Gymnastics Samurai: Legado e Conexões Pessoais – Review

The Gymnastics Samurai ou Taisou Zamurai é um anime de 11 episódios da temporada de outono de 2020. O anime é um trabalho original, dirigido por Shimizu Hisatoshi (Eureka Seven – Hi-Evolution) e com series composition de Murakoshi Shigeru (Zombieland Saga, To the Abandoned Sacred Beasts). A série é do estúdio MAPPA e permanece indisponível no Brasil em serviços de streaming até a publicação dessa review.

Sinopse: Jotaro Aragaki, antigo membro do time nacional, devotou sua vida para a ginástica e estava lutando contra a idade e o desgaste físico. No entanto, um dia o técnico dele pede para que Jotaro comece a pensar em sua próxima carreira. Jotaro sofre com a notícia de sua iminente aposentadoria, mas tem o conforto de sua filha, Rei, que sempre está ao seu lado. Mas um encontro inesperado faz com que a vida dos Aragakis fique de pernas para o ar. (fonte: Funimation, tradução livre)

Eu me peguei pensando muito com qual anime eu abriria a nossa já tão conhecida série de reviews de final de temporada. Alguns nomes me vieram a mente, mas achei que seria uma boa começar com Gymnastics Samurai. Não que o site tenha qualquer potencial de fazer esse anime explodir de popularidade, mas o fato dele ter sido quase que inteiramente esquecido pesou bastante nessa escolha.

A essa altura todo mundo sabe o quão incrível Jujutsu Kaisen é, mas em paralelo a ele, um outro anime era produzido pelo Mappa. Inclusive me lembro bem da galera arrancando os cabelos se esse anime causaria problemas para a temporada final de Attack on Titan. Mas no final acabou sendo isso, aquele projeto menor do estúdio que estava lançando os animes de porrada hypados do ano. E felizmente Gymnastics Samurai é muito mais do que isso.

Claro que a produção do anime é cheia de concessões. Fica bem visível que se trata de um projeto menor, uma produção visando as Olimpíadas que nunca aconteceram, um projeto de paixão de uma equipe reduzida. Então não espere de Gymnastics Samurai sakugas intermináveis, produção de ponta, ou um concorrente a animação do ano. Muito pelo contrário, a série entende muito bem suas limitações.

De certa forma, essa também é parte da jornada do Jotaro. Entender suas limitações e aceitá-las. Perceber que ele não é mais aquele esportista novato de 18 anos. As frustrações, expectativas e fraturas de uma carreira longa se acumularam sobre ele. Mas não é nem de longe uma questão depressiva, e sim olhar o quanto essa bagagem traz consigo a vantagem da experiência.

É bem impressionante ver a mistura maluca de Gymnastic Samurai. Ele mescla gêneros, temas e tons com um equilíbrio bastante invejável. O que espanta bastante, considerando que é a primeira série que o Shimizu Hisatoshi de fato dirige. Essa mescla entre o esporte, o drama e o cômico perpassa também pela trilha, que mescla uma percussão quase que de rituais religiosos com um tecno anos 2000, sendo utilizada principalmente para pontuar os momentos de hype.

Grande parte das cenas de apresentação são feitas com utilização de CG. A técnica está longe de ser a melhor da indústria, mas é bastante eficiente para passar a fluidez dos movimentos e se mascara bem. A única exceção fica para um momento de flashback, que a produção optou por usar um filtro preto e branco meio estourado e o bonecão CG saltou aos olhos e me tirou completamente da cena. Também é bacana o uso do recurso dar a possibilidade de emular replays em ângulos diferentes de forma mais facilitada.

Entrando mais no cerne da série, Gymnastics Samurai gasta boa parte dos seus onze episódios nos mostrando os percalços da família Aragaki. Uma família formada pelo já citado Jotaro, sua filha Rei, a avó da menina, Mari e um pássaro sul-americano muito bizarro, o Bigbird. A mãe da garota, Tomoyo, era uma atriz de cinema, mas no tempo em que a série se passa já está falecida.

Uma das questões que é bastante interessante na série é o quão heterodoxa essa família é. Um lema da avó é que eles aceitam quem vier, e não correm atrás de quem se vai. Isso faz com que o elenco de personagem seja bastante plural, especialmente nesse núcleo mais slice of life da série.

