Temporada de Primavera 2017: A Torre de Sal do Guerrero Pt.2

E depois de (não) muito tempo, estamos de volta com esse experimento (quase suicida) de ver todas as estréias da Temporada de Primavera 2017. Parte 1

Clockwork Planet é um anime com estética clockpunk (isso existe, segundo o TV tropes), baseado na light novel homônima escrita por Yuu Kamiya (No Game No Life). É engraçado pensar em retrocesso e ver que, eu estava apostando nesse aqui. Um mundo diferente e um poster bonito (sim, tudo que eu sabia) fizeram dele um anime promissor. MAS, eis que, assistindo ao primeiro episódio, tudo muda.

Clockwork Planet sofre de um problema de coerência, o protagonista afirma que não consegue consertar um relógio,
mas na cena seguinte está consertando a máquina mais complexa do mundo do anime. Nessa mesma cena, ocorre uma tentativa de se criar a tensão de que se ele falhar ela ficará irreparável, sendo que o anime abre com um fast foward dela em combate.

Além disso, o anime apela, mais que devia, pra tropes fáceis. A tsundere que vai ser parceira do protagonista. A personagem que obedece ao protagonista tem um design COINCIDENTEMENTE parecido com o de uma empregada (gótica, mas ainda empregada). Ainda na aba das coincidências, o “caixão” em que a empregótica estava caiu coincidentemente na oficina dele, e ele coincidentemente sabia quanto tempo levaria pro prédio desabar, que coincidentemente foi quando ele terminou o conserto.

Agora, vamos falar do ecchi, que está aqui claramente só pra vender mais, desde o fato de que pra consertá-la é necessário remover a roupa (sério, e nem tira como uma camisa, a roupa simplesmente desliza e os peitos saltam, pra depois a barriga abrir e mostrar o maquinário), até a forma em que eles formam o contrato (com ela chupando o dedo dele em uma cena em que até o jogo de luzes muda pra “entrar melhor no clima”). É um ecchi puramente mercadológico.

Clockwork Planet é uma história com algum potencial, mas esse potencial acaba soterrado por personagens sem sal, lugar comum e fanservice exacerbado. Um ótimo exemplo de como não fazer uma obra popular.

Sakura Quest é o novo anime original da PA Works (Shirobako, Another), e conta uma história de coming of age. No anime uma garota que acabou de se formar na faculdade (Yoshino) e acaba aceitando um bico no interior devido a falta de oportunidades na cidade grande. O grande twist é que ela achava que seria o trabalho de um dia, quando na verdade durará um ano inteiro.

A partir daí já dá pra sacar qual é a de Sakura Quest, uma garota fútil da cidade, imatura e que se acha super especial, vai para uma cidadezinha do campo onde acaba amadurecendo e pegando gosto pelo ambiente. Uma premissa bastante batida, que faz com que a qualidade de Sakura Quest dependa, quase que exclusivamente, do desenvolvimento dos personagens e do elenco de apoio, algo que não dá pra se ter muitas conclusões no primeiro capítulo.

Dito isso, eu gostei do clima desse primeiro episódio, e fiquei até surpreso. Quando vi o poster achei que Sakura Quest tentaria apenas mimicar o que foi Shirobako, mas o anime apresenta uma identidade própria (apesar de certa semelhança em tom e “feeling”).

Agora duas reclamações, a primeira é que ela já ter visitado aquela cidade é meio forçado (jura mesmo que de todas as cidadezinhas do Japão, a que chama ela por acidente é JUSTAMENTE aquela que ela visitou quando mais nova?) e a outra não é reclamação, é mais o comentário que eu não consigo gostar desse estilo de traço pro character design, mas fora isso, começou muito bem.

Rokudenashi Majutsu Koushi to Akashic Records por outro lado, começa péssimo. Toneladas de exposição sobre o mundo da maneira mais inorgânica. Uniformes escolares com um estilo “peculiar” (AKA pra fanservice).

Fora esses problemas, o pacing do anime ta todo errado, as cenas vão se amontoando de maneira muito acelerada prejudicando a construção da narrativa. E é engraçado que embora acelerado ele é chato demais, isso acontece pela já citada exposição (eu já falei que tem exposição pra caralho nesse anime?), a cada 3 cenas, 1 vai botar pelo menos um diálogo expositivo.

Falando sobre o plot em si, esse anime conta a história de um sala de aula que tem um professor substituto excêntrico, mas sério, se você tá procurando algo nessa pegada, Assassination Classroom e GTO são exemplos RIDICULAMENTE melhores que isso aqui.

