O Preço dos Mangás no Brasil 2019 e Como Enxergo o Mercado


Há um ano e meio, os preços dos mangás no mercado brasileiro me incomodaram ao ponto de iniciar o primeiro post “O Preço dos Mangás no Brasil“, tendo como estopim o aumento de 47% de um mangá previamente anunciado dias antes de ser lançado. A vida foi acontecendo, 2018 não foi um ano fácil e o post só foi lançado nos primeiros dias deste ano. Na época pensei em expandir um pouco a pesquisa e também que em dezembro de 2019 ou janeiro de 2020, teria uma mudança ou aumento de dados suficiente para repetir o post nos mesmos moldes e observar como o mercado se movimentou. O triste é que em seis meses já haviam aumentos o suficiente para motivar um novo post. E o aumento não foi só na base de dados…

Para este ano, fiz também um levantamento dos aumentos de preços em títulos já em publicação, mas vamos primeiro aos preços dos novos títulos lançados em 2019, seguindo pelos reajustes e por fim meus pitacos sobre o mercado. Foram 55 novos títulos no período, sendo estas edições número 1 (ou únicas) responsáveis por 13,38% dos 411 volumes publicados pelas editoras brasileiras (eu não levo em conta os mangás didáticos da Novatec ou o mangá da Marie Kondo, por exemplo), o maior número desde 2015. Mensalmente, tivemos em média a JBC lançando por volta de dez volumes por mês, enquanto a Panini frequentemente lançou perto de TRINTA volumes por mês. A NewPop marcou presença em todos os meses com pelo menos um volume de mangá, mas também com light novels, enquanto as demais editoras possuem lançamentos mais esporádicos.

Novos Mangás Lançados no Brasil por Ano

Lançamentos Mensais Ano a Ano - Quadro x Quadro

Dentre todos os novos títulos, Wotakoi: O Amor é Difícil para Otakus foi o mangá mais barato lançado em 2019, com preço de capa de R$16,90. A publicação da Panini veio em papel offwhite, e com algumas de suas 128 páginas sendo coloridas. O lançamento mais caro do ano foi Devilman, da NewPop, ao preço de capa de R$94,90, uma redução em relação ao recordista de 2018, Ayako, que foi lançado por R$129,90 e mais tarde reajustado, sendo seu preço atual R$139,90, o mangá mais caro publicado no Brasil. Por outro lado, tivemos o ingresso também da Panini no filão dos mangás super-luxo e trazendo séries mais longas: Dragon Ball Edição Definitiva, custando R$64,90Monster Kanzenban, custando R$79,90. Com isso, tivemos em 2019 um preço médio de R$33,09 por volume de mangá, o maior valor até hoje, conforme gráfico abaixo. Para mais informações, como os títulos específicos, quantidade de páginas, tipo de capa e papel entre outros detalhes eu deixo o link da planilha com os dados AQUI.

Quadro x Quadro - Preço Mínimo e Médio dos Novos Mangás

Variação dos Preços dos Mangás no Brasil - Quadro x Quadro

No que tange aos reajustes, o campeão de 2019 foi Tokyo Ghoul re, publicado pela Panini, que teve um aumento de 43% em fevereiro, abaixo do recordista em aumento único de 2018, que havia sido Yo-Kai Watch, também da Panini que subiu incríveis 56% em dezembro daquele ano. Se considerarmos os aumentos durante o ano somados, Noragami, que teve dois reajustes de preço, em janeiro passando de R$13,90 para R$17,90 e em setembro de 2019 subindo para R$19,90, também chegou aos 43% de Tokyo Ghoul re. Conforme os os dados coletados, podemos ver que em 12 dos 24 meses de 2018 e 2019 somados, tivemos aumento percentual de preço médio acima de dois dígitos, enquanto em 6 meses não houveram reajustes e outros 6 registraram aumentos abaixo de 10%. Como os reajustes são sobre títulos diferentes que partem de valores base diferentes e são reajustados com diferentes tabelas em diferentes momentos, não me ocorreu nenhum gráfico que ilustre bem a situação, mas é possível novamente olhar AQUI a planinha que contém todas mudanças de preço discriminadas, assim os cálculos de médias, e alguns detalhes a mais que acrescentei par títulos lançados em 2019.

