Shokugeki no Soma, ou Food Wars no Brasil, é um mangá de culinária lançado na Shonen Jump, recentemente concluído com 315 capítulos. O mangá é escrito por Yuto Tsukada, e desenhado por Shun Saeki. E é uma história para a qual eu tenho (ou tive) muito apreço. Então nada mais justo do que dar meus dois centavos sobre o todo.
Tempos mais simples
Todo mundo, quando começa a adentrar no mundo de animes e mangás, o faz por meio de indicações. Seja de amigos, seja de anônimos, seja o algoritmo de algum site agregador. Depois de um tempo, a pessoa decide se aventurar por conta, e um dos comportamentos mais comuns é ficar de olho no que tá saindo na famigerada Jump. A vontade de encontrar algo que ainda vai estourar, pra ter o prazer de dizer que conhece antes da fama. Quase que um senso de pertencimento, de que você selecionou pessoalmente aquele mangá para fazer sucesso. E a primeira vez que isso me ocorreu, foi com Shokugeki no Soma.
Quando comecei a ler Soma, ele não tinha mais que dez capítulos e era diferente na sua mesmisse. Por mais que fosse um mangá muito estruturado como tantos outros de esporte, seu enfoque em culinária o destacava. É bom o disclaimer que isso era idos de 2012, eu tinha consideravelmente menos bagagem (e 16 anos), então me impressionar era razoavelmente mais fácil.
Dito isso, nem tudo foram flores. O ecchi me incomodou de começo, era como se eu gostasse de Soma apesar do ecchi. Hoje em dia, tenho certeza que parte do motivo de ter me chamado atenção foi o ecchi. Digo isso por ser exatamente esse o motivo dele estar lá, como uma punchline, um momento de absurdo naquele mundo onde todos estão muito sérios.
E o ecchi de Shokugeki no Soma é democrático. Você é um homem bombado? Uma colegial tsundere? Um mafioso? Um idoso? Não importa, eventualmente todo mundo fica pelado. E aquele absurdo me consumiu. Mas se foi o bizarro que me trouxe, foi o elenco que me manteve.
O dormitório Estrela Polar
O elemento mais forte de Shokugeki no Soma é de longe seu elenco de apoio. Completo e variado, indo desde os unidimensionais alívios cômicos, até personagens realmente bem trabalhados como a Erina Nakiri, nossa querida tsundere da língua dos deuses.
Toda essa mescla de personalidades, em sua maioria bastante fortes e demarcadas, são potencializadas pela prepotência vinda do protagonista. Soma Yukihira é um grande metido desagradável, mas é muito difícil tirar os olhos dele. Num mar cada vez maior de protagonistas apagados dentro da própria revista, de um marasmo sem fim na busca de quem vai ser o próximo Naruto, Yukihira se destacava pela sua acidez. Ele era um menino bom, no fundo, que se importa com os amigos? Sim, mas ainda era um tempero diferente numa fórmula cansada.
Então o elenco foi crescendo, os personagens foram mudando, a escala aumentando, e chegamos no penúltimo arco. O pai da Erina tomou conta da escola, decidiu que causaria uma revolução gourmet e expulsaria quem não concordasse com ele, a menos que os mesmos o vencessem num torneio de inverno.
O começo do fim de Soma
Esse arco tem…alguns problemas. A começar que perdemos a dinâmica mais interessante de Soma. Os combates culinários antes, raramente tinham um lado correto e um lado errado. Eram disputas, como num anime de esporte, com filosofias díspares, mas não necessariamente antagônicas. Aqui, esqueça time do bem contra o time do mal.
Ao mesmo tempo, a revanche do Soma com o Hayama talvez seja uma das melhores confrontos de todo o mangá. Todo o processo dele entender como o urso vive, como se alimenta, para bolar o prato é uma construção muito bem feita. Ao mesmo tempo em que é a conclusão do arco da princesa de gelo, Erina. Que finalmente integra a equipe principal.
Mas no meio disso, poucos dos membros da Elite dos Dez realmente são interessantes além do design. E o bem contra o mal deixa absolutamente mais previsível qual será o desfecho. Ainda assim, consegue se segurar mais ou menos bem, afinal é o arco final, né?
Chefes das Trevas
Não, na verdade não. Lembra como eu disse que parte do que era interessante era não haverem vilões? Pois bem, agora temos vilões. Uma liga das sombras de chefes do mal. É muito pior do que parece, acredite. Com a entrada dos chefes das trevas, não só abandonamos as sutilezas, como adentramos no mundo do poderzinho.
Sim, Soma nunca foi sobre culinária realista. Sempre houve forçassões de barra e pratos que um adolescente não faria sozinho em um espaço de uma hora. Mas as pessoas também não batiam bolo com uma motosserra. A criatividade parecia que tinha se esvaido completamente, então decidiram compensar com o bizarro. Pois bem, não deu certo.
Outra parte que sofreu foi o elenco de apoio. Soma agora fazia parte dos dez assentos. Era o primeiro, pra ser mais exato. E ficamos fechados nesse grupo, e nem ele por completo. Por algum motivo, Shokugeki no Soma pensou que seus personagens secundários mais interessantes seriam o Aldini e a Tadokoro. Eu não poderia discordar mais.
