Danganronpa V3 não é sobre encarar a verdade, mas sobre compreender a mentira.

Danganronpa V3: Killing Harmony é possivelmente o ultimo jogo da série Danganronpa.  Danganronpa é uma série de jogos (que se estendeu em light novels, mangás e anime posteriormente) criada por Kazukata Kodaka. O jogo mistura elementos de outras franquias como Ace Attorney e Zero escape, possui uma identidade visual bem única e tem personagens extremamente carismáticos.

A questão é que a série começou a andar por um caminho que me deixou muito curioso. A historia que estava sendo contada nos dois primeiros jogos foi concluída por dois animes que… Digamos que quanto mais eu penso neles, mais desgosto eu sinto. Mas além dos animes, foi anunciado mais um jogo da franquia: New Danganronpa V3, propondo contar um novo arco. O novo jogo não tinha intenção de abordar coisas estabelecidas anteriormente, seria uma nova historia.

O jogo lançou no Japão, mas muitos fãs ao jogarem, questionaram a qualidade do jogo. Os questionamentos foram devido a direção tomada pela historia e um final um tanto polêmico. Na época, não pesquisei sobre essas opiniões divididas, esperei o jogo sair no ocidente para jogar por conta própria. Faz uma semana que o jogo saiu no ocidente, e após finalizá-lo, acredito que foi o melhor jogo da série com o melhor final da franquia.

A partir deste parágrafo, irei discutir temas diretamente relacionados com o final de Danganronpa V3, caso não tenha jogado e não queira receber nenhum spoiler, pare de ler a partir daqui. Danganronpa V3 é um ótimo jogo e merece ser jogado por conta própria.

Perto dos momentos finais do jogo, os personagens lembram de várias coisas que conectam com eventos dos dois primeiros jogos.  A discussão sobre esperança VS desespero que tinha sido deixada de lado no jogo, volta com toda força. Naquele momento me decepcionei um pouco, pois queria ver um jogo com seus próprios pilares, e não algo dependente de seu antecessor. Mas tudo valeu a pena graças ao final.

Ao fim do jogo, descobrimos que as memórias dos personagens foram inventadas e o Killing game é um reality show  baseado em Danganronpa, uma série de jogos e anime. Os personagens descobrem que eles mesmos pediram para participar da nova temporada de Danganronpa, um programa que consiste em colocar 16 estudantes para participarem de um Battle Royale com as regras dos jogos anteriores da série

Toda a estrutura do final aparenta ser a mesma de todo Danganronpa, com um discurso esperançoso e tudo mais. Mas o jogo quebra sua expectativa e faz o jogo brilhar.

Provavelmente se eu só ouvisse falar desse final e não visse como ele foi construido, acharia tudo uma bosta. Mas essa loucura metalinguística veio ao lado de uma mensagem maravilhosa.

Mesmo descobrindo que tudo que eles acreditavam era uma mentira, os sentimentos vividos, os momentos de luto, foram reais.  Não importa qual a verdade do passado deles, as experiencias que eles vivem agora, é real. Essa resolução se reflete com a decisão final dos protagonistas.

Saiahara convence o grupo a rejeitar todo o conceito de esperança e desespero, pois abraçar esses conceitos é o que os fãs de Danganronpa desejam, e isso incentivaria um novo Danganronpa.  A solução, foi simplesmente parar de jogar, não votar num culpado e não fazer mais nada como forma de protesto. No começo do jogo, foi deixado claro que quem não participasse do jogo, seria punido com a morte. Isso não impediu o grupo de realizarem seus protestos, pois estavam dispostos a sacrificarem suas vidas. Este ato simboliza que por mais que eles sejam “fictícios”, havia vontade real ali, e atos dentro da ficção podem afetar a realidade.

O final de Danganronpa V3 tem lacunas abertas, mas a mensagem que o jogo quis passar é muito mais importante do que qualquer lacuna aberta, porque elas não precisam ser fechadas.

Aliás, ninguém garante que tudo o que descobrimos no final é verdade ou mentira, mas isso não importa.

A mensagem final não fica presa apenas em Danganronpa, ela reflete  todas obras fictícias que você consumiu na vida. Obras fictícias podem emocionar, e mesmo sendo falsas, foram feitas por alguém real que quis passar uma mensagem, que de alguma forma é verdadeira . Todos os personagens mesmo sendo apenas “fictícios”, foram muito reais para nós, nos emocionaram de verdade. Não importa se a vida deles foi uma mentira, suas atitudes e suas crenças foram reais.

Isso se estende a vida real. Mentiras que você ouve e conta por ai, foram contadas por uma razão. Talvez a mensagem que quis ser passada com uma mentira deva ser levada em consideração.

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