Dragon Ball: A Lenda de Shenlong é Curto Demais

Dragon Ball: A Lenda de Shenlong ou Dragon Ball: Curse of the Blood Rubies conta a história de Son Goku um garoto da montanha que se une a Bulma e seus outros amigos para ir em busca das 7 Esferas do Dragão, em uma corrida contra o reino de Gurumes para ver quem consegue coletar todas as esferas primeiro. O longa é uma produção da Toei e foi lançado em 1986 no Japão e em 2002 aqui no Brasil.

Como já deu para perceber pela sinopse, Dragon Ball: A Lenda de Sehnlong é uma reimaginação do primeiro arco do mangá de Akira Toriyama. Isso cria um aspecto interessante, porque os quatro filmes do Dragon Ball original são reimaginações de arcos do mangá. O segundo é sobre o treinamento do Goku e Kuririn pelo Mestre Kami. O terceiro é o 23º Budokai, com o Tenshinhan. Já o quarto é, ao mesmo tempo, recontando o encontro da Bulma com o Goku e o arco da Red Ribbon.

Essa escolha, um tanto quanto curiosa, faz com que pessoas que não assistiram, e pessoas que já leram, tenham igualmente surpresas ao assistir ao filme. Se você não conhecesse a franquia na época, não ficaria dependente disso para curtir o filme. Caso conhecesse, poderia ver os eventos sob uma nova perspectiva.

Claro que essa escolha trouxe algumas consequências um tanto curiosas, especialmente para o primeiro filme. Por algum motivo, os filmes de Dragon Ball tem um tempo de duração bastante curto. O Lenda de Shenlong por exemplo, tem 50 minutos de duração. Essa escolha de tempo é uma força e uma fraqueza. É uma força porque fica facílimo de recomendar para qualquer um assistir, ele passa muito rápido e está sempre acontecendo algo na tela. E uma fraqueza porque ao ter que contar sua própria história enquanto reconta os causos do mangá, uma metade acaba sendo punida por isso.

Goku, Bulma e Pansy chocados com o Kamehameha

No caso, a metade que acaba mais prejudicada acaba justamente sendo a história do reino Gurumes. O filme abre contando sobre esse reino, que era um reino bastante pacífico, até que o Rei Gurumes descobre os Rubis de Sangue. Então, o monarca começa um rompante destruindo vilas e escalando violentamente para escavar o máximo possível de joias. A história do reino nos é mostrada através dos olhos da Pansy, uma garotinha com um design muito fofo e carismático batendo de frente com um dos líderes do exército, o Vongo. Enquanto isso, o próprio rei está se transformando lentamente em um dragão, cada vez querendo comidas mais deliciosas.

Por ser muito mais sério que a contraparte do mangá, o grupo do Pilaf, a construção do reino em si demandaria de muito mais espaço de tela. Ao invés disso, nós temos a rápida cena de introdução, uma segunda cena em que o Goku e seus amigos conhecem a Pansy, e os vários embates com o Vongo e a Pasta. Esses dois personagens são os encarregados em buscar pelas esferas a mando do Rei, sendo análogos ao Shu e a Mai da gangue do Pilaf. Depois disso, só vemos o reino novamente já no clímax do filme, com os heróis invadindo para tentar tomar as esferas do dragão e impedir os planos do monarca. Essa escolha faz com que o próprio rei tenha muito pouco tempo de tela, e não temos tempo de simpatizar ou rivalizar com o mesmo. Acaba então que sua derrota ao final do filme tem um gosto um tanto quanto insatisfatório.

O Rei Gurumes e sua fome insaciável

Já Vongo é um vilão, por mais raso que seja, que nos traz muito mais satisfação. Ele está sempre reaparecendo e batendo de frente com o Goku, então quando finalmente temos sua derrota num duelo dentro do castelo, sentimos que valeu a pena a jornada. Isso sem contar que os embates intermediários do filme são muito impressionantes graças a alta qualidade de animação do longa. Como destaque positivos, temos o dogfight entre a Bulma e a Pasta, logo no comecinho do filme. E a cena incrível do Mestre Kame destruindo um navio gigantesco com um Kamehameha.

Falando inclusive do aspecto visual, o filme não deixa a peteca cair em momento nenhum. Por ter sido feito pra cinema, a maioria das animações receberam uma dose gigantesca de cuidado, e especialmente os cenários estão soberbos de lindos. A direção, por conta do Daisuke Nishio, também está bastante segura, entregando cenas de ação bastante sólidas e diferenciadas entre si. O timming cômico, por mais que escapem as piadas datadas de putaria do Toriyama, também estão no ponto certo pra trazerem um tom de leveza para o filme. Duas muito boas são a derrota do Yamcha pra Bulma porque ele não sabe falar com mulher, e ela tentando explicar como funcionam as esferas pro Goku enquanto ele faz essa cara de quem está entendendo tudo:

Goku entendendo tudo

Inclusive as expressões faciais estão bastante especiais nesse filme. É bom destacar também como os designs do Toriyama, especialmente no começo da série, são absurdamente carismáticos. Eu sequer cresci com Dragon Ball, mas esses personagens dão um quentinho tão grande quando estão em tela. Captura a essência da aventura como poucas histórias.

Mas voltando um pouco para o plot, foi muito inteligente como o roteirista, Toshiki Inoue, vai conseguindo encaixar os pedaços importantes do grupo do Goku se conhecendo nessa versão muito mais direta. Talvez por estar permeado nessa aura mais simples e boba do começo, o espectador acaba nem se incomodando que a maior parte dos personagens se trombam ao maior acaso. Bulma e Goku simplesmente esbarram na Pansy sendo atacabada pelo Oolong no meio da floresta. A briga do Goku com o Oolong faz com que eles invadam o território do Yamcha. Essas coincidências que, em um filme mais sisudo, atrapalhariam a experiência, aqui passam completamente desapercebidas.

Goku e Oolong passando por uma recepção calorosa

E por ser um autor de comédia, o Toriyama conseguiu que neste começo, cada personagem fosse muito simples e muito bem definido. O roteiro do filme então usa isso muito bem para não gastar tempo demais com a introdução de cada um. Em poucas falas já sabemos tudo que precisamos saber por esses personagens. E a simplicidade não faz com que gostemos deles menos, muito pelo contrário. Mesmo sendo um filme curtíssimo, ainda saímos com a sensação que formou-se um vínculo ali, que será inclusive explorado nas continuações.

Dragon Ball: A Lenda de Shenlong é um filme muito gostoso de assistir, mesmo que o lado dos vilões seja fortemente subaproveitado. Seja pela animação e visuais de alta qualidade, pelo senso de aventura ou puramente pelo carisma do elenco, mais do que recomendado a assistida. Só é uma pena esse não ser um filme de 1h30, o tempo adicional faria muito bem ao roteiro.

Yamcha com pose de vilão

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