Pra além disso, achou que seria interessante que o inimigo final, o combate destinado de Soma, fosse com um antigo aprendiz de seu pai, nunca antes mencionado. Erina? Kurokiba? O próprio Soujiro? Obvio que não. Vamos colocar um personagem novo, que venceu o Soujiro em off, e venceu o Eishi (ex primeiro assento) que obviamente vamos conseguir criar um peso pra esse personagem que caiu de paraquedas. Spoiler: não deu certo. Tanto não deu que não citei o nome dele, porque já não lembro mais qual é.
Pra além disso, sim, além de mutilar o elenco e deixar as disputas sem graça, temos a Erina, a personagem com o melhor arco do mangá. Shokugeki no Soma decide voltar ela para o que era no começo da história. A princesa de gelo focada na família. Mesmo que essa personagem tenha desafiado o pai que temia em nome das próprias convicções e amizades no exato arco anterior.
Saudades não sentirei
Soma já foi um mangá pelo qual nutri muito carinho. Mas a série decidiu se arrastar, e arrastar, até consumir todo o carinho que eu tinha. Digo, mesmo nesse terrível último arco, ainda tiveram lampejos de um passado feliz, com pequenas interações do elenco de apoio, renegado agora a não mais que figuração.
Saio então desse final sem sal, com mais três capítulos de epilogo prometidos, que serão publicados na GIGA e que, sinceramente, nem me darei ao trabalho de ler.
O cara que só acredita vendo, e depois acaba escrevendo para os outros acreditarem.
11 pensamentos em “A Melancolica Queda de Shokugeki no Soma”
Nossa, eu amava esse mangá. Esse ultimo arco tava tão chato que larguei ele na metade. Ainda bem que li aqui mais ou menos como foi o final, por que aí nem preciso terminar de ler.
Foi triste demais. Nem tive a coragem de voltar pra ver como foi o epílogo que saiu em outra revista. Soma acabou com aquele gosto amargo fortíssimo.
Concordo em absoluto 100% com tudo que foi dito nessa resenha. Tive exatamente a mesma sensação, em todas as passagens de arco para arco. Mas confesso que quando o pai da Erina apareceu pela 1º vez, lá no meio do arco do festival, achei incrível. Infelizmente a partir dali o a história foi caindo drasticamente(Souma x Eizan ainda conseguiu ser interessante, e Souma x Hayama, que eu tinha achado muito bom no mangá, conseguiu ficar ainda melhor no anime). A batalha contra a E10 também teve seus momentos, mesmo sendo bastante previsíveis os resultados, o arco da Central conseguiu fechar minimamente bem, considerando o arco como um todo. Já o arco final, The Blue, que deveria ser grandioso, quase como uma Eleição de Outono 2.0, foi essa porcaria de heróis x vilões, mais o suposto irmão do Souma de quem nunca ouvimos falar etc…O mangá tinha tantos caminhos a seguir, como mostrar o 2º ano do Souma, acompanhar o crescimento dos amigos, novos alunos entrando na Tootsuki, a exemplo de como está sendo Diamond no Ace(mangá de baseball que mostra de forma perfeita como mostrar a evolução do protagonista ano após ano sem se tornar repetitivo, mostrando novos desafios e metas que o herói quer alcançar. Enfim o mangá acabou, estou acompanhando o epilogo bem por cima, interesse quase zero na vindoura 4º temporada. Fica na lembrança os ótimos momentos que o mangá me proporcionou, e que sempre poderei lê-los novamente.
caralho velho, que tristeza. Como Souma conseguiu decair tanto……..
Sim, uma desgraça total
Muito bom o texto. Comecei a ler o mangá bem no comecinho também, na época eu tinha uns 15 anos. Parei de ler ele bem na metade dos capítulos. Acha que vale a pena voltar atrás e ler ele até o final?
Isso meio que depende. Se você precisa que seja uma boa experiência pra ela ter valido a pena, diria que não. Mas, se quer ver os motivos pelo qual falhou, ou como contra exemplo, ou mesmo pra escavar as partes boas, diria que vale sim.
O que mais me pesou foi o descaso do autor com personagens que vinham tendo uma boa construção, esse último vilão realmente foi cúmulo deste sentimento. Também senti o deplorável desenvolvimento da história desde a metade do arco Asami
Sim, jogou praticamente o elenco todo fora e o rival final é um nada, sem falar q eu nem coloquei no texto, mas ele meio que também repete o arco do Soma do final do arco passado pra esse. Uma bagunça
Você crê que há um padrão em shounens para finais desastrosos? Eu vi problemas parecidos com o fim de Bleach, apesar que este possui muito mais defeitos em diferentes momentos
Eu diria que histórias tem problema pra acabar de maneira geral. Acaba ficando muito complexo conseguir amarrar tudo e dar sentido, principalmente nessas narrativas gigantes e serializadas, onde o autor tem pouco espaço de planejamento de maneira geral.
Ao menos em revistas semanais