetsuya Chiba. O anime conta com 13 episódios.

Antes de eu falar um pouco mais sobre Megalo Box, acho bom deixar o disclaimer que eu não li Ashita no Joe até o final (ainda). Portanto não será possível tecer comparações entre ambas.

Dito isso, Megalo Box é diferente do que temos por aí hoje. De seu character design, a sua estrutura, tudo ao entorno do anime evoca uma aura clássica. Por falar em character design, adoro o trabalho de modernização e estilização de personagens de 50 anos atrás, fazendo uma mescla do cartunesco quase Disney dos anos 70, com um realismo mais puxado para obras do Shinichiro Watanabe (Cowboy Bebop, Space Dandy).

Por falar em Watanabe, outra coisa que parece ter sido emprestada do diretor é a trilha do anime. Variando entre jazz e rap (destaque para o maravilhoso encerramento), Megalo Box cria uma ambientação única.

Por falar em ambientação, acho interessante olhar para o mundo do anime. Um mundo assolado por guerras constantes, onde os pobres nem sequer possuem o direito de serem considerados cidadãos. No meio disso, as camadas mais altas da população assiste e ama um esporte criado e movido para o desenvolvimento armamentista. Não parece um lugar propício para se ter um amanhã.

E lá no canto, sendo menos que um ser humano, está nosso Vira Lata, um homem que junto de seu treinador, pratica lutas armadas no submundo controlado pela máfia. Uma entidade tão descartável que não merece um passado, não merece uma identidade, um nome, muito menos um amanhã, afinal “Vira Latas não possuem lápides”.

E esse é o nosso protagonista, o encontramos quando ele não é ninguém, e vemos, graças a um encontro do destino, ele nascer para aquela sociedade destruída. Aos saltos, ele vai galgando os rankings, no mundo dos ricos, um mundo que em hipótese alguma deveria ser dele, ele não é mais um vira latas, agora, ele é um joão ninguém.

E essa é a jornada que acompanhamos em Megalo Box, uma jornada em que esse ninguém se levanta contra o sistema e faz o impossível, ele muda todos aqueles ao seu redor, faz deles pessoas melhores, e o faz sem gritar com eles. A simples existência de Gearless Joe empurra os outros pra frente.

É notável que o Joe enquanto personagem é alguém bastante plano, mas isso é consciente por parte da produção. Joe é o gatilho para a mudança daquele microcosmo de pessoas que ele toca, como o Luffy em One Piece, ainda que em uma escala menor.

Mas nem tudo são flores em Megalo Box e a série sofre bastante com a qualidade da produção. As lutas não são das melhores, mas o diretor se segura como pode, faz milagre, e muitas vezes consegue empolgar através de artifícios não visuais.

Se tem algo que eu quero dizer com esse texto, é que Megalo Box é importante enquanto homenagem, enquanto releitura e enquanto um anime lançado em 2018. Ele é mais um de uma maré crescente de produções que desafiam os padrões visuais que a mídia enfrenta atualmente, com designs repetidos e histórias que não saem do lugar comum, e só por isso, já vale ser consumido.

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