Blue Lock: Battle Campeões… Super Royale???

Blue Lock é um mangá em publicação desde 2018. O mangá tem roteiros de Muneyuki Kaneshiro (Kami-sama no Iutoori, Jagaaaaaan) e arte de Yusuke Nomura (Dolly Kill Kill), em andamento na Weekly Shonen Magazine (Hajime no Ippo, Baby Steps). Atualmente o mangá se encontra na marca de 80 capítulos e permanece inédito no Brasil.

Sinopse: Isagi é um atacante do ensino médio, em uma partida do campeonato, o garoto opta por passar a bola para um companheiro de time, o que acarreta na derrota e consequente eliminação da equipe. Paralelo a isso o Japão, depois de novamente ser derrotado na Copa do Mundo, quer criar uma forma infalível de desenvolver o atacante perfeito. A ideia é simples, recolher os mais promissores atacantes do país e colocá-los num intenso treinamento, num longo mata-mata, um verdadeiro battle royale, e do caldo dos derrotados vai emergir o melhor jogador de todos os tempos.

“Blue Lock is hype”

Este é mais um daqueles clássicos textos que aparecem de tempos em tempos no site. Textos nos quais eu pego algum mangá que me chamou atenção e apresento meus sentimentos momentâneos, uma espécie de recomendação. Ao mesmo tempo, já saíram textos o suficiente desse estilo para eu não precisar mais ficar justificando qual o tipo de texto que esse será, mas divago.

De qualquer forma, encontrei Blue Lock por acaso. Mais especificamente em um dos meus passeios pelo Twitter, me deparei com uma imagem maravilhosa que me vendeu o mangá de cara. No caso a imagem em questão apareceu no Twitter do Estranho, e era essa da lateral.

Essa mistura bizarra entre futebol e um traço edgy me deixou curioso o suficiente para correr atrás e devo dizer que foi uma jornada.

Blue Lock é uma experiência bizarra, ao fincar seus pés em dois gêneros tão dispares quanto o de mangás de esporte e os survivals faz dele uma leitura única. Tanto isto é verdade que o mangá consegue se manter na revista mesmo não sendo sequer o único mangá de futebol atualmente.

Isso não faz dele exatamente um título que arrisca muito no roteiro, mas sim exatamente pela mistura. Blue Lock puxa tropes e clichês tanto do survival quanto dos mangás de esporte. Temos o plot do traidor, comum aos survivals, ao mesmo tempo que temos o drama do ordinário versus o genial. Personagens absolutamente detestáveis, ao lado de amizades sinceras e quase homoeróticas.

Justamente por Blue Lock poder puxar de ambos que as coisas se tornam bastante imprevisíveis na leitura, mas esse não é o único fator que o faz brincar com expectativas de quem lê. O outro aspecto desse fino balanço se dá justamente pelo seu roteirista, Muneyuki Kaneshiro.

Kaneshiro a essa altura é quase uma questão de relacionamento abusivo comigo. Ele sempre apresenta um conceito interessante, só para me decepcionar. No entanto sigo buscando a experiência que ele me entregou com o final do primeiro Kami-sama no Iutoori. Nunca mais ele entregou algo sequer próximo disso, nem na sequência, Kami-sama no Iutoori Ni, nem em qualquer outro mangá dele, como Grashros ou Jagaaaaan, mas sigo voltando.

Eu sempre volto porque, por mais merda que os mangás do Kaneshiro se tornem, ele ainda é muito bom de estruturar os próprios capítulos. Como o próprio Estranho disse no tweet que me fez correr atrás da série, “Blue Lock is hype”. Na verdade Kaneshiro is hype seria o mais próximo do que eu sinto.

Outro aspecto do autor é que, mesmo por vezes falhando miseravelmente (beijos Grashros), ele sempre trabalha com conceitos interessantes. O Kaneshiro não é o clássico tipo de autor que se escuda por trás de 34 barreiras e se diz apolítico. Todo trabalho é pinçado de uma gama de comentários sociais (alguns bastante tortos, fato) e com Blue Lock não é diferente.

Toda a questão que o organizador do programa bota na mesa. É de que o povo japonês é muito coletivista, falta individualismo na sociedade do Japão. Exatamente por isso eles não conseguem desenvolver um bom atacante, um cara que possui um ego enorme nas costas e um certo prazer em derrotar os outros. A jornada do Isagi é justamente parar de depender tanto dos outros e tomar as rédeas da carreira para si próprio. Por si só, esse tema já faz Blue Lock interessante o suficiente para ser lido. É o completo oposto do mangá de esporte shonen padrão, como Haikyuu, ou Captain Tsubasa.

Só que mesmo com esse caldo de edgy adolescente, o mangá ainda abre espaço para construir relações sinceras no elenco. Talvez seja a maturidade, talvez seja o estilo de história, mas Blue Lock freia alguns dos maiores problemas que por vezes permeia as histórias do Kaneshiro, o machismo e o cinismo.

O primeiro por uma impossibilidade, tem uma personagem feminina no elenco. O segundo é travado justamente pela metade mangá de esporte de Blue Lock, que ainda está lá e é parte fundamental do roteiro.

Inclusive falando da parte de esporte, o trabalho do desenhista, Yusuke Nomura, é soberbo. Tanto em narrativa visual, deixando as jogadas sempre claras e dinâmicas, quanto nas absurdas splash pages de impacto que transbordam personalidade. Mesmo que eu fale sobre o que pode vir a ser a exploração temática do mangá, o coração é sem dúvida o momento a momento das partidas que é carregado de forma magistral, principalmente considerando que esta é uma publicação semanal.

Um único problema nesse aspecto é que alguns personagens por vezes acabam muito parecidos com outros, o que leva aqueles 30 segundinhos de delay para finalmente sabermos quem era pra ser o tal retorno triunfal.

Também é curioso como cada partida trabalha sempre mais de um personagem, só que sem perder o fluxo do raciocínio, mesmo no início da publicação. Uma característica que o Furudate (autor de Haikyu) era mestre, mas acabou perdendo durante a publicação do mangá.

Mas mesmo apresentando e trabalhando os 2 ou 3 personagens por partida, não espere nada muito fora do seguro nesse começo. O elenco do time do Isagi é carismático, mas está longe de ser inédito e mesmo os rivais sofrem deste mal. Algo que não é imediatamente um problema por estarmos nos instantes iniciais, mas pode acabar se provando o calcanhar de aquiles da série no médio-longo prazo. Principalmente com algumas viradas de roteiro que acontecem depois da terceira dezena de capítulos.

Blue Lock, ao passar pelos 50 capítulos disponíveis, me fez ter a sensação de que finalmente teremos um mangá do Kaneshiro que mereça ser chamado de bom. Seja pela temática interessante, seja pela experimentação com gêneros díspares, seja pela simples execução das partidas. Ou talvez eu esteja mais uma vez caindo no conto do autor de um mangá só, apenas o futuro dirá.

E pra fechar, você ainda pode experienciar (caso esteja lendo as scans americanas) uma verdadeira guerra de scanlators, toda feita através de comentários passivo-agressivos no final de cada capítulo. Um mangá completo tanto dentro quanto fora de campo.

E então, leu Blue Lock? Amou? Odiou? Qual outro mangá você quer ver dar as caras nessa sessão de pseudo-reviews quase que indicações? Diga aí nos comentários…

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