Agora entrando na minha visão sobre tudo isso e outras coisas mais…
Com razão, é recorrente em palestras e mesas redondas que contam com os editores, as reclamações de que o brasileiro lê pouco, que há pouquíssimo incentivo à leitura (ao menos quadrinhos não são um amontoado de muita coisa escrita, têm muita figura, embora talvez alguns ainda achem que eles careçam de suavização). Em contrapartida, mais um ano se passou, e nestes mesmos eventos, quando questionados por mediadores ou pelo público, a iniciativa mais concreta que se ouve por parte das editoras para captar novos leitores é a sugestão para que quem já é leitor presenteie outras pessoas com quadrinhos. Já ouvi mais de uma vez que existe um orçamento de marketing limitado, que o que funciona para uns não funciona para outros etc. Porém, no fim sempre fica a sensação de que as editoras são conduzidas de forma mais empírica do que deveriam, ao menos a nível de marketing, possivelmente de estratégia de mercado. Poucos parecem saber direito o tamanho do mercado em que atuam, qual o potencial, ou o que fazer para aumentar o público. É difícil encontrar números para ajudar a compor um panorama de mercado em um post como este, pois as empresas envolvidas divulgam pouquíssimos dados, mas às vezes parece que elas mesmas não possuem tantos dados quanto deveriam. Não há investimento em pesquisa. Existe caso de mangá que esgota muito rápido porque imprimiram x unidades e x unidades foram vendidas (o que nos leva a crer que o potencial de venda foi muito subestimado). Há mangá esgotado que na verdade não está esgotado, só possui cópias perdidas em algum depósito e portanto pode ser que volte aos pontos de venda. Em muitos casos não há clareza na comunicação das editoras com o público, não tenho como analisar se vale a pena começar a coleção A porque não sei se os números esgotados vão voltar a estar disponíveis eventualmente. Não sei se a coleção vai caber no meu orçamento porque ela pode começar o ano custando R$13,90, passar por R$17,90 e terminar custando R$19,90. Existem fatores que fogem ao controle, como variação de câmbio, disponibilidade de fornecedores, inadimplência.

As decisões empíricas de editores com anos de experiência no mercado devem ser mais acertadas que os palpites de um consumidor blogueiro, mas poderiam com certeza melhorar muitíssimo a comunicação e marketing. Das nossas grandes editoras, apenas a JBC possui um site que se pode chamar de completo em relação aos seus produtos. O uso falho das redes sociais é recorrente, existe pouquíssima produção de conteúdo para tentar conquistar novos leitores (aqui excluo a Pipoca e Nanquim da crítica) ou aproximação de quem já produza conteúdo para divulgação… É pedir pouco. Além disso ainda há alguns vacilos como a Panini ter concentrado a responsabilidade de representar o braço de mangás da editora no Levi Trindade, que me parece ótimo para fazer isso com quadrinhos ocidentais, mas que conhece pouco de mangá e acaba mandando algumas bolas fora… Ou ainda termos tido a presença de um mangaka com dois títulos publicados no Brasil (um em andamento aqui e no Japão) marcando presença em um evento nacional, uma raridade que fãs costumam valorizar, sem que isso fosse divulgado

2018 foi um ano de maiores baques quanto aos preços, mas voltamos ao patamar de elevação anterior. Houveram novas iniciativas interessantes, como a entrada de NewPop e Panini nos mangás super-luxo (na minha visão com escolhas acertadas de títulos), tivemos a Pipoca & Nanquim apostando em mais mangás e dentre as poucas informações sobre vendas a que se tem acesso, tivemos 6 mangás entre os 20 quadrinhos mais vendidos da Amazon em 2019. Porém, os rumos do mercado seguem bastante assustadores do meu ponto de vista… Todos estes seis títulos de mangás mais vendidos da Amazon são, ao menos teoricamente, para público adulto, possuem preço de capa acima de R$40,00 (o que não é tanto por exemplo no caso de PunPun, que veio no formato 2 em 1). Por um lado, ok, as editoras estão se dando bem com alguns títulos pontuais de maior valor agregado dando certo. Por outro… Não deviam haver mangás mais populares nessa lista? Dr. Stone? My Hero Academia? Black Clover? One Piece? Pelo menos essas franquias são, com absoluta certeza, mais populares que Boa Noite PunPun ou O Preço da Desonra. Existe um potencial bem grande de mercado que não é totalmente explorado. Me parece que em algum momento, em 2017 ou 2018, as editoras viraram o fio e se renderam aos sommelier de lombada e papel, porque colecionador deixa mais dinheiro por volume que um leitor mais despreocupado com isso… Bem, ao menos não foi para qualquer sommelier que alega que a leitura em papel de tons sépia prejudica a visão… E eu continuo a me lembrar da Abril apostando em formatos de luxo na virada do século… Enfim, comentem o que acham do atual momento do nosso mercado de mangás, de preferência discordem de mim e deixem bons argumentos. Eu quero ficar mais otimista.

 

Fontes:
https://mangasjbc.com.br/checklist-dezembro-2019/
http://www.guiadosquadrinhos.com/

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