Uma carta sobre os curtas-metragens

Longe dos holofotes, esquecido em meio a imensidão de filmes e séries, o universo dos curtas-metragens transborda, solitariamente, uma efervescência descomunal de estilos, imaginação, experimentação e inventividade.

Habitando seu próprio universo, longe de características mercadológicas e de produção de projetos maiores, longe de parâmetros narrativos e/ou visuais; misturam-se em produções ambiciosas de jovens estudantes e aventuras loucas de grandes diretores, misturam-se em elaborações de ideias simples e experimentações que beiram o insano. Tão distintos que seguem suas próprias regras e próprias características, apesar de sua grande diversidade. 

Talvez quando você pensa em curtas as primeiras coisas que vem a sua mente são os da Pixar, como aquele do xadrez ou o do costureiro de Toy Story, talvez o que vem a sua mente são aqueles curtas diferentões europeus, ou curtas da Gobelins, todos esses são ótimos, porém não os citarei aqui porque não é o foco do site. A última coisa que você vai pensar é em produções nipônicas, e como esse é o tema do site, um dos objetivos deste texto será recomendar ou apenas indicar alguns projetos interessantes.

Mas primeiro vamos por partes…

As características de um curta-metragem

Beyond, curta dirigido por Koji Morimoto na coletânea Animatrix.

45 minutos

Esse é o tempo máximo de duração de um curta, mais do que isso já é outra coisa. Na verdade, não existe um consenso completo da duração que deve se ter, você pode encontrar essa duração em livros e em outros lugares, mas, por exemplo, no Academy Awards do Oscar só consideram até 40 minutos, já no Festival de Sundance consideram até 50 minutos, alguns festivais consideram até 30 minutos, para ter a possibilidade de passar mais trabalhos, como também alguns dicionários apontam que esse seja o tempo limite. Mas por praticidade vamos ficar com esse tempo médio de 45 minutos mesmo.

Olhando assim até parece bastante tempo, e até que é, dependendo da história pode ser pouco ou muito. Mas quase ninguém usa tudo isso, primeiro por causa dessa variação de aceitação em premiações e festivais, segundo porque gera mais trabalho e esforço de produção, cada minuto vale numa animação, e terceiro, quando a história começa a ir para esse tamanho é muito mais lógico transformá-la em um longa-metragem ou um média-metragem (termo pouco utilizado) por questões mercadológicas. Tendo isso em mente, projetos com intuito mais narrativo costumam variar de 10 a 25 minutos, no máximo.

O tempo é algo imperativo na vida de todos nós, cada coisa no mundo tem seu tempo e duração, ele é o tecido que contém e mantém tudo, e aqui não é diferente. Para que coisas possam acontecer numa história é necessário um determinado tempo, se é uma cena de ação a sua duração será x, se for uma construção mais emocional de um personagem será y, e por aí vai. A depender do que há na sua história será necessário mais ou menos minutos, então quando se está elaborando um curta um dos trabalhos é balancear o que pôr na tela, o que trabalhar, o que vai acontecer; não dá para fazer grandes histórias, várias temáticas, muitos personagens, por exemplo.

Redline Pilot, curta lançado como piloto do filme Redline, dirigido por Takeshi Koike.

Por essas e outras a grande maioria dos curtas acabam tendo regras indiretas em suas bases narrativas:

  • poucos personagens detalhados e/ou com arcos narrativos;
  • conceitos simples ou de fácil assimilação;
  • poucos dilemas e conflitos (muitas vezes apenas há um);
  • utilização de gimmicks, uma dinâmica, um tema, um artífice central que norteia os acontecimentos da história;
  • poucos cenários;
  • uso de cortes ou outros artifícios narrativos.

Obviamente que nem todos seguem 100% essas características, mas pelo menos uma dessas aparece. E não é como se houvesse um checklist de como fazer um curta bem feito, pontos como os acima são apenas consenso gerais ao se analisar o que se pode fazer com o tempo disponível.

