Arco x Arco: Fairy Tail #04 – Torre do Paraíso

Chegamos a quarta edição dessa série de texto sobre Fairy Tail que (ainda) se mantém semanal. Nessa semana, vamos olhar o arco que destaca de forma mais grosseira a falta de planejamento do Hiro Mashima, e como isso nunca faz bem para uma obra. Esse texto contém spoilers do capítulo 75 ao 102 do mangá, que compreendem do volume 10 até o comecinho do volume 13.

O Cassino

Bom, acho que temos coisas novas a dizer sobre o mangá partindo da perspectiva desse começo de arco. A começar pela personagem da Erza, que eu disse no início dos textos que mais parecia um arquétipo que um personagem.

Nesse quesito, eu parabenizo o Mashima, a transição dela de uma ideia para uma personalidade foi feita de maneira muito natural, de modo que quando esse arco começa, você entende quem é a Erza, e isso é um probleminha.

Probleminha esse que vem com o conceito da armadura da Erza, que ela usa tanto pra proteção física quanto psicológica. A personagem tem medo de se aproximar dos outros e usa a armadura como uma concha protetora entre ela e os outros.

Mas a questão é, essa parece a descrição que você usaria para a Erza? E a resposta é não. Até aqui, com tudo que foi apresentado, a personagem não parece mais distante do grupo que o Gray, por exemplo. Inclusive, um dos traços que a define é o amor e a lealdade para com a Fairy Tail e seus integrantes.

Isso evidencia que esse não era um arco planejado pra funcionar assim, ela não era um personagem que foi concebido pra se fechar diante de outras pessoas, e quando o Mashima tenta empurrar esse conceito, ele soa falso, soa artificial.

Sem dizer que ela já foi demonstrada usando “roupas civis” como na reconstrução da guilda uns capítulos atrás e isso não pareceu um big deal para ela, nem para os personagens a volta da mesma.

Algum comentário do tipo “Nossa, você sem armadura, que inusitado” por parte de algum dos veteranos já validaria muito melhor esse arco de agora, e isso não seria plantar conceitos para serem usados 200 capítulos depois, seria plantar para ser usado 5-10 capítulos depois, ter um mínimo de planejamento é importante.

Revolta da Erza

 

Eu devo começar dizendo que eu gosto desse flashback, realmente gosto. Ele é um dos, provavelmente o, melhor flashback que o Mashima escreveu até aqui. É um flashback funcional, que mostra como se criou o vilão do arco, e como a personalidade da Erza se tornou a (não tão) atual.

MAS, temos diversos problemas, dentre eles o Zereff. Nos é revelado, que o Zereff está vivo no final desse arco, e que seria impossível ressuscitá-lo por causa disso, e isso é um problema para esse flashback e para a construção do Jellal.

A ideia que passa, é que o Jellal caiu tanto depois de ser torturado, que ele consegue entrar em contato com o espírito de Zereff, e a partir daí se torna mal por causa de sua influência. Só que a influência na verdade é da Ultear, e isso é uma merda.

A começar pelo fato da coincidência operando na Ultear estar naquele exato local e tempo, continuando na escolha, por que não utilizar a Erza para o plano dela? Como essa influência funciona? Desde quando ela tem esse poder? A que distância ela para de ser efetiva?

Todas essas perguntas nunca são levantadas, e isso é feito para que o Mashima possa entregar uma redenção para o Jellal, fazendo dele não o cara mal, mas um peão influenciado. Isso tira muito da força do vilão, se ele queria tanto a virada de que o Zereff estava vivo, era só fazer que o Jellal estava alucinando devido a tortura, manteria o peso do Jellal e faria dele um personagem trágico, que sacrificou tudo por um objetivo que ele nunca alcançaria.

Além disso, de onde veio todo o ódio do Jellal? A história da a entender que aconteceu devido a tortura, mas não é como se ele não soubesse que isso rolava desde o começo. Páginas antes ele até se ofereceu para ser torturado no lugar da Erza. A verdade é que o Mashima queria muito fazer um Griffith e falhou horrivelmente. Então esse ódio meio que veio da vontade do roteiro mesmo.

Fora isso temos nesse flashback a Erza descobrindo ter o dom de usar magia. O que ainda me deixa confuso nesse mundo de Fairy Tail em que você meio que nasce com uma magia específica, não treina uma. Então como existem magias perdidas? Não é como se fosse algo ensinado, ou é, pelo que vemos no flashback do Gray. Então é um pouco dos dois? Como esse universo funciona? Muitas perguntas, nenhuma resposta, que arco ótimo.

Que comece o rocambole

O roteiro por trás desse arco só pode ser descrito como um gigantesco rocambole que fugiu completamente do controle. Personagens mudam de lados, novos vilões brotam do chão, corrida contra o tempo irrelevante e tudo fazendo parte do meu plano são apenas alguns dos artifícios utilizados no mesmo arco. Mas vamos por partes.

Eu queria começar falando do Shou. Shou é o personagem bronzeado apresentado aqui como o “irmão caçula da Erza”. Shou é um psicopata genocida, mas tudo bem, porque ele só tava com raivinha da Erza, certo?

