Eu sempre tive medo de reassistir Clannad. Mesmo sendo um dos meus animes favoritos, eu tinha medo de chorar assistindo os episódios tristes do anime. Ao mesmo tempo, também tinha medo que Clannad não fosse tão extraordinário como eu achei que era quando assisti a primeira vez. Mas, eu finalmente reassisti o anime e foi uma das melhores experiências que tive.
Clannad é uma série de animação japonesa escrita por Maeda Jun e adaptada de uma visual novel da empresa Key. O anime foi lançado em 2006 pela Kyoto Animation, contendo duas temporadas, onde a segunda é intitulada como Clannad After Story.
O anime mostra o amadurecimento de seus personagens diante de problemas rotineiros da vida, de uma forma sensível e dramática. Isso acaba gerando identificação por parte do público que, ao assistir o anime, passa por reflexões profundas sobre os dilemas da vida.
Sendo assim, comigo não foi diferente. Depois de muitos anos, finalmente eu consegui reassistir um dos meus animes favoritos e pude identificar e sentir mensagens importantes do anime que provavelmente eu não senti grande impacto quando assisti pela primeira vez.
Sinopse de Clannad
Acompanhamos em Clannad a história de Tomoya Okazaki, um jovem delinquente que acha que nunca vai ser alguém na vida. Seu maior passatempo é matar aula com seu amigo Youhei Sonohara para passar aqueles dias de sua vida monótona. No entanto, tudo muda quando ele conhece Furukawa Nagisa a caminho da escola.
Nagisa é uma garota que acabou repetindo de ano após ter uma doença grave que a impossibilitou de ir à escola nos últimos meses. A garota, mesmo insegura, busca fazer novas amizades e também tem vontade de reabrir o clube de teatro da escola. Assim, alegando que não tem nada melhor para fazer, Tomoya decide ajudar Nagisa.
Assim, o anime é um slice of life, mostrando os dias escolares de Tomoya e Nagisa e outros personagens que os dois se envolvem durante a trama, conhecendo suas histórias e traumas. Desse modo, Tomoya começa a perceber que a vida não é tão monótona quanto imaginava que fosse.
Assistindo Clannad pela primeira vez
Eu assisti Clannad pela primeira vez em 2012. Eu tinha 14 anos e estava quase concluindo meu ensino fundamental. Acabaram me recomendando o anime porque eu tinha gostado bastante de Angel Beats, anime original do Maeda Jun.
Por mais que as duas obras tenham suas diferenças, Maeda sempre gosta de trabalhar com um tom melodramático em suas histórias. São personagens que possuem histórias emocionantes e são contadas em um tom dramático para trazer comoção.
Assim, comecei a assistir. Logo, a fantasia do anime já tinha me chamado a atenção. Ela é tão sútil que fazia sentido estar lá, compondo o universo e sua narrativa. A história também se passar no âmbito escolar só me chamou mais atenção. Eu já tinha me identificado com o universo do anime.
Com o passar dos episódios, aqueles personagens engraçados com personalidades fortemente definidas tinham suas histórias e traumas revelados. Cheguei a chorar na grande maioria das histórias e gostar ainda mais dos personagens.
A Nagisa foi a que me chamou mais atenção. A personagem tímida, insegura, mas insistente, que buscava tentar fazer suas vontades na escola. Dessa maneira, eu me identifiquei com a Nagisa logo que a vi.
Eu me senti acolhida pelos personagens, acolhida por um universo que depois os personagens iriam vivenciar e eu ainda nem tinha vivido, a vida adulta.
Clannad After Story foi sentimental para mim, foi como uma bomba de emoções sendo jogada diretamente em mim. Não que eu não tivesse idade para entender as questões retratadas no anime. Eu só não tinha vivenciado e não entendia o grande impacto que era retratado em Clannad After Story.
