Shingeki no Kyojin, quando mistérios se sobrepõem à narrativa

Shingeki no Kyojin é um daqueles mangás (ou animes) que explodiram nos últimos anos, trazendo uma gama nova de pessoas para a mídia e deve ser parabenizado por seus feitos. Mas não vim aqui hoje falar bem da obra do Hajime Isayama, então fica o aviso, esse texto contém spoilers até o capítulo 90 do mangá.

Shingeki começou sua publicação em 2009 na Bessatsu Shounen Magazine (mesma revista de Aku no Hana, Koe no Katachi o one shot e Arslan Senki), e se mantém em publicação até hoje, sendo um mangá mensal.

Importante falar também que esse texto não é uma review (afinal é uma obra em andamento) e eu não vou me focar na incostante arte ou no preguiçoso enquadramento do Isayama. Aqui eu falarei sobre o roteiro somente.

Attack on Titan eu tenho que parar de ficar usando nomes diferentes pra mesma coisa é uma obra quase totalmente Plot Driven (obras focadas no roteiro e não em personagens, como Death Note) uma vez que a construção de personagens é simplesmente péssima.

Como exemplo disso, vamos pegar o trio principal da série: Mikasa, Armin e Levi, e comparar como foram apresentados e como estão agora;

Mikasa foi apresentada como uma personagem um tanto fria, super poderosa, que queria proteger o Eren e meio que se importava com o Armin. Atualmente Mikasa é uma personagem um tanto fria, super poderosa, que quer proteger o Eren e se importa com o Armin.

Armin era um personagem muito inteligente, com pouca força física, curioso, pensava fora da caixa, confiava nos amigos, mas tinha dúvidas sobre a própria capacidade. Agora Armin é um personagem muito inteligente, com pouca força física (exceto quando vira titã, mas…né, power up não é evolução de personagem), pensa fora da caixa, confia nos amigos e tem dúvidas sobre a própria capacidade…acho que já deixei claro o meu ponto quanto a ausência de arcos de personagens.

Estabelecido qual o estilo que a série mais se encaixa, vamos olhar aos objetivos até aqui: nos é apresentado, logo no começo da série, o momento no qual Eren vê sua mãe ser devorada por um Gigante, amaldiçoa a própria fraqueza e decide se vingar de todos os monstros exterminando-os, em uma cena consideravelmente bem construída, então ele se torna um híbrido de gigante e humano, algo que poderia ser bem melhor trabalhado internamente pelo personagem do que é, afinal ele havia se tornado aquilo que jurou exterminar….mas enfim, um pouco depois disso é estabelecido o objetivo inicial da série, chegar ao porão do Eren e descobrir a verdade, algo que como em qualquer bom roteiro ressoa com o protagonista, pra alcançar o porão ele teria que matar Titãs, seu objetivo e a coisa com a qual o leitor está dramaticamente ligado.

Os problemas começam quando surge um arco de revolução, arco esse que tem tão pouca conexão com o protagonista e por consequência da ausência de personagens bem escritos com o leitor que o Eren vira uma donzela indefesa por quase todo o arco (o que já é uma repetição de plot).

Mas, como a revolução é em prol da sobrevivência da humanidade, e ainda está (apesar de tortamente) conectada aos titãs, da pra aceitar que era um passo necessário para alcançar o objetivo do Eren na real é só o autor esticando o mangá pra conseguir dinheiro extra, mas vamos fingir que não E ENTÃO CHEGAMOS A CEREJA DO BOLO!!

Finalmente vemos a verdade do mundo e descobrimos que eles estão lá por serem cuzões ou não e terem escravizado o resto da humanidade ou salvado e o poder é passado por todos daquele povo aparentemente de maneira mágica, ou seja, meias respostas por todo lado, afinal temos que manter o leitor engajado e comprando.

E qual o motivo de ter que utilizar meias verdades? E é bem simples na real, a história já acabou (e da PIOR MANEIRA POSSÍVEL) e o que vem depois não fez o menor esforço de conectar com a história anterior…mas vamos por partes.

Primeiro vamos falar sobre os reais vilões: nazistas? Sério? Tinha como construir mais porcamente e de maneira corrida? Tipo, utilizar nazistas é uma técnica um tanto barata pra estabelecer que alguém é mal, afinal hey, todos sabemos o quanto os reais eram, então só traçar um paralelo aqui e…temos vilões que o leitor já odeia, simples e fácil.

Agora falando sobre como a história acabou. No começo do texto eu estabeleci o objetivo do Eren e, por consequência, da história, ele quer exterminar os titãs, e ele consegue, em um quadro numa página de time-skip.

Ou seja, as criaturas que davam problema e quase levaram aquele povo a extinção, foram exterminadas em questão de 1 ano, por um exército totalmente debilitado (devido a recente revolução + total destruição da Tropa de Exploração), sem perdas significativas, e isso é um problema em tantos sentidos, a começar pela ”construção” do Armin que no mesmo capítulo se questiona em ter sido escolhido no lugar do Erwin. Com o extermínio dos titãs, você acaba por estabelecer que o Erwin era um incompetente, e que o Levi é muito mais capaz, logo, tanto faz se quem voltou foi o Armin ou o Erwin, nosso grande salvador daria um jeito de qualquer maneira.

Outro problema nesse quesito é o Eren, que odiava os titãs, e tinha como objetivo seu extermínio, mas agora…qual o objetivo dele? Enfrentar os nazis? Nem houve construção dramática pra isso, nem houve um encerramento, maneira digna, pro objetivo anterior (ele vê o que poderia ser o último titã…e não se importa), em outras palavras, o objetivo do Eren não importa, ele não importa, afinal, o Levi é muito mais popular, rende muito mais dinheiro prova disso é o spin-off em que ele é protagonista.

Pra traçar um paralelo de quanto isso é ruim, peguemos One Piece, o objetivo do Luffy é conseguir o One Piece, que se localiza em Laftel, no meio disso tudo temos o mistério do século perdido que envolve os D’s (a quem o Luffy faz parte). Então imaginem o cenário em que eles encontram o Ryo Ponegliph (artefato que guarda a verdadeira história, e objetivo da Robin) algumas ilhas antes de Laftel, nele está escrito que a marinha praticou genocídio dos D’s, que protetores da humanidade. Nesse ponto rola um time skip de um ano em que aparece escrito: “então Luffy chegou à Laftel e encontrou o One Piece”. Viramos a página e ele está indo enfrentar a Marinha.

Com isso, é fácil estabelecer muitas coisas, Shingeki no Kiojin não possui nem mesmo um roteiro bom mais, sobrando coisas como…já estou aqui, então vamos terminar, como seu único ponto positivo. Eren se estabelece com um dos piores protagonista dos mangás shounen, ao lado de exemplos excelentes, como Ichigo (Bleach) e Tsuna (Kateikyoushi Hitman Reborn!). Alta probabilidade dos outros membros do esquadrão de exploração ganharão poderes de titã.

Enfim, continuar lendo Shingeki vai ser divertido. Será um exercício pra ver até onde ele vai se afundar. Pra ver quanto mais os personagens vão ficar indistinguíveis. Por fim, um teste de quanto tempo vai levar para as pessoas perceberem que Sword Art Online não foi a última explosão de uma péssima obra.

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