Esse é um problema que vai se tornar recorrente em Fairy Tail (e convenhamos, é meio que um problema do gênero), Shou é um personagem que já cruzou a linha sem volta a muito tempo. Ele claramente deseja um genocídio de todos que “não estão do lado dele”, e umas dúzias de linhas saída da boca da Erza e seus amigos é capaz de convertê-lo da água para o vinho.

Falando em conversão, vamos falar dos inimigos desse arco, eles começam sendo os antigos membros da irmandade da Erza, escravos como ela que tomaram outro rumo e a culpam por tê-los deixado. Isso traz peso para os confrontos, eles não são maus (menos o Shou), só estão lutando por aquilo que acreditam que fará o melhor para eles, que os levará ao paraíso.

Daí, a gente corta todos esses confrontos que poderiam ser dramaticamente interessantes com uma luta gag do Natsu e conversões. E o que nos sobra é um trio de buchas que meio que caem do céu e malema possuem um nome. Realmente uma grande troca Mashima, praticamente um visionário.

O jogo do paraíso

Bom, esse é um mangá de porrada, então vamos comentar as porradas. Mas antes vale o destaque de que nessa altura do arco, estava rolando uma corrida contra o tempo, de novo. A começar pela melhor luta dessa trindade, Lucy e Juvia contra o rockeiro. Obviamente não é a melhor luta por causa da coreografia, nem por causa do inimigo que eu não vou me dar ao trabalho de guardar o nome. Mas sim porque é a luta que paga os momentos de humor da Juvia stalker.

Durante toda a reconstrução da guilda e o capítulo de praia, em vários cantinhos foi sendo mostrada a Juvia observando o Gray, isso poderia ser só uma piada recorrente, mas o Mashima acertadamente usa isso nessa luta. Isso porque ao observar o Gray, ela também foi vendo como a guilda funcionava e foi vendo a grande família que é a Fairy Tail, se afeiçoando a ela com isso.

toda a construção feita pros novos inimigos é essa página

E tudo culmina na união de magia entre ela e a Lucy, que faz da Juvia uma verdadeira membra da guilda, fechando o pequeno arco de personagem dela que começa durante a luta com o Gray de forma bem feitinha.

Aí temos a luta do Gray…que é absolutamente sem graça e tenta mostrar um flashback em que ele fazia bulling com a Erza e por isso eles são muito amigos…ou algo nessas linhas. É só um grande esforço pra tentar manter o Gray relevante em algum aspecto, que não funciona.

E a terceira luta é entre a Erza e a samurai. Essa luta devia ter o peso de concluir o arco da Erza presa dentro da casca, mas isso sequer existia antes desse arco. Sem falar que ela não superou o passado se ainda não enfrentou o Jellal, ele devia ser o ponto de virada para a personagem. O que faz da luta contra a última do trio bucha, um jeito torto, até mesmo um desserviço para alguém do peso que a Erza tem para o mangá.

E qual o motivo de não poder ser o Jellal o ponto de virada da Erza? Mas é óbvio, o motivo é que você não pode vencer o final boss se você não for o Natsu.

Cai o Etherion

Então o raio cai, e era tudo um plano do Jellal desde o começo, já que ele e o Siegrain eram um só. E é isso, sério? O conselho da magia não consegue notar que um dos membros é um holograma? OS MAGOS MAIS FODAS do continente não conseguem notar que um dos caras é UM HOLOGRAMA? Nem conseguem dar uma googlada pra ver de onde ele veio antes de dar basicamente poder político irrestrito pro cara? Sério mesmo Mashima?

Mas se fosse só isso, tudo bem, era relevável até. Mas porque, sério, PORQUE a Erza devia ser o sacrifício? O Jellal é um maluco do caralho, mas ele também é um mastermind que conseguiu enganar os magos mais fodas do continente, e não usa um dos minions dele de sacrifício? Eles estavam completamente lobotomizados, qualquer um deles aceitaria, então pra quê a Erza?

Esse finalzinho de arco só pode ser descrito como uma bagunça, e temos uma longa luta entre Natsu e Jellal (claro, porque o Natsu era realmente a escolha certa para essa luta), onde o dragonslayer do fogo come magia e ganha, original eu sei, bem diferente da luta dele contra o Gajeel.

Com a derrota do Jellal (é sério o único vilão construído fora do próprio arco é derrotado desse jeito, nesse arco merda), a torre fica fora de controle, e então cabe a Erza, que se arrepende de ter abandonado seus amigos, se fechou dentro duma casca e finalmente foi liberta da mesma, se sacrificar para proteger aquilo que pra ela vale mais que a própria vida. Bom, a menos que o Jellal tome o lugar dela para ter uma redençãozinha aos 45 do segundo tempo e nem o direito de se sacrificar pela causa que acha certa é permitida a personagem, sigh.

Plantando para o futuro

E com isso o arco meio que acaba e o Mashima começa a plantar coisas para o futuro. Planta a ideia do Zereff estar vivo, planta essa organização que está planejando libertá-lo, da qual a Ultear faz parte, e planta que o sumiço dos dragões tem relação com tudo isso.

Caso você esteja (por algum motivo) lendo o mangá enquanto eu lanço esse quadro, lamento desapontá-lo, mas a maior parte dessas plantas não vai render bons frutos, enquanto outras como a relação do Jellal com o Igneel não vai render fruto nenhum, ao menos com a derrota do Jellal estamos caminhando para o arco final do mangá, né?

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