Arco x Arco: Fairy Tail #01 – Shinigami

TODOS esperam o retorno do Arco x Arco de Bleach, mas enquanto esse hiato não passa, decidi pegar o outro mangá que as pessoas adoram odiar: Fairy Tail. Só que como Fairy Tail tem uma tonelada de arcos, decidi que seria uma boa tentar fazer desse quadro algo semanal, e ver se, enfim, eu consigo terminar esse mangá.

Ficha técnica rápida, Fairy Tail foi escrito e ilustrado por Hiro Mashima (Rave Masters) entre 2006 e 2017, sendo publicado semanalmente na Shonen Magazine. O mangá tem uma tonelada de spin-offs, aos quais eu não vou me dar ao trabalho de ler para essa série de textos, então, sem mais delongas, vamos ao começo da obra.
(esse texto contém spoilers do cap 01 até o 22)

Romance Dawn

Como já é de praxe, gostaria de dar uma atenção especial para o primeiro capítulo de Fairy Tail e (talvez) desmistificar algumas coisas que vejo muito por aí. A começar falando sobre quem é o protagonista deste mangá, algo que deveria ser bastante óbvio, mas as pessoas insistem em confundir.

O protagonista de Fairy Tail é o Natsu Dragneel, personagem de cabelo rosa, dragonslayer do fogo, e isso deveria ser claro, mas não é. Isso acontece principalmente por culpa tanto do primeiro capítulo, quanto desse comecinho da história que como um todo se foca muito mais na Lucy (algo que deveria ter sido mantido inclusive, ela é uma personagem muito mais interessante). Nesse primeiro capítulo, por exemplo, o Natsu é apenas uma força externa. A Lucy é quem apresenta o mundo e quem entra de fato na trama do falso salamander.

O Natsu, por sua vez, está fazendo muito mais um papel de alívio cômico. Ele é um personagem tangencial até ocorrer a virada de final de capítulo que o revela como o verdadeiro Salamander.

E, bom, vamos olhar mais a fundo isso. É muito estranho que todos conheçam o Natsu como O SALAMANDER, menos ele próprio. É o tipo de coisa que funciona numa primeira leitura desatenta, para um efeito “wow”, mas depois cai por terra.

Falando em funcionar numa primeira leitura, isto também serve para o capítulo em geral. Uma aventurinha gostosa com uma reviravolta no final, mas aqui nós já conseguimos ver sintomas que se arrastaram pelo resto do mangá (por isso que olhar atentamente o primeiro capítulo é tão importante).

Aqui temos a história de como a Lucy, quer entrar pra Fairy Tail e decide se aproximar do Salamander. Mesmo depois de notar que ele é um babaca, ela ainda insiste em ficar próxima dele para conseguir o seu sonho. Ela descobre que ele quer drogá-la e vai resolver o conflito… E o Natsu chega voando.

E é assim que esse mangá funciona, não importa o quanto a história se foque em outros personagens, na hora de acontecer algo relevante, quem vai resolver é o Natsu e todo o trabalho no personagem em foco acaba sendo descartável.

Construção de mundo?

Outra coisa interessante pra se destacar é a estrutura do capítulo, que começa e termina com o conselho da magia discutindo o que fazer com a guilda e  (ao que parece) discutindo aquele mesmo acontecimento. Isto posto, esse capítulo funcionaria muito melhor se sua construção tivesse sido realizada num formato de relato ou num cenário investigativo, do jeito tradicional que foi feito acaba sendo apenas meio esquizofrênico.

Nós somos a Fairy Tail

A Lucy vai até a Fairy Tail e entra para a guilda e é a hora de apresentar alguns dos companheiros de trabalho e a peculiaridade deles. Com mais destaque temos o Gray (que fica nu), a Cana (que bebe), a Mira (que é muito ingênua), seu irmão (muito homem), e o Loki (que é mulherengo). Uma seleção curiosa de personagens, já que dali apenas um se torna realmente parte do grupo principal, digamos assim.

Fora isso, essas esquisitices funcionam para um capítulo de comédia, inclusive Fairy Tail funciona MUITO MELHOR quando está leve e não se leva tão a sério, como é o caso aqui. Mesmo que a interação entre personagens não seja a coisa mais rica do mundo, dá pra dar um desconto, estamos no segundo capítulo.

