Vai Nagai! 02 – Demon Lord Dante

Demon Lord Dante é um mangá de 2 lançado em 1971. Escrito e ilustrado por Go Nagai, é o nosso segundo mangá da Vai Nagai!

Como no mangá anterior, importante reforçar gatilho para violência gráfica e abuso sexual, não recomendado para pessoas sensíveis.

Sinopse: Utsugi Ryo é um estudante do ensino médio que constantemente se vê atormentado por pesadelos. Pesadelos nos quais ele é um gigante, ou um demônio pré-histórico caçando pessoas. Por outras vezes uma entidade fala com ele diretamente, Demon Lord Dante, um comandante das forças infernais. O garoto então parte para o Himalaia, mas o que ele descobre hibernando no gelo eterno muda sua vida para sempre.

Antes de mais nada é importante dizer que como muitos mangás do Go Nagai, Demon Lord Dante termina em aberto. Essa é a segunda informação mais recorrente que você verá por aí. A primeira mais recorrente, é que foi desse mangá que saíram muitas ideias pro que viria a ser seu trabalho mais consagrado, Devilman.

Mas depois de ler Demon Lord Dante, venho dizer que eu me peguei positivamente surpreendido pelo trabalho. Não que seja uma história super incrível e bem amarradinha, uma joia menosprezada da carreira do autor, nada disso. Mas o que me surpreendeu é que ele conta uma história completa nesse mangá. Demon Lord Dante é mais que um proto-Devilman.

Começando do começo, nós temos o nosso protagonista completamente aterrorizado pelos próprios pensamentos, tentando se livrar de qualquer jeito da situação merda que ele entrou sem nenhum propósito. Não foi ele que causou aquilo, apenas está sendo afligido pelas constantes visitas do demônio. Ele então parte para o Himalaia com uma equipe, para poder por um fim em tudo, e a loucura começa.

Página introspectiva do mais alto garbo e elegância

Estou usando essa página como exemplo, mas o mangá está apinhado de momentos do mesmo estilo, onde abandonamos o real e passamos a acompanhar a perspectiva interna do Utsugi. A experimentação visual está realmente excelente, todo o trabalho dele de luz e sombra para evidenciar o estado de completa insanidade do Utsugi quando a nevasca fala com ele são muito bem feitos até culminar no primeiro encontro entre ele e Dante.

Em paralelo a essa jornada pessoal do Utsugi com o chamado do Dante, temos duas organizações se movimentando. De um lado, temos uma espécie de igreja que está ativa desde a inquisição, cujo objetivo é queimar até não sobrar ninguém que se oponha a Deus. Do outro temos o culto dos satanistas, um grupo que também está aí a milênios e quer trazer de a era dos demônios.

Talvez o aspecto mais interessante de Demon Lord Dante é como o Go Nagai vai, a partir desses três pontos, começar a brincar com ideias bíblicas, como Judas, Sodoma e Gomorra. Por ser um autor japonês, onde o cristianismo exerce pouca força, o Nagai pode se permitir brincar com esses tabus sem ser escrutinado em praça pública. Não que ele se importasse, visto Harenchi Gakuen, mas ainda digno de nota que essa abertura permite a ele criar uma mitologia muito refrescante para a série.

Deus e Gomorra

E mesmo o trabalho dele conseguir amarrar o Utsugi nesse plot milenar dos satanistas e cultistas, para que ele se torne o general infernal, é construído com bastante calma, tomando os devidos passos. Claro que, como eu disse, fica faltando uma conclusão, com o mangá finalizando no momento em que ele aceita se tornar um líder. Mas não deixo de ter sentido um gosto satisfatório, diferente do anterior.

Isso posto, vamos aos problemas. O primeiro deles é que muita coisa acontece de forma completamente acidental e descuidada. Logo que o Utsugi volta para o colégio, um colega dele chama para um espancamento de demônios. Isso acontece no exato momento em que ele está conflitado sobre se é humano ou não. Mesmo depois ele chega a encontrar uma outra personagem que também é bastante conveniente a forma como ela surge na trama. Em dado momento fiquei confuso se ela era uma personagem que já tinha aparecido antes ou uma nova, com o character design bastante limitado do Nagai para mulheres bonitas.

A outra questão bastante complicada por assim dizer é que ocorre uma inversão no meio da trama entre demônios e humanos, que eu não entrarei no mérito para não estragar a leitura. Acontece que os satanistas até aquele ponto sequestravam e sacrificavam mulheres em altares para os demônios. Mesmo com a inversão do bonzinho e malzinho, o máximo que dava para fazer é criar um grande meio cinza. Mas o Nagai deixa no quadrinho bastante inclinado a que tudo feito pelos satanistas é justificado e aceitável. Não só no aspecto do rapto, mas até aquele instante que ele opta pelo twist, os demônios não parecem estarem fazendo o que precisa ser feito. Parecem muito mais demônios clássicos que fazem aquilo por prazer.

Pura destruição

Mas de longe, a parte que mais me interessou nesse mangá não foi as perversões com os mitos cristãos. Foi o instante em que esse mangá se torna um mangá de monstro gigante. Em dado momento o Demon Lord Dante sai pela cidade destruindo tudo que encontra pelo caminho e é simplesmente sublime.

O cuidado que o Nagai tem para passar o senso de escala e destruição que aquele demônio descontrolado está causando nos arredores é sensacional. Você sente o peso de cada tanque que ele arremessa, cada pedaço de concreto que ele explode no soco. Isso sem dizer que o design do monstro em si é simplesmente magnífico.

Então todo esse momento dos soldados completamente indefesos enquanto são trucidados por uma ameaça que eles sequer entendem é ótimo. E é ainda mais interessante que temos acesso aos pensamentos do Dante que está igualmente confuso sobre quem é. É uma pena que o mangá todo não é só esse processo de transformação do Utsugi em Demon Lord Dante e seu eventual rompante de caos, seria ainda melhor.

Odeie Dante, odeie!

E com isso a gente encerra mais um texto do Vai Nagai! No final das contas é isso, eu terminei positivamente surpreendido pelo Demon Lord Dante. Achei que eu leria aqui só um protótipo do que viria a ser outro mangá e encontrei uma voz bem própria, com problemas bem próprios também. Ainda que com um final aberto, diria que vale a leitura por si só.

E por falar no próximo mangá, se preparem, que o próximo mangá da Vai Nagai! é Devilman, de 1972, publicado no Brasil pela New Pop! em 2 volumes.

O levante dos demônios

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