Ideias, motivos e propósitos

Curtas acabam sendo um meio condutor de inúmeros tipos de expressões e vontades dos autores. Como não atendem a ditames mercadológicos há uma liberdade maior para expressar e experimentar visuais e conceitos, por exemplo, alguém tem uma ideia x de gimmick narrativa e quer fazer algo a respeito disso, o curta está aí para isso, um grande diretor tem uma ideia de visual diferente e quer testar como ficaria, e por aí vai, curtas animados dão essa maior liberdade de brincar com os visuais que em outras mídias não há como.

Eles também servem como aprendizado ou para divulgar e impulsionar a carreira de alguém, há milhares de exemplos disso por aí, alguns conseguem ingressar na indústria da animação, outros se tornam grandes sucessos, outros apenas fazem por hobby e lazer. Devo lembrar que também são extremamente comuns e populares em conteúdos de propaganda e videoclipes como os feitos pela dupla AC-BU, além de servir como pilotos para projetos maiores como o de Redline Pilot.

Screenshot de um videoclipe feito pela dupla AC-BU, mesma que produziu o anime Pop Team Epic.

Pela quantidade de trabalhos, pela duração e por um certo desinteresse em geral, os fins e a comercialização de curtas-metragens acabam sendo pouco produtivos, então os curtas quando prontos tem alguns finais possíveis: lançamentos em coletâneas com vários; festivais e prêmios especializados ou apenas de cinema em geral, como temos o Anima Mundi aqui no Brasil; ou apenas por divulgação própria do autor, o que foi facilitado com o advento da tecnologia e das redes sociais; fatos que alimentam ainda mais o sentimento de projeto autoral e de cunho puramente artístico dos curtas.

Agora que esses comentários não tão breves foram feitos, vamos as indicações.

Recomendações e indicações

Tsumiki no ie

Às vezes na vida nos vemos em situações difíceis ou inesperadas que nos fazem revisitar o passado e mergulhar no oceano de memórias que é a nossa vida. E isso é Tsumiki no ie. Lançado em 2008, produzido pela Oh! Productions e o estúdio Robot, foi o ganhador do Oscar de 2009 de Melhor Curta de Animação.

A arte é distinta do que se costuma ver em produções japonesas, mas carrega bastante o que você esperaria de curta animado vindo da Europa, ou um projeto que tenha um ar mais “artístico”, independente, autoral, de certa forma. 

Ele conta a história de um idoso que mora em uma casinha pequena, no meio do oceano, que foi construída em cima de outras casas e outros prédios para fugir do crescente nível das águas. Um dia, água começa a invadir sua casa e outras coisas começam a acontecer, fazendo com que ele mergulhe nas águas, adentrando as antigas casas e no processo revisitando memórias de sua vida.

Com essa premissa e dinâmica, o curta consegue fazer uma reflexão e metáfora delicada e gentil sobre o passar da vida e como construímos nossas relações e experiências na vida, sem deixar de contar uma história bonitinha de amor. Botando, também, uma pitada de crítica ambiental. 

Mount Head

Lançado em 2002 e feito por Koji Yamamura, Mount Head conta a história de um homem mesquinho, acumulador, que detem tudo para si, até que um dia uma folha cresce no topo de sua cabeça. Sendo uma adaptação de um rakugo de mesmo nome, foi indicado ao Oscar, tal qual o curta anterior, no entanto não ganhou. 

Ele trás um visual interessante por ter sido inteiramente montado de células pintadas a mão, somado a narração e trilha de shamisen, antigo instrumento japonês, o que dão um ar de conto antigo mesmo que a história se passe nos tempos atuais. Rakugo foi um estilo de contar histórias bastante popular na época de Edo que consistia em encenar um longo monólogo, essencialmente humorístico, a uma plateia. O que cria um tom irônico diante do final negativo.

Mount Head trata de representar lados negativos da sociedade e as consequências que isso traz. É uma obra bem simples, mas acredito que diante dos elementos levantados vale a pena dar uma olhada.

Kick-Heart

Uma premissa absurda. Personalidade. Ousadia. Porradaria. Abstração. Experimentação. Criatividade. De fato é mais um projeto do Yuasa. Kick-Heart é um curta-metragem, lançado em 2013, produzido pela Production I.G, dirigido por Masaaki Yuasa, e financiado através de uma campanha no Kickstarter.