Reassistindo Clannad depois de 10 anos
Primeiras impressões
Eu sempre tive vontade de reassistir Clannad durante esses anos, mas faltava coragem. Para quem não sabe, o anime é considerado um dos animes mais tristes pelo público japonês (2017). Eu tinha medo de chorar com o anime outra vez. Mas também tinha medo de chorar e lidar com as reflexões que o anime poderia revelar sobre minha vida.
Portanto, os 10 anos se passaram. Hoje eu tenho 24 anos. Me formei na faculdade e tenho meu primeiro emprego. Passei por problemas internos, pessoais e profissionais. Cada dia lidando com a vida da forma que dá.
E assim, quando logo Clannad começou, eu relembrei minha vida escolar do ensino médio e os problemas que convivi na época. Meu ensino médio não foi conturbado, mas todo adolescente passa por problemas que acabam ficando marcados em nossas vidas.
Convivi com amigos e levei algumas amizades para a vida adulta. Vi amigos se formando e fazendo rumos totalmente diferentes do que eles sonhavam na época da escola.
E foi como Clannad mostra, de uma forma natural. Tomoya e Nagisa conhecendo seus amigos da escola e se formando com eles. Algumas amizades vão embora, outras ficam. Pessoas seguem sua vida, mas às vezes vocês voltam a se ver.
Logo, a personagem que mais me identifiquei em Clannad ao me lembrar dessa época da escola, outra vez, foi a Nagisa. A garota que tinha vontade de fazer tudo, muitas vezes até insistente para conseguir fazer, mas que era completamente rodeada de inseguranças. Portanto, ajuda eu acabei sempre tendo de meus amigos, assim como Nagisa teve no anime.
Contudo, os personagens dos animes também possuíam seus problemas fora da escola. Alguns, como o da personagem Kotomi, são bem sensíveis e complexos, mas sentíamos a mesma emoção com a retratação da perda e luto.
Sentimento de reassistir Clannad After Story
Eu sabia que meu grande problema começaria ao reassistir Clannad After Story, a segunda temporada do anime. Ao mesmo tempo que eu entendi melhor as mensagens que a segunda temporada nos passa, muitos momentos acabaram me emocionando.
A maior mensagem que fica em Clannad, ainda mais na segunda temporada, é a questão da família. Família vai além de laços sanguíneos. Podemos encontrar família naqueles que nos acolhem e cuidam da gente. E assim foi com vários personagens da série, inclusive com Tomoya, que foi acolhido por amigos mas, principalmente, por Sanae e Akio, os pais da Nagisa.
Acompanhamos o protagonista conhecendo a história dos personagens, muitas vezes ligada a questões familiares. Ele próprio tem seus problemas, ele perdeu sua mãe quando era criança e não consegue ter uma boa relação com seu pai que tem problemas com álcool.
Os problemas das famílias dos personagens poderiam ser os meus. Assistir, por exemplo, Sanae e Akio, dizerem que desistiram de seus sonhos para apoiar o sonho de Nagisa me fez refletir sobre a minha relação com meus pais, ainda mais da minha mãe, que teve que parar sua vida para conseguir me apoiar em muitos momentos.
Ao mesmo tempo, já vivi momentos em casa onde a casa era inteira de vidro, como na família da personagem Sakagami Tomoyo, que tudo poderia quebrar a qualquer momento. Os pais dela brigavam constantemente e aos poucos foram se afastando. Tudo mudou quando o irmão mais novo da personagem sofreu um acidente. Diante do problema, a família encontrou novamente um motivo maior para ficarem juntos.
O luto e medo de ser quem eu sou
Eu não sei lidar com o luto, muito menos quando um familiar ou conhecido está bastante doente. Tenho certeza que quase ninguém consegue. E os momentos mais difíceis no anime com certeza são a questão da perda e, acredito que Clannad consegue retratar muito bem a dor dos personagens. Dessa maneira, Tomoya lida com o luto fugindo, e acredito que foi mais um ponto em que eu senti identificação.
