Your Name é…bonito

Eis que, mais de um ano depois do lançamento de Your Name eu assisti ao filme, e ele é bonito, mas não muito mais que isso pra falar a real. Importante avisar que esse texto com SPOILERS e vai parecer mais negativo que positivo, se quiser opiniões diferentes (e provavelmente corretas) pode ouvir o nosso podcast dos melhores e piores de 2016, ou provavelmente qualquer outro lugar da internet a essa altura.

Mas chega de yada yada e vamos ao que eu achei do filme. Como eu disse ele é bonito, um bonito bastante plástico inclusive, mas não é o ápice visual do diretor, esse posto ficando com Jardim das Palavras (filme anterior do Makoto Shinkai), tão pouco é um filme estilizado por essência (com exceção da melhor cena do filme) e possui um problema meio esquisito. A paleta de cores de Tokyo e da cidade do interior não se contrastam o suficiente.

Isso acontece porque a metrópole japonesa é muito bucólica, deixando a sensação que a diferença entre uma e outra é a existência de cafés, trânsito não tão intenso e prédios. Isso é um tanto estranho quando o trabalho de caracterização do quarto dos protagonistas é feito de maneira tão melhor do que isso, passando desde detalhes até coisas mais óbvias como a cama de um ser ocidental, representando a modernidade, enquanto a da outra é um futon, representando a tradição.

Mas se fosse apenas uma questão visual, seria passável, mas as coisas se agravam quando olhamos pros dois personagens importantes desse filme, o Taki e a Mitsuha. Nenhum dos dois possui um arco completo durante a obra.

Começando pelo Taki, como ele era antes da troca começar, porque a única coisa que temos é uma fala da Miki de que ele mudou muito, mas não temos o antes para conseguirmos ver a mudança que ele passou.

Agora falando da Mitsuha, a garota é apresentada como alguém que odeia a cidade grande, que é obrigada a fazer coisas por serem tradicionais e foi abandonada pelo pai depois da morte da mãe. Ótimo, temos o antes, e é muito importante notar a figura do pai, que é reiterado pelo menos 3 vezes como sendo alguém um tanto escroto e inflexível. Então chega o final do filme, o momento catártico da protagonista, o momento em que ela vai negar tudo em prol dos seus ideais, enfrentar a figura paterna, enfrentar a “lei natural da tradição” e…NÓS NÃO TEMOS ESSA CENA!!!

Falando agora um pouquinho da parte estrutural para depois irmos pro roteiro per se, esse filme é estranho. Essa estranheza vem por dois motivos principais: uma abertura e uma repetição de ferramenta mais do que deveria.

A primeira acontece em alguns animes diferentes, mas eu nunca tinha visto uma abertura tão abertura de série, ela é completamente cortável do filme sem perda alguma, além de ser um tanto estranha e mostrar mais do que devia.

A segunda vem da repetição do recurso de montagem com música, sério, esse recurso é usado três vezes no filme, parece algo vindo do Zack Snyder, uma delas inclusive estando no epílogo e sendo bastante desnecessária.

Quanto ao roteiro, ele tem alguns problemas, e eu nem estou falando da ausência de uma explicação para a troca de corpos, deles conseguirem se ver em tempos diferentes ou da pulseira/prendedor existir em dois lugares ao mesmo tempo durante três anos, eu aceito tudo isso como magia, mas o problemas vêm de outro lugar.

Primeiramente, vamos falar do twist da diferença de tempo, algo que eu gostei muito enquanto eu assistia ao filme, mas ao pensar um pouco sobre eu notei que ele faz pouco ou nenhum sentido.

A diferença de tempo é de três anos e apenas três anos, não três anos e três meses ou vinte anos, mas três anos. Isso não é tempo suficiente para uma catástrofe da magnitude de um meteoro cair no seu país ser simplesmente esquecido.

Seria até argumentável que ele não ouviu, enquanto no corpo dela, nada sobre o meteoro, isso seria até possível, se em todos os momentos que a televisão é ligada não estivesse acontecendo uma reportagem sobre o evento cósmico, era um evento muito relevante para aqueles personagens pro protagonista simplesmente não notar. Como prova da importância do ocorrido, quando mais cinco anos se passam, ainda existe um outdoor com a imagem de satélite da queda do meteoro na cidade.

Outro problema (esse talvez mais nitpicking da minha parte) é o epílogo, depois de cortar abruptamente me deixando sem o sabor da catarse da personagem interessante do filme, temos um longo momento de mostrar como o Take não conseguiu seguir em frente, sentindo que falta algo e buscando a Mitsuha por todos os lugares inconscientemente. Acho interessante enquanto ideia, mas é um tanto longo demais e acaba mais “por favor chorem” do que eu gostaria, principalmente porque ele teve a chance de acabar de maneira mais elegante durante a cena da ponte. O fim na ponte precisaria de uma leve mudançazinha, focaria no Take, ele viraria pra trás, sem mostrar quem ele tava olhando, mostraria ele sorrindo (em lágrimas ou não) e cortaria pros créditos.

Esses são basicamente os meus sentimentos sobre Your name, um filme que eu entendo o motivo das pessoas gostarem, mas eu não consigo partilhar deles, mas que certamente é mais ovacionado do que merecia.

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