A premissa é no mínimo curiosa:

Um wrestler masoquista e seus embates na vida profissional e amorosa.

Falar mais talvez prejudique sua experiência, pois o momento a momento, o desenrolar dos fatos, é foco do curta. Uma sequência caótica, dinâmica e coesa de acontecimentos que vão prender a sua atenção e sua curiosidade até o final, de forma nada convencional, tal qual trabalhos mais antigos de Yuasa, como Mind Game.

O curta é o que já se espera de um projeto do diretor, além da narrativa, a estética segue o estilo característico de traços simples, ligeiramente tortos, perspectivas ousadas, animação sagaz, uso de analogias visuais e um surrealismo para demonstrar conceitos. Apesar disso, analisar de forma sistêmica esse curta pode ser o caminho errado devido a sua louca condução narrativa. 

Além de haver pontos que podem ser questionados e até problematizados, com um olhar mais atento. Dizer se é bom ou ruim talvez seja difícil, mas ele traz muito bem os elementos e estereótipos do mundo do wrestling, mesclando com esse elemento kinky BDSM de forma bem humorada. Se você já gosta dos trabalhos do diretor e quer ver um Nacho Libre “Kinky” superação de infância, talvez Kick-Heart seja para você.

Puparia

Bom, Puparia talvez seja uma das animações mais bonitas que você verá na sua vida.
Dirigida e animada inteiramente por Shingo Tamagawa, foi lançada nesse ano de 2020 e representa em total plenitude o lado do abstracionismo, surrealismo e experimentação visual dos curtas-metragens. Com visuais estonteantemente ricos em detalhes, cores sublimes, enquadramentos finos e uma animação discreta, mas extremamente eficaz, Shingo cria uma experiência única em meros 3 minutos.

História e mensagem já são um caso à parte, pois nada é dito durante esse período e tudo beira a inexistência de narrativa ou qualquer tipo de lógica ou sentido. Entretanto, pode-se pressupor talvez uma analogia ao amadurecimento de um inseto em seu casulo com uma inevitável forma de transição ou evolução da raça humana para uma nova forma, um novo horizonte, em um aspecto ou espiritual ou sci-fi. Como também pode não ser isso, mas saber o que está acontecendo nesse curta não importa, e sim que é bonito demais.

Rain Town

Lançado em 2011 como projeto de finalização de curso e dirigido por Hiroyasu Ishida, diretor de Penguin Highway, Rain Town conta a história de uma jovem garota indo em direção a uma cidade que nunca parou de chover e onde tudo foi esquecido e deixado para trás.

Esse é o exemplo de projeto estudantil que alavanca a carreira do autor.

Rain Town é outro curta simples e cheio de personalidade. Tem arte mais sóbria do que as demais citadas aqui, mas sem perder charme e qualidade. A história se constrói em uma mistura dos acontecimentos atuais e antigos, com toques sutis conduzindo-a, sendo o maior condutor narrativo entender de fato o que está acontecendo, por isso não falarei mais do que isso.

Com um final satisfatório e um trabalho inteiramente bem executado, acredito que deva ser de valor dar uma olhada. E quem dera eu ter um trabalho de conclusão de curso desses…

Her and her cat & Voices of a Distant Star

Devo dizer que a princípio tive uma certa incerteza se colocava esses curtas no texto, mas acho que merecem seu espaço aqui pela importância.

Lançados em 1999 e 2002, respectivamente, são projetos que foram produzidos inteiramente por Makoto Shinkai (Garden of Words, Your Name) em seu computador de casa no tempo livre, na época que ele trabalhava na elaboração de cenários para visual novel, de onde saiu seu ponto mais forte na fase inicial da carreira.

Os cenários presentes nos dois são de fato o ponto mais impressionante, ainda mais para o ano que saíram. As animações que envolvem personagens são o ponto mais fraco de Shinkai, ainda mais em Her and Her cat onde quase não há animações propriamente ditas. É possível sentir nos dois casos a alma e a essência do diretor, seu estilo de história, temáticas e clima que seriam retrabalhados e aperfeiçoados em quase todos os projetos futuros. 

Her and her cat conta os relatos de um gato de convivência com sua dona. De forma bem simples e direta, com um ritmo desencontrado, a história passa um clima de melancolia e paixão ou idealização.

