Rohan no Louvre é o Melhor Spin-off de Jojo – Review

Rohan no Louvre é um mangá spin-off de Jojo’s Bizarre Adventure. O mangá faz parte da coleção de quadrinhos do Museu do Louvre e foi lançado originalmente em 2011. Rohan no Louvre é escrito e desenhado pelo Hirohiko Araki (Stardust Cruzaders, Baoh), sendo um volume único. Foi trazido para o Brasil pela editora Pipoca e Nanquim (Preço da Desonra, Guardiões do Louvre) neste ano de 2020. Uma prévia está disponível de forma oficial no site da editora.

Sinopse: Kishibe Rohan vai ao Louvre depois de se recordar de uma antiga lenda. A lenda dizia que escondido no acervo está um quadro amaldiçoado lendário que contém a tinta preta mais escura do mundo. Mas nada nunca é fácil no universo de Jojo e, ao chegar no armazém do museu, coisas bizarras começam a acontecer.

Assim disse Kishibe Rohan

Gigantescamente maravilhoso.

A coisa que mais aprecio na, a essa altura, longa lista de contos do Rohan é o quanto o Araki se permite brincar com lendas. Por mais que eu ame Jojo, é inegável que o formato das séries principais é um tanto engessado.

Exatamente por esse motivo os contos são interessantes. Raramente a conclusão dessas histórias fechadas é uma luta. Isso permite que o Araki explore uma gama de outras regras, bizarrices e até mesmo termine com o Rohan simplesmente aceitando que tal fenômeno existe.

Isso também é possível especialmente pelo poder do Rohan ser muito fraco para combate direto, fazendo com que o personagem tivesse que bolar outras saídas mesmo quando fazia parte do elenco de Diamond is Unbreakable.

Por falar em Diamond, é importante dizer que mesmo se tratando de um personagem da série principal, não é necessário que o leitor esteja familiarizado com Jojo para ler esse spin-off. A editora fez um resumo plenamente satisfatório reunindo o que é necessário saber logo no começo da edição.

Inclusive, o momento em que outros personagens de Diamond aparecem no roteiro é um tanto quanto apressado. Aparecem por uma página, apenas para conectar o flashback a história em si, mas os diálogos soam pouco naturais, algo que uma ou duas páginas extras naquela interação poderia resolver. Ou então o corte por completo, uma vez que não faria tanta diferença para o grande esquema das coisas, principalmente pelo Araki manter o design do Rohan basicamente inalterado nos dois tempos.

Um conto macabro

Não é segredo pra ninguém o quanto de Jojo é inspirado por obras de terror. Desde a primeira parte sendo basicamente uma releitura de Drácula, até a terceira trazer um verdadeiro festival de monstros clássicos da literatura pulp

Nesse mix de eternos flertes, Rohan no Louvre é o que mais se aproxima de uma história de terror. Na verdade está mais para um relato, seguimos juntos ao Rohan durante toda a jornada. 

Como estamos vendo as coisas da perspectiva do protagonista, a história se faz valer de monólogos internos, em sua maioria bem encaixados, mesmo que um ou outro acabe redundante, mas nada muito grave.

Ainda falando no quesito de narrativa, o trabalho do Araki é sublime. Por ser uma obra de 2011, Rohan no Louvre conta com o traço mais moderno do autor. Um leitor que só acompanha pela edição da Panini da série original pode se assustar com o salto colossal entre o que era produzido nas primeiras partes e a desse volume.

Inclusive falando do volume em si, o formato gigante da edição é muito bem-vindo para realçar as pinceladas do mangaká em cada página. Chega a ser difícil ter que voltar pro formato menorzinho da publicação normal.

Rohan no Louvre ainda é inteiramente colorido. Não simplesmente colorido, mas o mangá é feito de tal forma que as cores representam muito mais do que uma tentativa de replicação do real. O flashback de um romance não correspondido é construído com cores quentes, ao passo que quanto mais o roteiro se desenvolve, mais as cores vão esfriando e escurecendo.

Uma outra escolha maravilhosa para dar sensação de profundidade é que, ao querer focar num personagem mais ao fundo da imagem, o personagem mais próximo recebe características de esboço, ficando basicamente sem cores e com traços do lápis azul, usualmente utilizado em rascunhos.

Controle narrativo

Rohan no Louvre me lembra bastante Jurassic Park. Ambos são histórias aventurescas salpicadas por momentos de cagaço, produzidas por artistas renomados no pleno uso de seus poderes.

No caso de Rohan, isso vai pra além de apenas uma arte refinada. O Araki tem pleno controle do fluxo da narrativa, quantas páginas despender para cada momento. Ao ponto que você sai da história de fato se importando com a personagem da Nanase.

Isso se dá porque o mangá passa todo o primeiro ato nos apresentando essa personagem, nós a vemos de forma quase angelical, uma vez que o próprio Rohan tem pouco ou nenhum contato prévio com o sexo oposto. A história prenuncia um romance confortável, mesmo que a Nanase nunca faça qualquer menção de ver o Rohan como nada mais que um adolescente deslumbrado.

Isso faz com que o desaparecimento repentino da mesma depois de alguns eventos levante uma bandeira de desconfiança, tanto no personagem quanto no leitor. É como uma semente discretamente plantada pelo autor, que agora possui quem estiver lendo a sua disposição completa.

Uma coisa curiosa é que recentemente li um spin-off de outra obra famosa. Mais especificamente, o one-shot novo do Death Note e é notável o abismo que existe entre a narrativa do Araki e ado Ohba. Principalmente na questão da quantidade de diálogos, que aqui estão muito bem dosados, com mais de uma dúzia de páginas lindíssimas sem texto, utilizando apenas do potencial visual dos quadrinhos para contar sua história. Algo que não acontece no trabalho do caderno da morte.

A outra parte da história é contada de forma igualmente magistral, com um grande tempo despendido para criar a tensão do que seria a tal pintura amaldiçoada. A série de passos entre o Rohan chegar no Louvre e ele ficar frente a frente com o tal quadro atiça a inerente curiosidade do leitor por algo proibido. Ao ponto em que, quando alcançamos o porão, já estamos completamente compenetrados, e a chacina tem seu início. E o Araki sabe como fazer um belo gore.

Ranhuras na bela pintura

Obviamente não seria uma review minha se eu não tivesse algo para reclamar. No caso de Rohan no Louvre, o maior problema da obra fica por conta do pós-resolução. Quando o mangá passa um enorme tempo se explicando, sobre coisas que já haviam ficado claríssimas.

Desde uma reconstituição de como o quadro atua sobre as pessoas, passando pelo motivo da Nanase ter abandonado o Rohan no passado. Tudo isso já havia sido plenamente respondido durante a narrativa mesmo, faltou confiança por parte do Araki nos seus leitores. 

Falando brevemente sobre o final, é realmente interessante como o Araki amarra toda a temática de antepassados que perpassa a história com a Nanase. Chegou bastante perto de ser apenas brega, mas é um brega charmoso.

Enfim, apesar desse último vacilo, Rohan no Louvre é um conto bastante sólido, que explora uma faceta diferente de um dos melhores mangakás em atividade no Japão. A edição do Pipoca e Nanquim está um brinco e traz a vida as lindíssimas cores que são parte intrínseca da narrativa dessa história.

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