Além disso, é claro que teríamos uma cena com as meninas trocando de roupa e se apalpando, afinal, não é assim que acontece sempre na vida real? (destaque pro fato da cena durar 20s e estar tenuamente na aba ecchi e não na hentai).

Por último, mas não menos importante, temos o character design horroroso desse anime, quando ele não é lugar comum ele falha miseravelmente. Como exemplo disso temos a (eu acho que) principal, com esse laço verde que não combina com nada do resto do visual dela e é horroroso por si só. Outras personagens que aparecem aqui e ali sofrem do mesmo mal, isso porque o uniforme feminino já é tão carregado, que os acessórios de cabelo tem que ser mais discretos, se não fica uma bosta, como ficou…mas até que combina com o resto.

Sakurada Reset é um bom exemplo da diferença entre ideia e execução. Anime da David Productions (JOOOJOOO), baseado na light novel de Yukata Kouno. Essa diferença vem pelo fato da premissa ser bastante interessante, uma cidade em que metade das pessoas tem poderes especiais, mas essas pessoas só lembram dos poderes enquanto estão na cidade.

Só que temos o twist, Sakurada Reset é embalado do jeito mais sem graça possível. Tudo começa pelo character design totalmente sem inspiração, algo que até seria perdoável em um slice of life escolar, pra facilitar a conexão do leitor com os protagonistas. Mas em um setting como o desse anime, não importa o quão o design seja apagado, não existirá uma identificação por parte do leitor no sentido de “poderia ser eu no lugar dele”, fazendo do design só ruim.

Junto a isso temos a construção de cenas, no geral péssimas. Mais de uma vez no primeiro episódio temos takes pegando os dois personagens parados com os braços esticados pra baixo feito dois bonecos conversando, algumas das conversas um tanto inorgânicas e outras um tanto expositivas (a garota estóica que “volta no tempo” é basicamente a fonte dos diálogos expositivos).

No quesito mais de roteiro, temos o problema lógico de “como ela sabe que consegue voltar no tempo?”, quero dizer, ela estabelece que quando usa os poderes TODO MUNDO (menos o protagonista) se esquece do que aconteceu, então como ela tem certeza da existência desse poder?

Sem falar que, se literalmente todo mundo esquece que ela voltou no tempo, isso seria o mesmo que não voltar, uma vez que nenhuma escolha feita pelas pessoas vai mudar. Então parabéns por ter o poder mais específico da cidade, que só vai funcionar em contato com o protagonista.

Enfim, existe a possibilidade de se ter bons personagens em Sakurada Reset, mas o primeiro episódio foi embalado de um jeito tão merda, que eu mal aguentei terminá-lo, o que mostra que as vezes o “COMO” é muito mais importante que o “O QUE”.

Re:Creators é um anime original do direção do Ei Aoki (Aldonoah.Zero, Fate/Zero) e produzido pelo estúdio TROYCA. O conceito por trás do roteiro é que seres das mídias podem ser summonados para o mundo real através de mestres, e nós acompanhamos, obviamente, um desses metres.

Esse anime é um daqueles complicados, quando você olha para o primeiro episódio de maneira isolada, é um bom episódio. Mas é um caso em que vai depender do resto da série. O character design sem graça, é justificado por serem obras populares. O protagonista qualquer coisa serve pra ser mais fácil a identificação (na verdade esse ponto me incomoda um pouco).

Dito isso, Re:Creators é uma obra que acabou de ser arremessada de um precipício, a partir de agora, ou ele voa, ou ele encontra o chão. Animes mais metalinguísticos tendem a serem amados ou odiados, afinal quem é você pra pagar de intelectual e ser tão raso quanto o resto? Entre o genial e o pretensioso só existe uma divisão de qualidade.

O problema maior, pra mim, nesse episódio, não foi o episódio em si. O pacing tá certinho, o conceito e os protagonistas são apresentados. Ele é conceitualmente interessante. Mas ele ainda é feito pelo diretor de Aldonoah (aquela coisa horrorosa), o que me impediu de realmente me empolgar com o anime. Outro problema horrível é a cena em primeira pessoa, por diversos motivos, dentre eles:  1-Quando se usa óculos, geralmente você não está vendo o óculos; 2-Se você usa óculos, o embaçado deveria ser onde não tem lente, e não o contrário. Eu sei que esse tipo de reclamação pode parecer besta, mas enfatiza que não existe assim tanto cuidado com os detalhes da construção de cenas.

Enfim, Re:Creators é um anime que eu recomendo esperar surgir algum ranzinza (que nem eu) avisar que AGORA VAI, pra começar a assistir, sempre bom evitar o novo Aldonoah.

 

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