Voices of a Distant Star conta a relação de dois jovens e como eles lidam com seus dilemas próprios e a distância estelar que os separa a cada dia mais. Se passando em um universo sci-fi  próximo ao nosso, só que com naves espacial que atravessam o sistema solar adiante e uma ameaça alienígena a ser combatida; que serve como palco e analogia para o tema central da história. No entanto, a execução é um tanto falha, com uma direção, roteiro e ritmo inconstantes. É de fato um projeto ainda amador, mas extremamente ambicioso e ciente do que queria passar.

Após seu lançamento, Voices of a Distant Star gerou muita atenção no meio, mudando a carreira de Shinkai e a indústria de animação.

Mesmo com as falhas dos dois curtas é louvável o trabalho final, se tratando de como foram feitos. Aqui nós temos o exemplo de projetos feitos apenas pela ambição e vontade do sonho de uma pessoa e também temos o exemplo de como às vezes um curta pode impulsionar a carreira de alguém. Diante desses fatores e se você já gosta e/ou conhece os outros trabalhos de Makoto Shinkai, acredito que talvez seja interessante vê-los, para ver como tudo começou.

Little Witch Academia (OVA)

Saindo de projetos individuais e menores chegamos ao maior curta e uma das maiores produções desse texto. Financiado atrás de um fundo de apoio a treinamento de animadores do governo japonês, feito pelo Studio Trigger e dirigido pelo ascendente diretor Yoh Yoshinari, o curta de Little Witch Academia (2013) possui uma trama comum e bem executada, direção envolvente e cheia de alma e animações vívidas e divertidas.

A história conta o dia-a-dia de Yakko, uma estudante desajeitada e sonhadora em uma escola de magia, que anseia em se tornar uma grande maga como sua ídola, Shiny Chariot, até que altas coisas acontecem.

Apesar de uma premissa e conceitos já lugar comum atualmente, o curta não é genérico ou cai em mesmice. Ele transborda personalidade em tudo: personagens, animação, character design, enfim, no pouco tempo de tela você se sente em casa como se já conhecesse todo mundo ali a tempo. 

Após seu lançamento, LWA gerou um filme e uma série animada, sendo então um exemplo de curta que cresce e vai além, tal qual como Her and her cat e próximo da lista. Além disso, ele também mostra como premissas simples e comuns ainda podem brilhar e comover com sua mensagem de seja você mesmo, acredite no seus sonhos. Fica aqui a forte recomendação.

Death Billiards

Você se vê dentro do elevador descendo a algum lugar desconhecido, tudo parece confuso e incerto, há um ar de conformismo. As portas se abrem. Um corredor dá para um local amplo, chique e requintado, há mais três pessoas no local, dois bartenders e um cliente. Ao se sentar você se depara com o inevitável e o irremediável, e então começa o jogo pela sua vida.

Tal qual LWA, Death Billiards (2012) foi um curta financiado pelo fundo de apoio a treinamento de animadores do governo japonês, e teve uma adaptação futuramente em série animada, Death Parade. Feito pela Madhouse e dirigido por Tachikawa Yuzuru, centraliza-se em uma partida de sinuca entre dois personagens e em contar e desenvolver quem são esses dois e o que de fato está acontecendo, brincando do início ao fim com sua expectativa e noção moral sobre as coisas. 

Tendo um trabalho quase excepcional do início ao fim, ele vai buscar tratar sobre bem e mal, sobre os males da humanidade e de cada indivíduo, e o resultado de nossas vidas como um todo, deixando um final aberto para sua interpretação.

Falar mais a respeito talvez quebre sua experiência, então deixarei o resto para que você mesmo veja. Death Billiards consegue ser inventivo, interessante e ousado em sua narrativa e direção, sendo um dos melhores dessa lista, fica aqui grande recomendação.

Genius Party & Beyond

Happy Machine

Enfim chegamos as coletâneas de curtas, elas são um retrato muito condizente de todo o cenário de curtas-metragens. Os projetos nelas variam de qualidade, variam de temáticas, variam de estilo e variam de escopo, entre si, principalmente nesse caso onde houve totalmente liberdade para fazer o que tinham na cabeça.

