Animes e mangás podem ser politizados e questionados

 

Em 2018, escrevi um texto sobre Goblin Slayer e sua problemática no primeiro episódio, e como a política na cultura otaku é um fato e não é errado você problematizar questões políticas e problemáticas numa obra, pois toda arte é política em algum grau. Recebi todo tipo de feedback, mas senti que passei a mensagem que queria com o texto.

Bem, a pouco tempo meu amigo Gabriel Guerrero, membro desse site, lixeiro semi profissional e maior filtro de ódio do Quadro x Quadro escreveu uma análise de Tate no Yuusha. O post estourou, centenas de pessoas comentaram. Até ai, tudo bem, mas acabei vendo bastante comentários reclamando especificamente da problematização que o texto faz em relação a misoginia. Não da forma com que o texto abordava o tema, mas incomodadas com o fato de alguém ter tocado num assunto político.

Nunca consumi Tate no Yuusha, então não falarei dele.

Na verdade, eu quero falar sobre como política em anime, mangá, jogos e qualquer tipo de arte é um fato.

Nenhuma obra nasceu do vácuo. A arte é criada por pessoas que possuem uma visão de mundo, e inevitavelmente elas irão inseri-las em seus trabalhos. Por mais que você não tenha a intenção de passar alguma mensagem especifica ao escrever uma obra, alguma mensagem será passada. Você não precisa procurar uma mensagem política em toda obra que consome. Ninguém faz isso.

Eu não leio Jojo’s Bizarre Adventure pensando em nenhum tipo de questão política, por exemplo.

Isso não significa que caso alguém faça, ela está errada e eu esteja certo ou vice versa.

Cada pessoa tem uma forma diferente para consumir determinada obra. Algumas formas podem conflitar com a sua, mas isso não invalida a experiencia do outro. Você pode assistir Godzilla e pensar apenas nos kaijus se batendo, mas não precisa invalidar quem fala sobre todo o contexto pós guerra no japão que originou a obra. Você pode assistir Gundam pensando só em robôs gigantes se batendo, mas se quiser pode pensar em toda a carga anti guerra que o anime trouxe.

Claro, algumas coisas são mais explicitas que outras, mas toda obra tem uma mensagem que pode ser interpretada de várias maneiras, e quando pessoas discutem as mensagens que encontram,  a obra pode engrandecer.

 

As vezes o contexto político de uma obra é conflitante

Muitas vezes ver alguém apontando que algo que você gosta é problemático incomoda. Talvez você tenha a sensação de que seu gosto seja invalidado de certa forma quando citam que aquele desenho que você tem tanto carinho é machista pra caralho.

A verdade é que pouca gente está acostumada a ter seus gostos questionados, e isso é preocupante.

Quando você não aceita outros pontos de vista, você não aprende mais sobre o mundo nem sobre si mesmo. Você não é obrigado a enxergar problema em algo, mas ao ouvir a pessoa que enxergou, talvez faça você enxergar novas coisas.

Não tenha medo de ser questionado

O maior ponto do texto é querer convidar as pessoas a questionarem mais o próprio gosto. Não porque eu tenha um gosto superior ou algo do tipo. Só fiquei legitimamente incomodado com tanta gente que se irrita quando problematizam algo que elas gostam.

Você não precisa concordar com problematização nenhuma, mas se abrir para um ponto de vista conflitante com o seu pode te acrescentar mais do que imagina.

Eu não sei se consegui ser claro onde quero chegar, mas precisava desabafar de alguma forma.

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