Breves pensamentos sobre Parasyte

Redescobrir obras é uma coisa que eu faço menos do que deveria. Ao fazê-lo, temos descobertas interessantes, obras melhoram, outras pioram, amores surgem e são destruídos. Nessa onda de redescobertas, decidi retornar a Parasyte.

Parasyte foi escrito no começo dos anos 90 pelo Hitoshi Iwaaki, e saiu no Brasil pela JBC numa versão muito ruinzinha, da época de grande transparência dos papéis, e trata a história de um mundo análogo ao nosso, onde repentinamente surgiram criaturas que mimicam humanos e se alimentam deles. O mangá acompanha Shinji, um adolescente que teve seu braço direito dominado por um desses parasitas.

Acho que o mais interessante pra se começar a falar de Parasyte, é sobre a relação entre o Shinji e o Migi, a coisa que de longe é mais interessante e melhor explorada do mangá. A jornada de ambos, com um se tornando mais humano enquanto o outro se torna mais parasita é feito de maneira muito bem feitinha, apesar de não tão orgânica quanto deveria.

Não é tão orgânica por que ela parece ser feita como se fosse uma escada e não uma rampa, com spikes de mudança e muitos personagens jogando na cara do protagonista e, por consequência, do leitor falas como “você não é mais humano”, essa que é a frase mais escrita nesse mangá, facilmente.

Mesmo com esse problema de organicidade, é uma relação muito crível e facilmente comprável e ver aquele personagem vazio aos poucos começar a se importar com o companheiro já vale a obra pra mim.

Mas, como eu disse, redescobrir obras trás uma nova perspectiva sobre a mesma, e infelizmente nem sempre isso vem de forma positiva. No caso o que mais sofreu com isso foi a mensagem da mesma.

Eu consigo ver qual a mensagem Parasyte quer passar. É uma mensagem de consciência ecológica, algo que estava inclusive muito em alta na época em que foi escrita. O problema, é que no seu quinto final, a obra se trai, e a derrota do vilão final se dá através de lixo despejado em lugar indevido, deixando aquele gosto de “tá, você queria passar que devemos cuidar mais da terra, mas com esse final, você simplesmente cagou tudo”, a maneira com a qual é resolvido me faz querer que tenha mais lixo na terra, afinal ele pode me proteger quando tudo estiver perdido.

E eu ficaria ok com a resolução se fosse uma obra mais cínica, como é o caso de Hunter x Hunter, mas não aqui, não desse jeito. Depois disso, ele ainda coroa com um epílogo que é só desnecessário e deselegante, onde ele tenta, e falha, consertar a mensagem do mangá.

Mas pra não terminar em um tom negativo, o ritmo e a quadrinização de Parasyte são muito bons, o dinamismo da leitura é muito alto e os dez volumes fluem facilmente em uma só sentada, uma pena que o character design não é lá a melhor coisa do mundo, mas enfim, é um mangá que vale a leitura, tem umas porrada maneira, e o trabalho com a dupla protagonista é ótima, fazendo com que mesmo a traição da mensagem não ofuscasse tanto assim o brilho da obra.

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