Genius Party (2007) e Genius Party Beyond (2008) foram coletâneas produzidas pelo Studio 4°C (Tekkonkinkrett, Berserk: Era de Ouro, Children of Sea) e feitas por 7 diretores no primeiro e 5 no segundo, tendo grandes nomes como Masaaki Yuasa e Shinichiro Watanabe. 

As duas esbanjam de visuais e estilos formidáveis e diferentes em quase todos os curtas, de uma viagem cibernética futurista que mescla colagens de imagens até a pura insanidade que seriam os sonhos de uma jovem criança. Paira sobre tudo nelas um ar de prepotência, as vezes mais e as vezes menos, e até “pedancia” em alguns casos. Aqui há uma efervescência artística, um “fazer do artista”, um solipsismo autoral, mas também não se deixe levar por isso, ainda há curtas mais pé no chão.

Devido a esse ar diferente do habitual, acredito que seja de recomendação assistir a coletânea de 2007, a algumas imperfeições aqui e ali, e um trabalho aí que eu não recomendo, mas de modo geral acho que é uma experiência válida. Já a de 2008 eu tenho diversas ressalvas, mas creio que dois ali sejam interessantes ver. E como se pode entender, tem curtas que eu desrecomendo com força aqui, pois como tudo na vida sempre tem alguma coisa ruim no ar, e o mundo dos curtas-metragens não é diferente disso, muito pelo contrário.

Pra ser mais prático, as que eu recomendo assistir mesmo são: Shanghai Dragon, Happy Machine e Baby blue, na primeira; Gala (com ressalvas) e Wanwa The Doggy, na segunda. E não recomendo: Limit Circle e Moondrive, respectivamente.

Wanwa’ The Doggy

Agora, por fator de listagem e porque esse texto já não está grande o suficiente, alguns comentários breves de cada curta:

Genius Party

  • Shangai Dragon

    Genius Party (Atsuko Fukushima): Uma introdução bacana ao começo da coletânea, interessante visualmente; ciclos, cinema, deserto e um pássaro radical.

  • Shanghai Dragon (Shoji Kawamori): Um curta legal que vai misturar guerras espaciais e crianças pobres na China. Foca no “cool” e se apropria de muitos elementos da cultura pop, as vezes aparenta que poderia ser um filme completo. Mesmo com sua premissa não muito original consegue entregar uma experiência bem positiva, com percalços aqui e ali. A criatividade e inocência das crianças mais uma vez salvam o dia.
  • Deathtic 4 (Shinji Kimura): Com uma das estéticas mais interessantes daqui, fala da vida escolar de um jovem estudante no mundo zumbi até que ele encontra um sapo e amigos exóticos, a história mais manjada que tem por aí. Mesmo com visuais interessantíssimos a direção e animação ficam a desejar em vários momentos, tendo um ritmo acelerado e turvo depois de certo ponto. Parece um projeto com escopo grande demais para o que deveria ser.
  • Deathtic 4

    Doorbell (Yoji Fukuyama): Se um dia você acordasse e percebesse que há outro você sempre a sua frente? Articulado e montado na incerteza e mistério do que está acontecendo, o aproveitado dele será baseado se você entender a mensagem final, que eu achei legal se permite dizer. Talvez o curta com visuais mais comuns daqui. 

  • Limit Circle (Hideki Futamura): Uma estética bem ousada, mas é só isso mesmo, porque é um bagulho chato e pedante demais.
  • Happy Machine (Masaaki Yuasa): De novo Yuasa na parada. Com visuais simples e parecidos com Kaiba, também dirigido por ele, Happy Machine conta a história de um bebê que, vendo que sua realidade era montada, sai vagando e explorando por um mundo desolado e alternativo. Sinceramente eu não entendi direito qual o lance da história, talvez amadurecimento, talvez ciclo da vida, não sei. Mas é bem divertido de assistir.
  • Baby Blue (Shinichiro Watanabe): Dois estudantes deixam tudo para trás e vão numa road-trip em direção a praia. Em um grande sentimento de melancolia, trata de apresentar esses personagens e a relação entre eles numa mistura de cenas de ação, aventura e contemplação. Com algumas coincidências narrativas, o curta passa um clima agridoce sobre a vida.
Baby Blue

Genius Party Beyond

  • Gala

    Gala (Mahiro Maeda): Um objeto gigante e misterioso cai no mundo dos yokais, causando surpresa e curiosidade, até alguém decide quebrá-lo para ver o que há dentro. Com ritmo acelerado e apressado no começo, o curta parece que deveria ser um longa. Mesmo assim tem uma crescente final interessantíssima e uma cena final de tirar o fôlego que vale muito a pena ser testemunhada.