Depois disso, temos duas missõeszinhas, a primeira, de resgate ao Macau personagem, não cidade. Podemos começar pulando o fato da Lucy não ser realmente utilizada para nada que não seja o papel de donzela em perigo, e dizer, que pelo menos a interação Lucy-Natsu-Happy funciona muito bem. Eles passam a sensação de recém conhecidos mas que já estão se tornando amigos e tudo é bastante natural, ponto para o Mashima.

Fora isso, essa parte da história tem dois probleminhas maiores:

O primeiro deles é uma frase da Mirajanne “Todos na Fairy Tail têm um fardo que carregam”. Essa frase, na mão de um bom escritor, poderia dar pesos diferentes aos personagens, especialmente por quê eles tiveram um problema no passado e a guilda se tornou uma família para aqueles desajustados que agora se ajudam a empurrar pra frente, que é a ideia por trás dessa frase. Mas nas mãos do Mashima vai virar um bando de flashback triste que mal vai trabalhar os personagens, com uma ou outra excessão estou olhando pra você Loki. No final não tendo nenhuma repercussão maior sobre os mesmos.

O outro probleminha é que Fairy Tail tem uma necessidade, ele PRECISA, precisa muito, que você se emocione, SEMPRE. Isso já é levemente problemático pra uma série com tanta carga cômica (ao menos neste início), mas as coisas pioram. Nos é apresentado Romeo Conbolt, o tal filho do Macau pessoa, não cidade, que quer porque quer que alguém vá salvá-lo, ao qual Makarov (líder da guilda) responde que um mago tem que se virar sozinho. Não vou entrar no mérito disto não fazer qualquer sentido para o resto do mangá e ser só uma desculpa para apenas o trio que conhecemos ir ao resgate.

Enfim, o problema está justamente no Romeo, o Mashima implora pra você comprar o papo de “o Natsu se vê no Romeo” para com isso conseguir te emocionar no final. Só que não funciona, você não conhece aqueles personagens a tempo suficiente, você mal viu eles interagindo, as pessoas estão te contando o que o Natsu sente, ele não mostrou esse lado ainda, além de uma frase de quero ser o rei dos piratas encontrar meu pai. Então, quando acontece a catarse final, você apenas não se importa.

Quanto a segunda missão, ela é ok, tem os problemas de tentar emocionar e não conseguir, tem o problema do Natsu salvar o dia novamente, tem o problema de tratar suicídio de maneira leviana, mas é divertida.

Mas antes de passarmos pra frente, eu queria dizer que a construção de mundo é muito confusa. Esse começo faz parecer que magos são subestimados, tanto é que aparecem dois caçadores de recompensa mercenários zombando dos magos, e de como magos são fisicamente fracos. O número de magos fisicamente fracos que aparece nesse mangá, se não for zero, é algo muito próximo a isso, e esse mundo, daqui pra frente, vai resolver TUDO, com magia.

O time mais forte da Fairy Tail

Vamos por partes, primeiro eu queria estabelecer que o Mashima não planeja um palmo na frente do nariz e esta frase que está no mangá é prova disso. O time mais forte da Fairy Tail em funcionamento naquele momento deveria ser a Tribo do Deus do Trovão, a equipe liderada pelo Laxus, que vai aparecer uns volumes mais pra frente.

Mas neste ponto, certamente o Laxus ainda não existia, então, pra criar algum hype para esse primeiro arco grande, foi necessário essa propaganda de “O TIME MAIS FORTE”. Depois, é muito engraçado como o funcionamento desse time é esquisito. A Erza neste começo de mangá é muito mais uma caricatura de um personagem forte, que um personagem por si só.

Aproveitando esse gancho pra falar dos personagens, eu não queria entrar nesse papo barato de “nossa, Fairy Tail, é muito One Piece, né, galera?”, mas é inevitável quando o Gray e o Loki são claramente o Zoro e o Sanji, respectivamente, enquanto o Natsu e a Lucy são o Luffy e a Nami. Até os trejeitos femme fatale gananciosa a Lucy tem nesse comecinho. Pelo menos com o decorrer do mangá, o Mashima acabou por encontrar uma voz mais própria para os personagens, apesar de ser impossível desvencilhar das raízes.

Inclusive esse é um bom momento para abrir um parenteses e corrigir uma inverdade que muito circulava (não sei se ainda circula) a internet na época que essas discussões sobre a semelhança das mesmas eram mais acaloradas. O Hiro Mashima nunca foi assistente do Eichiro Oda. Esta informação eu nem acho que deveria explicar, já que é de MUITO fácil acesso, é só abrir a Wikipédia do Mashima pra ver que de 1999 até 2005 ele publicava Rave Masters, em 1999 One Piece tinha 2 anos só. Para estabelecer o quão cedo é isso, 2 anos tem mais ou menos 104 semanas, e no   capítulo 100 é quando One Piece entra  na Grand Line. Mas voltando ao Mashima, mesmo antes antes de Rave ele já estava publicando alguns one-shots, então meio que não sobra muito tempo para ele ter sido um grande assistente que se inspirou no mestre.

tabelas, como não amar?