Ninguém quer lidar com o luto. E Tomoya então se afoga no trabalho para esquecer os problemas. No entanto, ele esquece até demais, e perde momentos importantes da sua vida que estão acontecendo ao redor e ele não percebe.
Além do luto, Maeda Jun cria uma máscara que esconde a verdadeira personalidade de seus personagens. Muitos personagens se escondem em seu alívio cômico mostrado nos primeiros episódios. No entanto, uma hora essa máscara quebra, nos revelando a verdadeira natureza do personagem.
Não precisamos nos esconder atrás dessa máscara. Não precisamos engolir nossos problemas e muito menos os esconder. E essa foi mais um sentimento que Clannad passou para mim.
Eu posso ser quem eu quero ser
Tomoya nunca enxergou um grande futuro para ele. Ele nunca esperou nada, mas quis mudar quando Nagisa entrou em sua vida. Ele achava que não tinha direito de sonhar e planejar seu futuro. E o ponto chave da segunda temporada foi quando vimos a mudança de vontade do personagem.
Ao mesmo tempo que Tomoya estava batalhando para ter um futuro, muitas vezes eu me sentia nessa insegurança. Claro que eu e o Tomoya temos vidas totalmente diferentes, mas entendo que passei muitas dúvidas e inseguranças na minha vida sobre o que eu poderia almejar para meu futuro.
A vida jovem adulta é cruel. Mesmo você dando seu melhor na faculdade e trabalho, você nunca vai se sentir suficiente. Portanto, muitas vezes eu pensei que não tinha direito de sonhar alto. Perdi vontade de fazer muitas coisas ao pensar que não tinha direito de querer almejar grandes conquistas para o meu futuro.
No entanto, assim como foi para Tomoya, o redor me fez ainda querer continuar a mudar, mesmo nos meus tropeços. Eu poderia ter um bom futuro pois me dediquei para isso. Eu me formei e consegui um emprego. Assim, eu tenho esse direito. Eu poderia sonhar com o futuro que eu quero.
O apoio de cada um
O Tomoya conseguiu continuar com sua jornada principalmente pelo apoio de seus amigos. Como foi no meu caso, com o apoio dos meus pais, como disse anteriormente, que me apoiaram de várias formas, como o Akio e Sanae apoiaram a Nagisa, e meus amigos, assim como os amigos de Tomoya o apoiaram.
Mas assim como o Tomoya sentia que poderia ser um fardo para esses personagens, eu também senti que poderia causar problemas aos meus conhecidos. Eu fugi como o Tomoya fugiu. Vamos sempre para o caminho mais difícil.
Os personagens de Clannad, assim como meus amigos, não são diretos. Eles não perguntam “qual é o problema?”. Eles são delicados, pacientes e adoráveis. Quando você percebe, eles estão o ajudando a construir um pequeno caminho para você conseguir seguir em frente.
A mensagem que fica: Reassista seu anime favorito
Muitas histórias pessoais são tão delicadas que deveriam ser adaptadas com um grande cuidado. E foi assim que Maeda Jun e sua equipe conseguiram transformar Clannad em um dos animes mais sensíveis e sentimentais já produzidos. Trabalhando com temas rotineiros da vida, de uma forma sentimental, ele consegue comover a grande maioria dos espectadores.
Assim, a dica que fica é, reassista seu anime favorito, veja se as mesmas mensagens vão te impactar como impactaram a primeira vez. Assistir o mesmo anime em diferentes épocas da vida com certeza é uma experiência interessante que vai sempre trazer novas perspectivas para o espectador.
Portanto, a minha experiência que fica é que Clannad ainda é um dos meus animes favoritos. Que conseguiu me impactar de uma forma mais reflexiva do que a primeira vez. E foi assim que eu me emocionei com Clannad novamente.
Formada em Rádio, Televisão e Internet. Roteirista, criadora de conteúdo e produtora de vídeos. Experiência também na área de planejamento e criação de conteúdo para mídias sociais e redação. Defensora de Gintama e Hiro Mashima nas horas vagas.