  • Moondrive (Kazuto Nakazawa): Apesar de um visual muito legal é um negócio extremamente ofensivo e criminoso. Vai à merda, Nakazawa.
  • Wanwa’ The Doggy (Shinya Ohira): O curta explora o imaginário e os sonhos de uma criança pequena. Um absurdo visual sem precedentes. Vale a pena a experiência.
  • Dimension Bomb

    Toujin Kit (Tatsuyuki Tanaka): Uma jovem com muitos bonecos de pelúcia recebe um fiscal da vigilância sanitária, mas há algo muito maior por debaixo disso tudo. Um ritmo e clima envolventes conduzem sua atenção do início ao fim, no entanto é um trabalho um pouco morno que não vai há muitos lugares.

  • Dimension Bomb (Koji Morimoto): Com visuais interessantes e ousados consegue ser chato e prepotente demais. De difícil entendimento não recomendo esse trabalho, mas sei lá, vai que tu gosta.

Modest Heroes

Enfim a última indicação do texto, se a coletânea anterior foi prepotente e diferentona demais pro seu gosto tenho aqui o trabalho certo para você.

Modest Heroes é uma coletânea de três curtas lançada em 2018 pelo Studio Ponoc, formado por dissidentes do Studio Ghibli, que carrega nos seus visuais, direção e história a alma do seu local de trabalho anterior.

Tendo uma mescla diversa de tipos de história, na medida do possível, consegue entregar um projeto competente, amigável e honesto para toda a família, não fugindo de suas raízes, mas mostrando que pode ser algo mais. Recomendo fortemente o segundo curta, mas tal qual a coletânea anterior, vamos a comentários sobre cada um:

  • Kanini e Kanino (Hiromasa Honebayashi): Conta a história de dois irmãos e sua família desbravando os perigosos de baixo de um riacho. O curta mais Ghibli dos três, tem semelhanças claras e evidências com The Secret World of Arietty, dirigido também por Honebayashi, tanto no mundo quanto em arco narrativo. Cai novamente no problema de parecer ser uma história grande demais para o escopo de um curta, mas mesmo assim é divertido e consegue ser de bom proveito.
  • Life Ain’t Gonna Lose (Yoshiyuke Momose): Um dos melhores curtas desse texto, conta a história e os dilemas de uma mãe e seu jovem filho com alergia fortíssima a ovos. Feito de maneira primorosa, a direção é de alto nível, a interação entre o menino e a mãe é extremamente real, vivida e divertida, personagens tangíveis, retratação sensível e interessante. Se pudéssemos comparar com algum tipo de trabalho seria com os de Takahata. Uma recomendação fortíssima de minha parte.
  • Invisible (Yoshiaki Nishimura): Um homem invisível tentando viver uma vida da qual ele não consegue mais fazer parte. O trabalho mais diferente do Studio Ponoc até então, trás uma história, mensagem e visual interessantes. Possui um final e significado em aberto, mas um conduzir bem agradável.

Com isso finalmente chegamos ao fim das recomendações e do texto. Se mesmo aqui você ainda quer mais coisas e não sabe onde encontrar, é simples: procure por curtas em festivais de cinema, os indicados, os vendedores; nas redes sociais também é um local de descoberta, por perfis especializados ou até mesmo dos próprios artistas, e uma coisa leva a mais coisas e a mais coisas. E se tiver algum curta que não foi mencionado e quer muito contar para nós, então manda ai!

Caso você chegou até aqui talvez não gostou muito dos curtas citados, acredito que pelo menos foi uma experiência diferente das habituais, o que é sempre válido. 

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