Voltando aos personagens, nesse começo é muito esquisito ver como rola uma não interação entre eles. Quero dizer, você meio que entra na guilda em companhia com a Lucy, mas o que você encontra são muito mais interações cruas, do que círculos formados que você vai conhecendo aos poucos. Parece que os personagens só começaram a interagir quando nós começamos a acompanhar aquela história. Isto se reflete principalmente na interação dos outros membros com a Erza. Mais uma pequena cutucada, a Erza é uma maga Rank-S importante naquele mundo, mas a Lucy (uma pessoa cujo sonho era entrar na Fairy Tail) não a conhece, para que nossa miss exposição 

Mirajanne pudesse apresentá-la sem interrupções.

Finalmente Shinigami

Eis que, finalmente chegamos a parte maior desse arco. A luta contra a guilda das trevas Eisenwald. Esse arco é um tanto quanto fraco, talvez mais fraco que a segunda missão, aquela que eles foram na casa do velho roubar o livro.

E isso se deve a vários motivos, mas principalmente por causa das lutas. Como é o primeiro arco, o autor está muito mais preocupado em fazer showoff dos poderes dos 4 do que realmente desenvolver lutas bacanas. No meio desse showoff também começa outro dos problemas desse mangá: afinal, o quão fortes são os membros da Fairy Tail?

Porque, se você olhar para eles baseados neste arco, a Erza é bem fraquinha, principalmente para todo o hype que o próprio mangá constrói para ela. Fora isso, o poder dela é basicamente gerar espadas e outras armas cortantes, o que faz ser muito difícil de engolir (mesmo porque, ela mesma reforça que vai deixar um mar de sangue) que pessoas que matam não são aceitas em uma guilda normal (e isso vai piorar  mais  pra frente,  aguarde).

Aliás, falando em pessoas que matam, chegamos ao vilão dessa parte, o Shinigami. Eu nunca fui muito exigente com construção de vilão bunda pra b-shonen, a maioria das primeiras sagas entrega algo mais ou menos no nível do Buggy mesmo. Mas o Shinigami, é muito pior, ele é um potencial desperdiçado, ao fazer dele um revolucionário que quer impedir as injustiças do mundo, você cria uma questão que nunca mais será relevante. É como fazer do Stain em Boku no Hero Academia um vilão introdutório do mangá e nunca mais tocar no assunto. É um buraco muito grande na construção daquele mundo.

E veja, eu entendo que em qualquer sistema existem pessoas descontententes, mas quando você decide mostrar o personagem na sua história, isso tem que repercutir de alguma forma. Qualquer roteiro bom é assim, é pra isto que serve o Scar em Full Metal Alchemist, desafiar o statuos quo e fazer o leitor e os personagens questionarem se realmente estão do lado certo. Mas aqui, o Shinigami só serve para uma pose de socão legal do Natsu e um discurso manjado do Makarov.

Erza vs Natsu

Bom, pra fechar esse texto, temos a luta sem graça contra o Lullaby, demônio que basicamente serve para apresentar a ideia do Zereff, e então temos um finzinho com a luta do Natsu contra a Erza. A luta não vai até o final porque o conselho chega e leva ela presa pelo caos que a Fairy Tail sempre causa.

Voltar ao começo das coisas sempre me é interessante, especialmente em algo como Fairy Tail, que eu acompanhei o anime desde o episódio 10 ou 11 em uma época muito diferente, onde eu não tinha nem a bagagem, nem o senso crítico de hoje. Quanto a qualidade em si, eu gosto de como o trio (Natsu, Lucy, Happy) funciona, e o time cômico é bem feitinho, mas isso é basicamente só o que temos até aqui. Nenhum outro personagem é interessante, nem mesmo as suas interações, e as lutas foram fáceis demais.

Enfim, por essa semana é isto, espero que venham conferir o dá próxima, que vai ter um foco maior no rival mais bunda dos b-shonens, Gray Fullbuster.

Deixe uma resposta

3 pensamentos em “Arco x Arco: Fairy Tail #01 – Shinigami”