E esse elenco é, de longe, o ponto mais alto do roteiro do samurai ginasta. Grande parte deles é desenvolvido de forma bastante satisfatória, com uma pluralidade bastante grande de personagens tridimensionais. Mesmo personagens quase terciários, como a Ayu, tem um sopro de vida bem grande no decorrer da série. E mesmo que esse não seja o foco da série, o trabalho na filha do Jotaro é digno de destaque. A garota muda muito do primeiro episódio para o último, de forma bastante natural e gradual, principalmente com a interação com o Ninja.

Este ninja é o Leonardo Sturges, personagem que vem morar de favor na casa dos Aragakis enquanto foge do seu passado. O Leo é, sem dúvidas, o coração do anime. Ao mesmo tempo que é o motor que propulsiona tudo aquilo pra frente. O Leo é o tipo de personagem que extrai o melhor de todos aqueles que estão ao seu redor.

Se entramos na série com os Aragakis, ainda que aparentemente próximos, são bastante distantes e perdidos. Saímos com a certeza que eles se tornaram uma família muito conectada, e boa parte disso é culpa do Leo. Só que com isso Gymnastics Samurai faz mais uma ótima jogada e inverte essas polaridades. Se no começo o Leo é quem propulsiona os Aragakis, no final da série é ele quem precisa ser propulsionado. Mas falar mais do que isso seria spoiler. Basta dizer que o anime é muito sobre passagem de bastão, sobre o poder de um ídolo, e a influencia do esporte (ou da arte) naqueles a sua volta.

Estou aqui até agora rasgando elogios a série, mas um pouco de amargo é importante nessas horas. E sem os chavões que parecem profundos, mas são só vazios sobre como “nenhuma série é perfeita” ou coisa do tipo, vamos entrar nos problemas dessa série.

Os maiores problemas de Gymnastics Samurai são dois na real. O primeiro deles é a mistura de gêneros que nem sempre dá certo. Por exemplo, no último episódio temos uma passagem que envolve perseguição de carros e corrida contra o tempo. Mesmo que a série até aqui não tenha tido medo de ser brega, aquilo foi muitos níveis acima de tudo que havia acontecido antes. Foi destoante demais e me tirou da cena, que deveria ser tensa e apreensiva, por se tratar de um dos clímaces da história.

O segundo é o personagem antagonista do lado ginasta do roteiro. Tetsuo Minamino é um prodígio de dezessete anos que está vindo com tudo. Quase que como se olhássemos um shonen de esporte do lado avesso. Ele é esquentado, convencido e pau no cu. Acontece que a série faz muito pouco com o personagem, em dado momento o roteiro finge que vai dar profundidade para o rival, mas nunca sai do zero a zero.

E não é como se a série não tivesse tido tempo de trabalhá-lo, o Tetsuo aparece diversas vezes durante a história, mas sempre pra ter a exata mesma interação. Isso fez dele um personagem completamente unidimensional, pouco interessante e descartável. De maneira um pouco torta me lembrou o, igualmente péssimo, JJ de Yuri on Ice.

Mas em compensação, toda a jornada do Jotaro é excelente do começo ao fim. Quando o conhecemos, ele é um cara completamente perdido na vida, com a cabeça enfiada completamente no próprio rabo para enxergar um palmo na frente do nariz.

Ele está distante da filha, não ouve o técnico, sendo muito sincero não ouve nem o próprio corpo. De certa forma, a jornada do Jotaro é muito sobre perdoar a si mesmo, por ter optado continuar uma apresentação, ao invés de ido até a esposa. É uma cruz que o personagem carrega até hoje, uma cicatriz como o ferimento no ombro.

Então muito da série é o Jotaro entrando em contato com aqueles que estão a sua volta. Assim como muito da série é sobre o Jotaro entrando em contato consigo mesmo. Quando chegamos lá pelas tantas e um outro personagem pergunta se ele será ginasta até morrer e ele responde que sim, tudo mudou. O Jotaro do começo era ginasta para morrer, o do final, para viver. E essa breguice intencional é muito do que faz o anime funcionar no final das contas.

De qualquer forma, caso não tenha ficado claro até agora, recomendo demais que dê ao menos uma chance a Gymnastics Samurai. É uma série muito ciente do que quer ser e cheia de coração, com um dos elencos mais fortes desse ano, e que com certeza vai ficar na memória de quem assisti-la até o final. No meu caso, ficarei de olho pra qual será o próximo trabalho desse diretor, com certeza um cara com futuro.

E ai, assistiu Gymnastics Samurai? Gostou? Odiou? Diz aí o que achou e, claro, qual o próximo anime que deve aparecer por aqui.

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