Animes slice of life possuem algumas subcategorias e uma delas é o iyashikei, subgênero que podemos enquadrar a obra Yokohama Kaidashi Kikou. São nessas histórias que contemplamos o cotidiano do personagem e os pequenos detalhes que o anime nos apresenta sobre seu universo.
Yokohama Kaidashi Kikou é uma série de mangá de ficção científica escrita e ilustrada por Hitoshi Ashinano. O mangá foi serializado na revista Monthly Afternoon da Kodansha entre 1994 a 2006, contendo 14 volumes. Partes da história foi adaptada como duas séries em formato de OVA pelo estúdio Ajia-Do.
Sendo uma das obras mais clássicas do gênero slice of life e iyashikei. Yokohama Kaidashi Kikou, tanto no anime, quanto no mangá, fazem o espectador ficar imersivo no universo apresentado, isso tudo enquanto estamos acompanhando a protagonista em seu universo.
Sinopse de Yokohama Kaidashi Kikou
Yokohama Kaidashi Kikou se passa no Japão em um futuro próximo, onde o aquecimento global deixou a cidade de Yokohama embaixo d’ água, apenas restando colinas acima da superfície do oceano. O que costumava então ser uma das maiores cidades do Japão, agora parece uma cidade pequena engolida pelas águas.
No entanto, não há sentimento de desespero e devastação entre os moradores. Na verdade, as pessoas estão desfrutando de uma vida descontraída, aproveitando o tempo pacifico e a companhia umas das outras.
Sendo assim, acompanhamos Alpha Hatsuseno, uma androide que administra uma cafeteria enquanto o dono do lugar está em uma viagem por tempo indeterminado. Embora ela passe bastante tempo sozinha, Alpha é alegre, sociável e, diferente dos humanos, imortal.
A maioria dos capítulos de Yokohama Kaidashi Kikou são capítulos autônomos que descrevem Alpha em atividades diárias, seja sozinha, com clientes ou viagens ocasionais pelo campo ou pela cidade de Yokohama.
O que são animes iyashikei?
O subgênero iyashikei, que vem do slice of life, é específico para obras japonesas. Sua tradução literal significa “cura” onde, nesse tipo de anime, é mais comum retratar os personagens vivendo suas vidas pacíficas em ambientes calmos. Assim, a ideia é que esses animes tem um efeito curativo no espectador.
A história do surgimento do iyashikei se dá em 1995, após os acontecimentos do grande terremoto em Kobe e o ataque de Sarin ao metrô de Tóquio. De acordo com o estudioso Paulo Roquet (2009), esses eventos traumáticos que os japoneses vivenciaram, combinados com a recessão econômica na época, fez com que a tendência iyashikei surgisse, mostrando “o contexto emocional para o surgimento da calma como um sentimento lucrativo e comerciável” (ROQUET, 2009).
Portanto, a ideia dos animes iyashikei, assim como é em Yokohama Kaidashi Kikou, é mostrar pequenos conflitos que se desenrolam em apenas um único capítulo ou dois. O foco também é menos no personagem e no enredo, e mais na construção do mundo e na criação de um cenário visual imersivo.
A magia em Yokohama Kaidashi Kikou
Um ponto que chama bastante atenção Yokohama Kaidashi Kikou é como a história não economiza os passos rotineiros de Alpha. É como se vivessemos um dia inteiro com ela, sem cortes. Vemos ela acordar, se arrumar, preparar um café, arrumar a sua cafeteria…
Depois, ela sai de casa, pega sua lambreta e anda pela cidade. Acompanhamos tudo que Alpha vê pelo caminho, todos os detalhes, sem quase nenhum corte em cena. São nesses momentos que ficamos totalmente imersivos naquele universo novo da cidade de Yokohama, retomando a ideia então dos animes iyashikei.
Os cenários da cidade são encantadores. É até estranho pensar que os moradores de Yokohama se acostumaram com as consequências pós desastre do aquecimento global. É um conforto estranho já que sabemos que a cidade está envolvida em água.
Pensando que isso poderia atrapalhar os moradores de lá, como talvez pegar uma rota diferente para um local ou vivendo em uma situação totalmente diferente, na verdade, o retorno da natureza traz um sentimento de limpeza da alma, são momentos meditativos.
Consequentemente, uma cena que tem no segundo episódio da OVA, mostra Alpha e uma das moradoras de Yokohama, observando a cidade junta ao mar. Uma das cenas mais interessantes do anime. Ela demora bastante e são apenas as duas olhando para o horizonte… O dia até se torna noite e vemos as luzes da cidade acendendo e o mar se tornando brilhoso por causa das luzes refletidas.
São nesses momentos que parece que estamos naquele universo com Alpha, vivendo em Yokohama e sentindo, estranhamente, de forma positiva, uma calmaria. Desse modo, essa é uma das grandes magias de animes iyashikei. É a serenidade e tranquilidade que esses animes transmitem no espectador.
O impacto de Yokohama Kaidashi Kikou
Obras ficcionais, sejam filmes, séries, ou animes, muitas vezes, tem a função de fazer o espectador criar certa empatia com a história e pelo personagem. Contudo, em Yokohama Kaidashi Kikou, a proposta é totalmente diferente. O que nos chama atenção, primeiramente, é o visual pós-apocalíptico calmo e o ritmo da história.
Porém, não é que não criamos empatia pela Alpha. Ela na verdade é a consequência. Quando cedemos ao universo de Yokohama, também cedemos para Alpha, criamos empatia pela robô, que está nos apresentando aquele universo e faz parte do mesmo.
E o toque final para a magia de Yokohama Kaidashi Kikou funcionar é mostrar apenas a rotina simples de uma robô que tem uma cafeteria em uma cidade pós-apocalíptica.
Por fim, se você se interessou por Yokohama Kaidashi Kikou, não deixe de escutar nosso podcast sobre a série, onde discutimos sobre a vida, o efêmero e a empatia por todas as coisas. Yokohama Kaidashi Kikou foi o primeiro anime de uma série que estou fazendo esse ano onde amigos meus possam me indicar animes a cada mês e eu faço análises sobre os mesmos.
Formada em Rádio, Televisão e Internet. Roteirista, criadora de conteúdo e produtora de vídeos. Experiência também na área de planejamento e criação de conteúdo para mídias sociais e redação. Defensora de Gintama e Hiro Mashima nas horas vagas.
Um pensamento em “Yokohama Kaidashi Kikou: A magia dos animes iyashikei”
Que texto bom!!! Yokohama é um mangá que tá na minha lista de leituras tem uns anos já, mas até hoje nunca tive aquele estalo que faz eu parar e começar a lê-lo. Mas esse seu texto me fez querer começar a assistí-lo agora e depois correr para a leitura o mais rápido possível. Esse tipo de obra que nós trazem calma, que é contemplativo e faz a gente querer aproveitar melhor as pequenas coisas da vida é muito bem vindo, principalmente em momentos de emocional desgastado, é um tipo de coisa revigorante e seu texto foi muito bom, de verdade. Estou ansioso pelos próximos e que só venha coisa boa nessa série!