Crítica: Hataage! Kemono Michi

Hataage! Kemono Michi é um anime da temporada de outono 2019. O anime conta com 12 episódios e é adaptação do mangá Kemono Michi, escrito por Natsume Akatsuki (Konosuba, Combatants Will Be Dispatched) e arte de Yumeuta (Baka to Test: Summon The Beast). O mangá é atualmente publicado na Shounen Ace (Nichijou, Hajimete no Gal).

A adaptação por sua vez, ficou a cargo do estúdio ENGI (estreante), com direção de Kazuya Miura (DRAMAtical Murder) e series composition de Touko Mashida (Lucky Star, Happy Sugar Life).

Hataage é um isekai de comédia, no qual um wrestler, Genzo Shibata, é enviado para outro mundo no meio de uma disputa pelo cinturão. Chegando nesse novo mundo, é pedido que ele extermine uma infestação de monstros. Ele prontamente nega, com um suplex na princesa, afinal, Genzo é um amante dos animais. O anime então se passa com as desventuras de Genzo e sua patota tentando juntar uns trocados para abrir um petshop. 

Isekai consciente 

Acho que o primeiro destaque relevante para se ter com Hataage é o quanto ele sabe jogar com o conceito de isekai. É realmente uma história que só poderia ser contada dentro do subgênero. Diferente de uns e outros que são muito mais uma perfumaria, o conceito se sustenta na diferença cultural entre alguém do nosso mundo e um bando de medievos.

Obviamente não é uma história séria, nem perto disso, mas ainda assim é interessante ver que houve um raciocínio por trás da escolha do cenário. Ainda falando de cenário, por ser uma história de comédia sem quatrocentos arcos por temporada, estranhamente Hataage se permite respirar, aclimatar. 

O espectador tem tempo de conhecer a cidade. A casinha improvisada que eles moram. A guilda de caçadores. A vila dos orcs. E ao termos esse tempo, acabamos nos conectando ao que está acontecendo por extensão. Mesmo que o plot seja (intencionalmente) esdrúxulo. 

Como paródia, Hataage também se permite não gastar uma infinidade de tempo com uma mitologia. Ela está lá, não me entenda mal, mas cede espaço para o que realmente importa brilhar: os personagens e suas interações.

 

Família tradicional brasileira

A party do Genzo é estranhamente similar a uma família padrãozinho. O pai que não quer trabalhar, uma filha, uma mãe preocupada com as contas e uma tia alcoólatra. Ah, também tem um cachorro, e uma faxineira que é uma formiga gigante. Cada família tem suas particularidades, sem julgamentos.

Mas agora falando sério, o elenco principal de Hataage é maravilhoso, talvez não isolados, mas quando interagem entre si. E o roteiro é inteligente no ponto de variar bastante as piadas para que nenhuma delas se desgastasse.

Além da variação, o roteiro se utiliza das mesmas para desenvolver os personagens, com suas respectivas piadas escalando a níveis quase questionáveis. A princesa com fetiche por ser humilhada em público que o diga. Não que Hataage chegue a cruzar a linha do bom senso, mas testa os limites do aceitável e deixa o espectador com a dúvida se deveria estar rindo daquela situação.

Momentos especialmente maravilhosos são tanto as montagens de treinamento quanto toda vez que o Genzo entra puto na guilda por chamarem ele de assassino de monstros. Inclusive os follow-ups da Shigure sempre pegando uma arma lendária “que caiu no chão” seguiram sendo hilários até o final do anime.

E no meio de tantas piadas o anime tem até espaço para entregar um momento bonito entre a vampira alcoólatra Carmilla e sua mestra, a dragão glutona Hanako. Uma reclamação no entanto é a Shigure ser jogada um tanto de escanteio durante toda a série.

Sinais de um estúdio desconhecido

A parte técnica de Hataage é operante nos melhores momentos, triste nos piores. Não chega a te tirar da experiência, mas não ajuda a elevá-la.

A trilha é absolutamente esquecível, com uma abertura medíocre e um encerramento passável. O trabalho de vozes ao menos é bem realizado.

Mesmo sendo uma série de comédia, ainda possui inúmeras cenas de ação. Essas cenas tem seus momentos, mas na maior parte do tempo são compostas de imagens estáticas e movimentações travadas.

Quanto a composição de cenas não existe muito a ser comentado. Com exceção de uma tomada da Hanako contra a lua, de resto, o esperado e nada mais. A direção realmente parece operar no automático e se apoiar no texto forte do mangá, uma pena.

Tudo isso no final demonstra os sinais de como o Engi é um estúdio novato, e o diretor, Kazuya Miura, ainda está em seu segundo trabalho. Ao menos o roteiro se segura por si só, e fecha muito bem basicamente todas as pontas levantadas ao longo da temporada.

Um maravilhoso nota 7

Hataage não vai ser memorável, um marco de seu gênero nem mudar sua vida. Mas é um trabalho sólido e divertido para se aproveitar num domingo à tarde nesse fim de ano. Abra sua cerveja barata, sente confortavelmente, e veja o poder do Wrestling salvar um mundo medieval genérico.

E lembre-se, ame os animais, se não quiser tomar um suplex do Kemono Mask.

Deixe uma resposta

2 pensamentos em “Crítica: Hataage! Kemono Michi”