Seeds, vencedor do Silent Manga Audition Extra 1

Se você acompanha mais de perto a mídia dos mangás, é possível que já tenha se deparado com um tal de Silent Manga Audition. Principalmente depois do Ichirou, um brasileiro do interior de SP ter ganhado a segunda e terceira edição (com Father’s Gift e Homesick Alien, respectivamente). Mas o mangá desse texto não é nenhum deles, e sim Seeds escrito pelo chileno JIM e vencedor do Extra Round do ano passado (uma espécie de quinta edição e meio).

Explicando um pouco melhor,  Silent Manga Audition é uma premiação na qual concorrem mangás mudos (meio óbvio pelo nome) sem restrição de países. O concurso da vez tinha como tema “Sakura + continue sorrindo ou retorne o favor” e era preciso fazer uma história entre 10 à 20 páginas. Dito isso, é uma história muito curta, então qualquer coisa que eu falar vai acabar estragando, por isso fica o convite para ler Seeds aqui.

Agora falando sobre a obra em si, Seeds tem um roteiro bastante simples. É basicamente uma ideia, como ocorre com muitos one shots por aí. Por isso seu brilhantismo vem mais da narrativa que de suas possíveis viradas. Você já sabe o que vai acontecer no exato momento em que a garota “fala” que já está crescida para a avó e as duas acabam brigando e por isso eu não focarei no roteiro.

A primeira coisa que eu queria falar sobre Seeds é o quão acertado é o estilo de arte do autor. Esse visual mais cartunesco auxilia muito na transmissão dos sentimentos das personagens (não atoa, afinal o estilo “cartunesco” era utilizado, principalmente no começo das animações, em obras apenas com trilha, como é o caso da primeira aparição do Mickey em 1928). Dito isso, muitas pessoas podem surgir com o preconceito de que “isso não é mangá” pelo estilo de arte ou nacionalidade do JIM, MAS acho que é bem claro que se trata sim de um mangá.Isso se dá pelo pacing e quadrinização características da mídia, mangás tendem a apresentar vários quadros pra representar uma mesma ação, potencialmente mais descomprimidos que uma HQ. Isso faz com que uma HQ de 100pgs contenha bem mais “história” que um mangá em 100pgs, dando um traço característico a esse estilo de quadrinho.

Mas voltando a Seeds, eu acho muito interessante como, por causa da limitação de não usarem diálogos, a conversa que também é um flashback acaba sendo, na verdade, uma sequência de quadros, ficando esteticamente bonito enquanto poupa páginas.

Quanto a personagem da neta e a relação entre as duas, é tudo bastante rico. Se estabelece muito bem que as duas se gostam (apesar de a pré adolescência impedir a garota de dizer isso pra vó), então, quando acontece a perda (ainda que óbvia), o leitor sente.  É uma longa cena desde a queda da vó, até a garota chegar a ela e descobrirmos que a senhorinha não sobreviveu. A quadrinização nessa parte é perfeita, principalmente com o toque de espaçar bem o último quadro dela encontrando a avó pro quadro do hospital e depois o último quadro do hospital pro túmulo, dando a ideia de passagem de tempo.

Outros efeitos visuais interessantes são quando ela recebe a notícia da morte da avó e cai em desespero (representado por aguá sendo remexida, como se ela estivesse se afogando em emoções ruins) e a transição pro flashback ser feita através da árvore, o elemento que conectava elas no passado, causou a última briga delas no presente e vai ser o elo delas daqui pra frente, algo realmente muito bem pensado.

Seeds é um deslumbre de quadrinização e uma obra bem diferente do que se vê por aí (ao menos no como, não necessariamente no o que), assim como os outros vencedores do Silent Manga Audition e eu realmente acho que essa premiação merece mais carinho e atenção do que recebe.

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