2 pensamentos em “Clannad: O sentimento de reassistir meu anime favorito”
Um texto maravilhoso sobre Clannad. Isso é lindo de se ver, pois mesmo após 17 anos do lançamento original, o anime ainda é capaz de despertar fortes emoções em todos.
Sou um grande fã de Clannad e também resolvi reassisti-lo essa semana. Guardo, inclusive, a minha camisa da Nagisa que mandei fazer anos atrás. Tive os mesmos medos, de de repente mudar o meu ponto de vista ou de achar que, uma vez adulto, a mensagem do anime não mais dialogaria comigo. Por isso, sou muito de acordo com o último parágrafo do texto, quando é dito que ao se assistir ao anime anos depois ele consegue nos impactar ainda mais, nos fazer refletir bem mais. O Maeda Jun passou uma mensagem que, creio eu, todo adolescente e todo adulto deveria escutar, ou melhor, assistir.
Puder assitir Clannad pela primeira vez faz um pouco mais de 10 anos. Eu estava terminando o Ensino Médio, e a história me tocou profundamente. Eu ainda estava entrando na sociedade como um adulto, e pra ser franco, me sentia um lixo, um inútil. Exatamente a imagem que o Tomoya tinha dele mesmo. Só que na época eu ainda não havia encontrado a minha Nagisa. Fiquei triste com o anime e principalmente, triste com a distância que eu sentia de ter uma vida feliz, ou de ter alguém ao meu lado para me apoiar e me amar. Depois de ter terminado essa experiência, passei em torno de uma semana bastante deprimido, me remoendo pela pessoa que era. É um dos efeitos do anime: ele te faz mudar. Não dá pra ser a mesma pessoa depois, e sou a prova viva disso.
Hoje estou perto dos meus 30 anos. Posso dizer que, indiretamente, sou formado, sou funcionário público, sou casado, então, bem… venci na vida e ingressei na sociedade bem cedo, e isso, além do meu esforço, é proveniente dos ensinamentos dessa obra. Isso porque me identifiquei com o processo de amadurecimento do Tomoya. A minha esposa sempre me lembrou um pouco a Nagisa, não na personalidade, que é diferente, mas devido ao fato de estar comigo quando precisei, e ter me dado forças. Nossa relação não é perfeita, mas busco agir com ela da mesma forma que o Akkio age com a Sanae, com brincadeiras, zoações, e isso nos traz felicidade e leveza no dia-a-dia. Falta-nos apenas um bebê, que é o meu grande desejo. Uma Ushio, para iluminar ainda mais o nosso caminho.
Costumo recomendar o anime aos jovens com quem tenho contato no trabalho. Alguns de fato assistem e percebo mudanças em seus comportamentos – agem diferente depois de conhecerem a história, e isso confirma o que eu disse mais acima. O que Clannad mostra é algo que pode se passar na vida de qualquer um, em qualquer lugar do mundo. E mais uma vez afirmo que a mensagem é forte, tocante. Pode até não fazer todos chorarem (eu chorei demais!), mas garanto que transforma a vida e as opiniões de quem assiste.
À escritora do texto: meus parabéns! E obrigado por trazer palavras tão boas e trazer novamente Clannad em discussão. Que mais pessoas possam ler o teu texto!
Arysson.
muito obrigada por esse texto. acabei fazendo uma tatuagem da figura do dango da ending do anime a algum tempo atrás, no impulso, antes de reassistir o anime. cultivei uma memoria tão boa que a musica da ending ficou na minha cabeça durante todo o tempo entre a primeira vez que assisti até hoje, então achei que fosse algum tipo de sinal ou algo assim. literalmente sempre soube a letra completa mesmo depois de muito tempo sem reouvir.
como muitas coisas da minha vida eu tenho medo de terminar e revisitar, aconteceu com esse anime também. mas ler esse texto me deu o pouco de coragem que me faltava pra assistir novamente.
(também assisti pela primeira vez na mesma idade que você hehehe)